quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A renovação do novo - Cidadão Instigado



Quando surgiu, o grupo CSNZ causou uma revolução na cena musical brasileira como não se via desde a Tropicália, devido em grande parte à genialidade (para mim, comparável a de Jorge Ben e Gilberto Gil) do Chico Science, que conseguia fazer letras que unia politica e poesia (esta que falta ao Mundo Livre, por exemplo), além de conseguir fazer a fusão regional e cosmopolita pelo ritmo e tom imprimidos às letras e de ser de longe o melhor cantor do manguebeat, um intérprete explêndido.

Depois da morte de Chico, o movimento modificou-se e expandiu. O próprio Nação tomou consciência que não poderia continuar fazendo o mesmo trabalho e deu uma guinada no seu estilo. Acertaram. Apesar de deixarem de ser revolucionários - o seu novo tipo de som se encaixa muito mais facilmente no estilo 'pop rock intimista com climinha' que está atolando o cenário mundial - eles continuam sendo a grande banda do movimento, sem tentar ser cover de si próprios... o que teria um resultado desastroso, pois para tanto, é preciso ter um gênio como Gil ou Chico.

A prova de que esta fusão é muito difícil de ser alcançada, é que os grupos posteriores (com excessões) abandonaram a empreitada. Alguns se voltaram para o 'regional' mais puro, estilizado ou não (Comadre Fulozinha, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado), outros se voltaram mais para um som mais intimista, pontuado ou não com ritmos nordestinos, e fazendo referência (o que é diferente de fazer uma mistura de fato) a estilos diversos, do samba ao beach, mais influenciados por Mundo Livre - inclusive no vocal desafinado, que as vezes funciona, outras não - não basta desafinar, tem de saber usar essa característica no interior da estrutura musical de forma expressiva, vide Tom Zé, e o mestre maior, João Gilberto. É o caso do Mombojó, Eddie, Bonsusseso... Outros ainda resolveram misturar tudo isso em bases eletrônicas diversas, como um certo Nação fez no disco amarelo, pra mim, o melhor pós Chico.

De fato, a mistura regional\cosmopolita é por esses novos grupos encarados de forma diversa, não como uma necessidade de fazer um significar o outro - como o CSNZ ou o Tropicalismo antes dele, em outra linha- mas antes como uma liberdade de usar livremente ora um, ora outro. E apesar de ser ainda desse movimento que sai os grupos mais interessantes do Brasil, porque são obrigados a arriscar (curiosamente, é o mercado que os obriga a serem origianais e novos a cada disco - isso porque a nova linguagem inaugurada pelos Los Hermanos ainda não rendeu frutos relevantes, e talvez seja melhor assim) é certo que nenhum grupo desde a primeira geração havia me chamado a atençao como algo realmente novo.

O paradoxo é que apesar dos grupos produzirem misturas interessantes, era como se nós já soubéssemos quais seriam os ingredientes - uma pitada de regionalismo, samba, rock, música eletrônica. E nada também parecia ser tão visceral como o Nação, seja pela inferioridade das letras e dos intérpretes, seja pelo abandono da linha funk, que misturados à batucada fazia a revolução musical dos negros americanos reencontrarem suas origens, com resultados quase ritualísticos. Todos os grupos acabam soando algo morno, mpb. Não que não fossem bons, mas nada extraordinário e/ou marcante.

Até que eu conheci esse grupo, que é mais recente, o Cidadão Instigado. Ele também pega os vários estilos e se utiliza ora de um, ora de outro, muito mais do que tentar fundi-los. Até aí, nada de novo. Mas o conjunto de referências que ele utiliza segue um paradigma novo... Amado Batista com Frank Zappa? Isso com o vocal mais desafinado e esgarniçado desde Tom Zé, só que
plenamente consciente, fazendo com que as 'limitações' joguem a favor musicalmente. E com letras verdadeiramente 'instigantes', (os título - os urubus só pensam em te comer, o pobre dos dentes de ouro... já dão uma idéia) com imagens bastante originais. Os caras são capazes de fazer uma rock progressivo de 12 minutos que começa meio Alceu Valença, passa por Pink Floyd e muda pra Frank Zappa, e na faixa seguinte fazer um som brega no melhor estilo Amado Batista. Ou então fazer um improvisso algo jazzístico por sobre uma base de teclado anos oitenta, dos mais fuleiros e característicos da época, com uma letra que versa sobre vacas agonizantes. Reivençao da psicodelia? Apesar do princípio ser o mesmo - referência a tudo e a todos - as misturas são as mais criativas que eu tive oportunidade de acompanhar nos últimos tempos. Além das referências serem originais, os caras não estão preocupados em seguir aquela linha clean, mais acessível, tipo mpb. Eles seguem mais as lições do rock progressivo e psicodélico, de passagem de um estado a outro. O que se ganha com isso é que as inúmeras influências aparecem em tensão (servindo por exemplo para mudar o sentido da música, acompanhando uma mudança de sentido da letra) ao invés de colocadas como equivalentes, como se fossem
objetos culturais que estivessem aí para ser usados sem crise, como o que acontece na maior parte das bandas de hoje que, apesar de tomarem Tom Zé como seu padrinho, fazem o exato oposto daquilo que o mestre ensinou com sua estética do plágio. A junção de centro e periferia ou cria algo novo, que ressignifica a ambos (como o nação, ao subordinar o centro à periferia, creio que pela primeira vez na nossa música, pois os movimentos que se via até então tiravam sua força de realizar o movimento inverso), ou aponta para a impossibilidade de fusão, como faz Tom Zé e a Tropicália, criando aqueles monstrengos sonoros.

Sem mais blablabla... baixa ae:

O CICLO DA DE.CADÊNCIA



http://www.mediafire.com/download.php?5m3dmwt91ci

E O MÉTODO TUFO DE EXPERIÊNCIAS



http://www.mediafire.com/?cdi4o99mxjy

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O Cavaleiro das Trevas (Frank Miller) e A Piada Mortal


Com o Cavaleiro das Trevas, Frank Miller conseguiu ressuscitar a personagem do Morcegão ao expor seu caráter problemático em meio a muita violência – algo parecido com o que faz Tarantino em seus bons momentos. Ele não age por amor à humanidade (na verdade, a pátria, o capital, etc...) mas sim levado por motivações egoístas cujas origens estão em um trauma de infância e em uma crise de meia idade. Como se a mulher maravilha decidisse destruir uma cidade inteira por causa da TPM. NA história, o morcego é um cinqüentão que lança para o mundo um olhar de superioridade e desprezo considerando a todos (veja bem, culpados ou inocentes) como vermes. O que ele defende não são os homens, mas sua visão psicótica de justiça. Por isso todo mundo tem de ter medo do cara, tendo feito alguma coisa de errado ou não.
A história se concentra no lado mais sádico da questão, enfatizando o prazer que a personagem sente ao detonar seus inimigos com requintes de crueldade (em uma passagem, Batman dentro de um tanque de guerra aponta para um membro de uma gangue e pergunta ‘porque eu não devo matar esse verme’). Ele se sente superior ao mundo e com isso se outorga o direito de satisfazer seus instintos básicos, passando por cima de qualquer um, inclusive da pátria e da humanidade (simbolizados pelo super homem, que leva um pau – o que é muuuuito bom!) Apesar do tom reacionário de ‘mal necessário’ – algo do tipo, ‘já que as coisas estão caóticas, grupos de extermínio que nos digam o que é bom e o que é mal são bem vindos’ – a história abre a possibilidade de crítica ao relativizar o ponto de vista do morcegão, e mostrar que seus exageros tem motivações narcísicas. E tudo construído em cima de um roteiro excelente e desenhos bem crus, perfeitos para a situação.
A base da concepção de justiça da personagem é uma noção dualista onde bandido é ruim e a paz e a ordem são valores abstratos bons em si mesmos. Mas no contexto pós moderno nem mesmo Hollywood engole essa visão sem complicações. Daí a pergunta: e se a visão do morcego fosse tão míope e insana quanto à de seus inimigos? (assunto tratado com maestria em Watchmem, de Alan Moore, uma metanarrativa sobre a impossibilidade dos heróis). Allan Moore em ‘a piada mortal’ trata da questão a partir de um prisma mais psicológico. A grande piada da história – e a mais mortal de todas – é essa: no fim das contas, bem e mal se equivalem. Batman literalmente criou o coringa, que é uma extensão ‘real’ da psicose obsessiva de Bruce. Uma fantasia obscura criada para satisfazer desejos sádicos e narcisistas – novamente, surgidas de um trauma de infância – e com tendência a durar para sempre, pois os conflitos que Wayne adentra só poderiam ser resolvidos com seu desaparecimento, ou melhor, com o desaparecimento de homens como ele, pois a justiça, que em última instância define o que é bom ou mal, estabelece seus critérios visando a proteção e perpetuação da desigualdade gerada por ricos e poderosos. Ou seja, o objetivo último de Batman só poderia ser concretizado com o desaparecimento do Batman, que em nome da justiça perpetua a injustiça primordial.
Para não chegar às vias de fato, o morcego se apega à sua noção de justiça abstrata de modo tão ferrenho que esta acaba por se voltar contra a idéia mesma de humanidade – em nome da qual supostamente ela foi criada. (Isso na versão mais moderna do herói.) Caso nosso herói houvesse nascido na Alemanha nazista e por qualquer razão acreditasse que fossem os judeus a raiz do mal que assola o planeta, (se um judeu tivesse matado seus pais, por exemplo), ele não hesitaria em criar um sistema de campos de extermínio altamente eficiente – e lucraria com eles em nome das corporações Wayne. Pois outra das características do herói é essa racionalidade instrumental – o cálculo lógico e desumanizado aplicado a qualquer situação. Com o abalo contemporâneo na crença nos benefício do progresso, essa racionalidade se desvincula da ética e o morcego a pode usar para manipular amigos, eliminar inimigos com requintes de crueldade, etc... tudo sem que nos seja dada a certeza de que ele está certo ou age em nosso benefício. Porque o nós não existe.
Continuando a comparação anterior... Diante de uma mesma situação, digamos, um camelô vendendo doces no metrô ilegalmente, o homem de aço iria chegar no sujeito e muito educadamente pediria para ele não fazer mais aquilo, pois tinha bom coração. Tomaria então os seus objetos de trabalho e sairia voando para entregar à polícia. Já Batman pegaria o cara e o seguraria de ponta cabeça pra fora do trem em movimento, enquanto comeria rindo todos os doces. Por isso a maior riqueza da personagem, pois o sadismo das suas ações deixa ver a violência do dado inicial e que nenhum dos heróis pode questionar (justamente o que faz Watchmen) com o risco de deixarem de existir enquanto heróis: será que o problema não está em considerar o ambulante como uma ameaça a ordem? Não estaria a ordem equivocada?
Segue o link para essas duas histórias excelentes (numa o morcegão da um pau no super homem, na outra, após uma das ações mais sádicas e cruéis do coringa, ele e o Batman gargalham de uma piada ruim, como dois meninos) que ajudaram a mostrar pro mundo que quadrinho não é coisa de criança. Aliás, pelo preço que custam, é uma coisa muito séria. O negócio é pegar de graça aqui mesmo, sem esquentar, porque a pirataria só é crime se você acredita que o capitalismo é justo, ou que o mundo é de fato, um lugar para todos.

O CAVALEIRO DAS TREVAS

EDIÇÃO 01 DE 04

EDIÇÃO 02 DE 04

EDIÇÃO 03 DE 04

EDIÇÃO 04 DE 04


A PIADA MORTAL
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Batman X Supermen



O reino dos quadrinhos entra em crise a partir dos anos 80 – na verdade a partir dos anos 70 já vemos mudanças de concepção em novos personagens e formatos (Robert Crumb é dessa época) devido ao clima contra-revolucionário da época. Para contestar a arte dita elevada, nada melhor do que adotar o novo formato, mais popular. Mas essas mudanças atingem aqueles universos mais ‘tradicionais’ (especialmente a DC e a Marvel) a partir dos anos oitenta. Essa crise guarda semelhanças com a que atingiu as artes tradicionais na virada do século – os vários modernismos – guardadas as devidas proporções. Mas assim como lá, a base do problema está em um questionamento da idéia da consciência como chave para o conhecimento do mundo. O problema colocado pela pós modernidade – existe uma narrativa que pode ser aceita como ‘a verdadeira’, seja quais forem seus critérios – atinge em cheio a noção dualista de bem e mal que é a condição mesma de possibilidade dos heróis em geral. De repente, não se sabe mais - ou não se acredita tão facilmente – se aquilo que os heróis defendem corresponde de fato ao que é bom. De repente, Magneto não parece mais um louco. O Vietnam contribuiu para isso, e também o fim do socialismo ‘real’. Mesmo o discursos de direita descobriram que o que até então se chamava de O BEM era branco, capitalista, heterossexual, masculino, burguês... ou seja, bem determinado históricamente e nada universalizante.

Com isso, uma dúvida demolidora surge no mundo até então bem sustentado em seu auto-engano: será que os heróis estão fazendo o que é certo, ou são tão parciais e maníacos como seus inimigos. As respostas variam de um sim, apesar de tudo – como vimos mais recentemente em Tropa de Elite – até um não, o buraco é mais em baixo – como em Watchman. Mas o fato é que todas (e todas mesmo.. vide as séries crises nas infinitas terras, da DC, e Guerra Civil, da Marvel, que reformulou todo esse Universo) as personagens foram atingidas pela dúvida melancólica da pós modernidade. E não podia ser diferente com os dois maiores heróis dos quadrinhos, Batman e Superhomem. E as diferentes respostas dadas pelas personagens foi tamanha que de amigos que eram no início (a época de ouro dos quadrinhos) ele agora mantém um respeito à distância, com diferenças ideológicas marcantes e irreconciliáveis. O certo é que nessa disputa, a despeito do que afirmam alguns fãs, o morcegão se deu bem melhor. E não é apenas por uma questão de sorte por ter encontrado em seu caminho roteiristas e desenhistas mais criativos. Mas é o caráter da personagem, muito mais complexo, que permite um questionamento que no caso do Homem de Aço não pode ser feito. Super Homem age por amor à humanidade, e o AMOR está sempre certo. Caso ele não amasse os homens, ele simplesmente abandonaria o planeta. Veja bem – não existiria super homem – seria uma outra coisa. (Aqui um parêntesis - É esse o problema colocado em Watchmen – pra mim, o melhor quadrinho do mundo, justamente por ser uma história de heróis sobre a impossibilidade deles existirem, e por fazer um questionamento radical do pressupostos dos principais tipos de heróis existentes, apenas levando seus pressuposotos às últimas conseqüências. Por exemplo se Wolverine é meio homem, meio animal, porque ele não pode estuprar uma criança? E qual seria a reação dos vários interessados? Mas principalmente, seria ele ainda um herói? Ou então, se super homem é tão superior a qualquer mortal, porque ele não nos considera como vermes? A vida dele teria sentido se não existissem super vilões poderosos?) Portanto, o fundamento das ações do homem de aço não são questionáveis, e por isso ele é uma personagem mais simples, um herói clássico – tipo John Wayne.

O caso de Batman é mais complexo (tipo Mastroianni)... ele não age movido por amor, mas por ódio, por um trauma de infância que o leva a gerar uma noção psicótica de justiça que ele pode por em prática por ser milionário. Basicamente, Batman pode definir o que é bom ou mal porque é rico e consegue bancar sua insanidade. O fato de ser extremamente inteligente – e é preciso questionar que tipo de inteligência é essa – não indica que ele está certo, mas apenas que ele consegue convencer melhor a si mesmo – e aos leitores – de que o seu é o ponto de vista da verdade. Se Batman age em nome de si próprio por sadismo, onde fica o seu heroísmo?

Os quadrinhos que discutiremos abaixo são fantásticos justamente por colocar, de modos distintos, um questionamento sobre a validade das ações de Batman. E se o morcegão não fosse tão diferente assim dos bandidos que ele persegue incansavelmente? Ou ainda, e se fosse ele o principal responsável pela existência desses bandidos? O problema se desloca e deixa de ser uma questão bem x mal para concentrar-se justamente no borramento das fronteiras. Onde termina um e começa outro... sanidade e loucura, certo e errado, particular e geral.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Esquece - Marcelino Freire


Saca só esse texto do Marcelino Freire, em homenagem aos protestos de Luciano Hulk ao ter seu relógio roubado.


ESQUECE

Violência é o carrão parar em cima do pé da gente e fechar a janela de vidro fumê e a gente nem ter a chance de ver a cara do palhaço de gravata para não perder a hora ele olha o tempo perdido no rolex dourado.

Violência é a gente naquele sol e o cara dentro do ar-condicionado uma duas três horas quatro esperando uma melhor oportunidade de a gente enfiar o revólver na cara do cara plac.

Violência é ele ficar assustado porque a gente é negro ou porque a gente chega assim nervoso a ponto de bala cuspindo gritando que ele passe a carteira e passe o relógio enquanto as bocas buzinam desesperadas.

Violência são essas buzinadas e essa fumaça e o trânsito parado e o outro carro que não entende que se dependesse da gente o roubo não demoraria essa eternidade atrapalhando o movimento da cidade.

Violência é você pensar que tudo deu certo e nada deu certo porque quando você vê tem um policial ali perto e outro policial ali perto querendo salvar o patrimônio do bacana apontando para a nossa cabeça um 38 e outro 38 à paisana.

Violência é acabarem com a nossa esperança de chegar lá no barraco e beijar as crianças e ligar a televisão e ver aquela mesma discussão ladrão que rouba ladrão a aprovação do mínimo ficou para a próxima semana.

Violência é a gente ficar com a mão levantada cabeça baixa em frente à multidão e depois entrar no camburão roxo de humilhação e pancada e chegar na delegacia e o cara puxar a nossa ficha corrida e dizer que vai acabar outra vez com a nossa vida.

Violência é a gente receber tapa na cara e na bunda quando socam a gente naquela cela imunda cheia de gente e mais gente e mais gente e mais gente pensando como seria bom ter um carrão do ano e aquele relógio rolex mas isso fica para depois uma outra hora.

Esquece.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Tokyo Ska Paradise Orchestra




Fundada em 1985 pelo percussionista Asa-Chang a Tokyo Ska Paradise Orchestra também conhecida como "Skapara" inicialmente foi formada por veteranos da cena underground de Tokyo. 22 anos depois a banda continua na ativa e conta com 10 músicos em seu cast, mas nenhum deles fez parte da formação original. Esse é o legal do grupo, os músicos vão se reciclando mas as músicas se mantém passando de geração para geração. Pra quem é antenado em Ska, com certeza já deve ter ouvido falar destes japas, é incrível como eles são 'super Stars' no Oriente (reparem nos videos abaixo o público dos shows deles!)











E pra quem prefere escapar fedendo, deixo link da discografia quase completa para download ...valhe a pena baixar [o link que eu achei está dividido por discos, e o download deve ser feito de música por múcisa, masa vantagem é que esse fichário 'nunca' saiu do ar ou foi perdido - coisa comum dos algumacoisaSHARE da vida]:
http://mystzik4.free.fr/TSPO/

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Coeção Noel Pela Primeira Vez - Box com 14 cds

Coloco aqui esse maravilhoso trabalho de pesquisa sobre um de nossos maiores sambistas, e provavelmente o que mais contribuiu para fixar no imaginário nacional a concepção vigente até hoje do que representa o gênero. A malandragem em sua feição mais perfeita - a canalhice, o lirismo boêmio, o borramento da distinção de classes - tudo magistralmente acabado no poetinha da Vila. Vale a pena ter tudo, mesmo que só pra ouvir daqui a 20 anos.



Noel Rosa completo, pela primeira vez
Depois de um colossal trabalho de pesquisa e restauração sonora, professor paulistano de biologia reúne toda a obra do Poeta da Vila em uma caixa com 14 CDs

Carlos Calado
17/11/2000

Um objeto de desejo para qualquer apreciador da música popular brasileira chega ao mercado na próxima semana. A caixa Noel Pela Primeira Vez (lançamento da Funarte com a gravadora Velas) reúne em 14 CDs a obra integral de Noel Rosa (1910-1937), que estaria completando 90 anos de idade no próximo dia 11. Nas 229 faixas dessa ambiciosa edição, o ouvinte terá acesso a todas as primeiras gravações das composições que o Poeta da Vila escreveu durante seus breves seis anos de atividade musical. “Entre outros grandes compositores, como Ary Barroso e Lamartine Babo, Noel sempre chamou mais minha atenção por ser um artista multifacetado. Ele fazia suas sátiras e suas crônicas sempre com a mesma seriedade, por mais banal e simples que suas composições pudessem parecer”, diz Omar Jubran, o pesquisador e professor de biologia paulistano, que passou 11 anos procurando, recuperando e remasterizando as gravações incluídas nessa edição.

“Noel foi o grande inovador de nossa lírica, o primeiro a mostrar que tudo (fome, miséria, mentira, futebol, jogo do bicho, assassinato, roubo, prostituição, homossexualismo, bebida, política, corrupção) podia ser convertido em letra de música”, observa João Máximo, biógrafo do compositor, no texto de abertura do livreto de 160 páginas, que faz parte da caixa, incluindo todas as letras das canções e fichas técnicas das gravações. As canções foram organizadas em ordem cronológica, opção que permite acompanhar a evolução de Noel como compositor.

Da temática sertaneja de composições como a toada Festa no Céu e a embolada Minha Viola (ambas compostas em 1929 e gravadas pelo próprio autor), passa-se ao encanto de Noel pelos negros do morro, flagrado em sambas como Mulato Bamba (1931), até se chegar a seus sambas mais elaborados, como Último Desejo (1937). Além do próprio compositor, que pode ser ouvido em dezenas de faixas, assim como Aracy de Almeida (sua intérprete favorita), outros cantores notáveis se sucedem, como Silvio Caldas, Francisco Alves, Mário Reis, Carmen Miranda, Aurora Miranda, Marília Baptista, Elizeth Cardoso, João Nogueira e Jamelão. Gravações mais recentes, realizadas na última década, destacam ainda Vânia Bastos, Ná Ozzetti e Johnny Alf.

Omar Jubran conta que seu interesse por Noel foi despertado durante sua infância, entre os anos 50 e 60. “A gente ainda não tinha TV em casa e eu ficava ouvindo rádio, que naquela época era muito mais segmentado do que é hoje. Havia várias emissoras que tocavam compositores mais antigos da música brasileira”, recorda o pesquisador, hoje com 47 anos.

Dono de uma grande discoteca (atualmente com cerca de 15 mil títulos, entre 78 rotações, LPs, compactos e CDs de vários gêneros musicais), Jubran resolveu organizá-la pela primeira vez, em 1987, época em decidiu investir mais em sua já vasta coleção de gravações do Poeta da Vila. O lançamento do livro Noel Rosa – Uma Biografia, de João Máximo e Carlos Didier, foi fundamental para que ele desse seqüência à pesquisa. “Além de ser um livro diferente, por causa de seu rigor científico, ele trazia uma relação completa de todas as composições do Noel. Resolvi checar quantas eu tinha e percebi que já possuía 70% desse material. Virou ponto de honra para mim conseguir o que faltava”, recorda.

Cooperativa
Em meio à pesquisa, Jubran começou a se interessar por equipamentos de áudio que permitissem recuperar gravações em estado precário. Investiu nesses aparelhos, até que seu saldo bancário entrasse no vermelho. “Eu ficava chateado. Toda vez que saía algum novo CD de Noel eram sempre as mesmas músicas: Três Apitos, Feitiço da Vila e coisas assim. Decidi entrar de cabeça nisso, mas esses softwares de recuperação sonora são muito caros. Cheguei a vender um carro, em 93, mas mesmo assim não consegui o dinheiro suficiente”, relembra. A solução foi procurar uma roda de amigos e propôr a eles que comprassem a coleção de Noel antecipadamente, para ajudá-lo a prosseguir. “Achei oito doidos que confiaram em mim, na verdade, pagando o preço de duas coleções para receberem apenas uma, num prazo que eu nem mesmo poderia precisar qual seria”, conta.

Junto com os CDs, a caixa traz um livreto de 160 páginas
Para reunir as gravações que faltavam, Jubran teve que viajar por várias cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As gravações mais difíceis de conseguir (já não se lembra exatamente quais eram) pertenciam a um renitente colecionador do sul de Minas, que teve de ser “amaciado” aos poucos, com muita paciência. “Ao telefone, ele me disse que tinha os discos, mas que eu não iria ouvi-los, nem mesmo ver de que cor eles eram”, relembra.

Delicada também foi a operação para recuperar um 78 rotações que recebeu quebrado em três pedaços. Depois de colá-los, com o auxílio de uma lupa e um estilete, eliminou o excesso de adesivo. “Tive muita sorte porque os sulcos coincidiram”, festeja, calculando que gastou cerca de 50 horas de trabalho, só para eliminar os ruídos produzidos pelas emendas. O resultado ficou tão bom que Jubran recusa-se a revelar que faixa é essa, desafiando seus amigos técnicos de gravação a descobri-la. Seu preciosismo levou-o até a ficar em dúvida quanto a incluir na caixa algumas canções que o grupo espírita Aquarius afirma terem sido psicografadas por Noel. “Com todo respeito, decidi ficar apenas no plano material”, conclui.

Em janeiro de 1998, o trabalho de pesquisa, restauração e remasterização de todo o material estava terminado. Depois que as primeiras notícias chegaram à imprensa, o telefone de Jubran tocou bastante. “Fui procurado até por repórteres interessadas em entrevistar Noel Rosa”, diverte-se. Mesmo assim, só conseguiu fechar o contrato de edição com a Funarte e o Ministério de Cultura depois de procurar vários órgãos federais e estaduais de cultura. Entre vários absurdos, chegou a ouvir a sugestão de que fizesse somente uma compilação com as “melhores” faixas. Difícil também foi o processo para conseguir as permissões de todos os intérpretes e parceiros de Noel ou de seus herdeiros – trabalho coordenado por Luiz Pedreira, que se arrastou por mais de um ano. “Fiquei muito agradecido ao Vitor Martins, da Velas, que apoiou minha idéia de não subtrair nenhuma faixa da coleção”, reconhece.

Jubran ainda leciona Biologia, atualmente, num colégio particular de São Paulo. Dizendo-se desiludido com a situação da educação no país, espera que a repercussão desse trabalho o ajude a viabilizar outros projetos semelhantes, como reunir as obras completas de Ary Barroso, Lamartine Babo e Adoniran Barbosa, já engatilhados. “Praticamente já tenho todas essas gravações”, revela. Outro projeto, com o título provisório de Carnaval do século XX, reuniria músicas de carnaval compostas entre 1899, ano em que Chiquinha Gonzaga compôs a pioneira Abre-Alas, e meados dos anos 70, época em que compositores deixaram de criar para o carnaval. “A idéia é incluir 15 ou 20 marchinhas importantes, ano por ano, e fazer uma análise de todas elas, localizando o momento histórico. Já consegui quase três mil músicas”, calcula o pesquisador.

Fonte: blog sombarato

Download: Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 1 [2000] Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 2 [2000]
Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 3 [2000]
Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 4 [2000]
Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 5 [2000]Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 6 [2000]
Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 7 [2000]Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 8 [2000] Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 9 [2000] Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 10 [2000] Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 11 [2000]Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 12 [2000]Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 13 [2000]
Noel Rosa - Pela Primeira Vez - Cd 14 [2000]

terça-feira, 2 de outubro de 2007

10 Razões Porque Mim Adora Borat


Boa Noite.
Eu gosto sexo... Good!
1) O princípio em que se sustenta o filme é realmente muito bom – como as pessoas reagem quando caí a máscara do politicamente correto e elas vêem-se obrigadas a se confrontar diretamente com a materialização de seus preconceitos?
As respostas dadas pelo filme não deixam dúvidas sobre que tipo de sociedade se está falando. Em alguns casos, a pessoa abordada acaba revelando compartilhar dos mesmos valores daquele outro absurdo e não-civilizado, mostrando ser o estereótipo mero reflexo cultural. Como quando um cara explica tranquilamente qual a melhor arma para se matar um judeu, ou um outro revela a que velocidade se deve andar para se matar um cigano sem danificar o veículo (todo Adorno está nesse trecho). Ou ainda quando simpáticos cowboys aplaudem frases como Bush ‘ir beber o sangue dos iraquianos’.
Noutros casos, o outro se torna um incômodo e vira caso de polícia. Nesse caso, o que se revela é a hipocrisia da aceitação das diferenças. Como no caso do pastor que se depara com uma prostituta debaixo nível (negra e gorda) dentro de seu círculo social, ou no caso do peão texano que explica a Borat que ele deve tirar o bigode para não parecer terrorista e parar de beijar homens no rosto para não parecer viado.
Em ambos triunfa Cohen, que consegue extrair o pior de cada indivíduo, exatamente o que dá sustentação ao regime que vivemos. Queria que alguém fizesse algo parecido no Brasil, para revelar nosso lado fascista que acompanhamos todos os dias, mas que é ideologicamente disfarçado. Basta dizer que no último programa do Pânico na TV que eu assisti, os caras ateiam fogo na Sabrina Sato e cantam parabéns pra você enquanto a moça queima. Independente de sua veracidade ou não, o fato de alimentar essa fantasia revela que os campos de concentração não foram o que de pior poderia acontecer em nosso doce mundo, como se insiste em representar. Aliás, a versão tupiniquim dessa grande tragédia social é a já desbotada ditadura, como se este fosse o pior atentado já ocorrido contra os brasileiros. O pessoal da periferia cai na risada cada vez que um artista ou um professor vem com qualquer papo furado nesse sentido.
2) Como respeitar as diferenças se eu não conheço o diferente? Será que essa política não significa de fato que eu quero que o outro viva muito bem e feliz desde que seu mal cheiro não me incomode? Aqui no Brasil da miscigenação nós conhecemos essa estratégia muito bem.
3) Politicamente correto = miopia ideológica. Aquilo que mais me enoja no outro é agora visto como diferença cultural, sem que o dado básico do asco e da discriminação social daí proveniente seja alterado. Assim eu consigo me apropriar de partes do outro, como se fosse este um Frankstein. A alteridade desaparece e cede lugar à última moda, pois tirar a carga negativa de um dado objeto é o primeiro passo para torná-lo consumível. Bob Marley tinha milhares de piolhos e era sujo, mas usar dreads é muito bonito e está em alta. O que possibilita isso é uma percepção esquizofrênica, que têm no politicamente correto sua expressão discursiva.
4) Todos os que foram abordados por Borat (ao menos aqueles que entraram no filme) compram o esteriótipo absurdo cirado por Cohen, quando qualquer criança do Cazaquistão – ou de um país qualquer de terceiro mundo – sabe ser aquilo uma caricatura bizarra (talvez por isso tão convincente). Mesmo a criação de um tipo que a princípio pode parecer ofensivo se volta muito mais contra a visão Ocidental (Europa e US and A são os paradigmas) do que contra a periferia, pelo grau de exagero caricatural da personagem. Cair na conversa de Borat é ser tratado como um idiota, ou como um retardado preso em uma jaula. Tanto que no próprio Cazaquistão (com exceção das autoridades, mas essas são imbecis em qualquer lugar do mundo) o DVD está entre os mais procurados, e isso não se explica simplesmente pelo desejo de notoriedade a todo custo. A rigor o filme não representa ninguém do terceiro mundo, antes dá forma concreta a um preconceito compartilhado por todos.
5) O cara é muito bom, sabe provocar e irritar uma pessoa até que estas revelem seu lado mais sórdido. Ele é um camarada nada ingênuo, sabe exatamente onde a ferida aperta mais. Atirar os preconceitos sociais contra os seus criadores usando o humor como forma de denuncia social. Imbecil preconceituoso que se promove as custas da humilhação do próximo? Imaginem um Machado de Assis politicamente correto.
6) O filme apresenta as melhores piadas de judeu que eu já vi e ouvi. Tão boas que só um judeu poderia desenvolvê-las.
7) O filme é muito engraçado. Mesmo quando incomoda mais do que faz rir. Mesmo quando as piadas são ruins.
8) Quem nunca teve vontade de chamar uma feminista de gostosa e de perguntar para outra sobre o paradeiro de Pâmela Anderson (no nosso caso, da Carla Perez) que atire a primeira pedra.
9) "Dr. Yamak provou cientificamente que os judeus é que acabaram com os dinossauros"
10) E agora, todos em pé para ouvir o hino da fabulosa nação Cazaquistão.


Aqui vai um video do cara no Youtube. Nosso glorioso repórter canta em um bar de cowboys a clássica 'Atire o judeu no poço'. E como não poderia deixar de ser, o público entusiasmado acompanha a canção.

http://youtube.com/watch?v=C5ieGC3iNSk

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Kontakt - Stockhausen


E finalmente um disco de música eletroacústica. Como eu já coloquei antes, ninguém conseguiu ainda me convencer que isso é música - embora as vezes lembre vagamente. Entretanto, exatamente por essa razão é bom pra caralho. Se você é fã de música eletrônica pode desencanar que não tem nada a ver... o que esse disco apresenta é uma sequência de barulhinhos 'sem sentido', aquela função hipnótica noiada da música eletrônica não existe. O objetivo aqui é desconstruir todos os sentidos musicais possíveis até então. Aconselho ouvir antes os dois discos postados antes ou alguma outra coisa de Krautrock (menos Kraftwork) e de música de concerto contemporânea - começar com Shoemberg é uma boa. Escute também os trabalhos mais recentes do Tom Zé, alguma coisa do Hermeto e depois vá até uma avenida bem movimentada e procure encontrar a música inerente àquele conjunto de ruídos. Ou então desencane e encare de uma vez - mas tente ouvir pelo menos uma vez o disco até o fim (eu confesso que quase nunca consigo).

DOWNLOAD: http://rapidshare.com/files/51821767/Stockhausen_-__Kontakte.rar

Luciano Bério - Coro



Continuando as postagens de música estranha, coloco aqui um disco de música de concerto contemporânea, de um dos seus mais conceituados compositores - Luciano Bério. Acho que esse é um bom disco pra se iniciar nesse universo (antes de pegar um disco de música eletroacústica) porque ainda tem os instrumentos sinfônicos - piano, percussão, cordas, metais - apesar de evidentemente serem tocados de forma não convencional, e porque é uma peça coral, o instrumento mais familiar ao homem. Mas se você ouviu o disco postado anteriormente e detestou, achou que não era música e coisa e tal, é melhor deixar pra lá. Pois essa é uma peça perturbadora, como um coral de anjos do inferno. Abaixo alguns dados sobre o autor recolhidos na rede.


"Ao longo do século 20, a inovação na música erudita foi a grande premissa para os compositores de vanguarda, músicos que buscavam experimentar linguagens e caminhos estruturais trilhando uma via paralela ao que era considerado clássico e intocável. O marco zero dessa revolução musical surgiu com a Segunda Escola de Viena, movimento da década de 1920 que tinha como principais representantes o compositor austríaco Arnold Schoenberg e seus principais alunos: Anton Webern e Alban Berg. Schoenberg queria uma música que se diferenciasse estruturalmente das composições de até então. O que, de fato, ele conseguiu. Exemplo mencionado por dez entre dez especialistas é o dodecafonismo, técnica de composição na qual as 12 notas musicais da escala cromática - as notas-padrão acrescidas dos cinco tons intermediários - são tratadas como equivalentes, ou seja, sujeitas a uma relação ordenada e não hierárquica.
Na escalação do time dos vanguardistas, um dos maiores nomes veio da Itália: Luciano Berio. Nascido na cidade Oneglia, em 1925, o compositor recebeu suas primeiras instruções musicais do pai e do avô, e, embora tivesse se mudado para Milão após a Segunda Guerra Mundial para estudar direito, a música falou mais alto e Berio acabou mesmo se tornando pupilo do músico também italiano Giorgio Federico Ghedini, conhecido por explorar diversos estilos. No início dos anos 50, o jovem músico já começava a mostrar interesse pelos experimentalismos de Schoenberg. Ainda nessa década, iria para Darmstadt, na Alemanha, onde o alemão Karlheinz Stockhausen e o francês Pierre Boulez propunham inovações na linguagem musical. Foi lá que Berio entrou em contato com a música eletroacústica - junção da música concreta [produzida a partir de edição do áudio misturada a fragmentos de som ambiente, tanto da natureza quanto até mesmo de indústrias], criada pelos franceses Pierre Schaeffer e Pierre Henry (veja boxe De Olho no Contemporâneo) no final da década de 40, com a música eletrônica [criada por meio de equipamentos e/ou instrumentos eletrônicos, como o sintetizador] de Stockhausen, surgida dez anos depois. De volta à Itália, em 1955, fundou com Bruno Maderna o Studio di Fonologia. Foi a partir de então que as experimentações de Berio o levaram à utilização de aparelhos emissores de ondas eletromagnéticas, gravações em fitas magnéticas de rolo e sons sintéticos para compor sua música eletroacústica.
Berio, que foi casado com uma das principais cantoras do século 20, a norte-americana meio-soprano Cathy Berberian, acabou se tornando um mestre na utilização da voz em composições de música contemporânea - como também ficaram conhecidas as músicas eruditas de vanguarda. "Ele cobriu praticamente todos os gêneros vocais com uma maestria absurda, desde a música eletroacústica até o coro", explica Flo Menezes. "Tinha uma consciência total da voz em todas as suas acepções: a questão fonética, a acústica e a semântica."
Berio, morto em 2003, ainda se destacou nas adaptações de músicas folclóricas que recolheu mundo afora, conhecidas como as Folk Songs de Berio, adaptando-as e rearranjando-as, em 1964, com roupagem erudita".

[FONTE: Portal SescSP]

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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Moolah - Woe Ye Demons Possessed


Eu sempre gostei de procurar experiências diferentes no campo sonoro, seja buscando formas de composição que escapam ao âmbito Ocidental canônico, por fazerem parte de um outro padrão de desenvolvimento cultural - a música tradicional indiana, por exemplo - seja procurando por grupos e compositores que partem do padrão Ocidental para reconfigura-lo em uma outra lógica que o problematiza. As experiências mais radicais que eu encontrei nesse segundo sentido foram o free-jazz, que é superado pela música de concerto contemporânea (Xenaxis, Ligetti, etc...), talvez a mais 'sem noção' experiência musical que eu já tive a oportunidade de acompanhar (nem o Pola conseguiu me convencer ainda que Eletroacústica é música de fato).

No campo da música pop, os que mais escapam a um paradigma pré determinado são dois movimentos (mais do que estilos): a Tropicália e o Krautrock - o equivalente melancólico alemão da alegoria tropicalista. Posto aqui um disco de Kraut americano, que até pouco tempo era peça de colecionador. Pra quem ouvir pela primeira vez e achar uma merda desde o começo, desligue porque o tormento não é aliviado. Esse grupo não tem a ironia do Can, que permite que a gente dê uma relaxada - o gozo fica interditado até o final.

O bom de viver num país de merda é que a gente tem o samba.

domingo, 12 de agosto de 2007

Clara Nunes

Tamo ae de volta postando discos depois de um tempo de ressaca. Como presente dois discos dessa força da natureza que foi Clara Nunes.
Acabei de baixar a discografia completa dela e até agora consegui ouvir pouco mais da metade. Posso afirmar com segurança que ainda não consegui encontrar nenhum disco dela que fosse ruim. É claro que tem uns que são mais felizes que outros - especialmente na escolha do repertório, porque a interpretação dela é sempre impecável - mas mesmo estes não podem ser considerados ruins, fazendo parte com certeza da lista de bons discos de samba (ou MPB) já produzidos. Em especial a partir dos anos 70, quando ela encontra seu estilo próprio e pode atuar com maior liberdade (graças ao sucesso nas vendas dos discos, que fez com que os produtores procurassem investir em mulheres sambistas, algo até então raro).
Aqui vou colocar uma sequência que é de arrepiar, o disco Alvorecer, de 74, que vendeu 400.000 cópias, e o Claridade, de 75, que vendeu 600.000! As cifras são impressionantes, mas não tanto quanto esses discaços.

ALVORECER

Esse primeiro pode-se dizer que marca o período de transição de Clara, daquele estilo mais pesado tipo Dalva de Oliveira para o seu próprio. Ainda tem algumas músicas com orquestrações pesadas, mas a isso mescla-se samba enredo, batucada de terreiro, samba enredo, Bossa Nova, samba rock e uma releitura magistral de Gonzagão. Os arranjos desse disco são um caso a parte, belíssimos. Tanto que vale a pena saber o nome dos orquestradores e arranjadores. Maestro Gaya, Orlando Silveira (acordeon), Carlos Monteiro de Souza, João Donato (aquele) e Hélio Delmiro (que entre outras coisas gravou com Sarah Vaughan e os violões do clássico Elis e Tom). Entre as clássicas estão Samba da volta (Toquinho e Vinicius), Meu sapato já furou (Elton Medeiros), O que que a baiana tem (Caymmi), Conto de areia(Romildo Bastos), Esse meu cantar (João Nogueira) e Sindorerê (candeia)

DOWNLOAD: http://rapidshare.de/files/35915764/1974_Alvorecer.rar



CLARIDADE


Esse é talvez o disco mais famoso de Clara. Aqui ela está mais sambista do que nunca, mas uma sambista das antigas, em que há lugar pra valsa e samba sincopado. Nesse discos as orquestrações estão mais leves, cedendo lugar pra batucada. Mas a versatilidade da menina continua, passando por partido, samba canção, samba enredo, religiosidade afro, etc. O disco todo é um destaque, mas só pra citar algumas fico com O mar serenou (Candeia), Sofrimento de quem ama (Alberto Lonato), A Deusa dos Orixãs (Tomildo), Bafo de Boca (joão Nogueira), Juízo Final (Nelson Cavaquinho). O disco ainda termina com Portela e Mangueira, representado pelos bambas absoulutos Monarco e Cartola.
Enfim, ambos são obras indispensáveis em qualquer discografia.

DOWNLOAD: http://rapidshare.com/files/2875354/1975_Claridade.rar


Ouvindo: Alceu Valença - Cavalo de pau (só as clássicas do pop regional, bem anos 80) e Cidadão Instigado - O método tufo de experiências (instigante)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Harry potter X Tim Hunter


"Muitos fãs de quadrinhos odeiam Harry Potter. Eles acreditam que o menino bruxo criado por J. K. Rowling seja uma cópia descarada e infantil de uma das mais interessantes criações de Neil Gaiman: Timothy Hunter.
Hunter surgiu na mini-série em quadrinhos Livros da Magia, em 1991 (publicada aqui pela Editora Abril). No gibi, um garoto absolutamente comum é perseguido por um quarteto de homens encapotados que revelam a ele seu potencial para se tornar o mago mais poderoso de sua época. Tentando mantê-lo no caminho do bem, Mister Io, Dr.Oculto, Vingador Fantasma e John Constantine levam o jovem Tim Hunter a uma viagem pelo passado, presente, futuro e através das dimensões, tentando mostrar a ele um panorama do desconhecido e misterioso mundo da magia.
A partir da bem-sucedida HQ, Timothy Hunter ganhou um título regular como parte do selo Vertigo, da DC Comics. Algumas das primeiras histórias foram publicadas por aqui na extinta revista Vertigo (Editora Abril) e em mini-séries da falecida Metal Pesado. Atualmente, Tim pode ser encontrado em seu novo título Hunter - The Age of Magic, ainda inédito aqui no Brasil.




Seis anos depois de seu surgimento, uma escocesa chamada Joanne Kathleen Rowling lança um livro chamado Harry Potter e a Pedra Filosofal. Como personagem principal, um garoto que descobre seu potencial para a magia quando é convidado a ingressar em uma escola especial para bruxos.
Além das semelhanças óbvias (os dois têm corujas de estimação, usam óculos e franja e são meninos e bruxos), Harry e Tim não têm absolutamente nada em comum. Enquanto as histórias do primeiro são recheadas de uma boa dose de humor e aventura infanto-juvenil, os quadrinhos de Os Livros da Magia são voltados para um público adulto, acostumado com passagens violentas e densas. Para exemplificar, enquanto em Harry Potter são necessários três livros para que o personagem tenha contato direto com a morte, em Livros da Magia só são necessárias algumas páginas para que Tim Hunter veja com seus próprios olhos as torturas da inquisição, a queda de Lúcifer ao inferno, um mago tirando coelhos mortos de sua cartola e outro se dissolvendo em sua frente...


E se tudo isso ainda não convencer os críticos de Potter a aceitar as diferenças entre as séries, talvez a palavra de Neil Gaiman em pessoa seja de alguma ajuda. Durante sua visita ao Brasil, em maio do ano passado, o aclamado criador de Sandman disse que não foi o primeiro, e nem será o último, a escrever sobre crianças e magia. Ele acredita inclusive que J. K. Rowling provavelmente nunca nem sequer leu um exemplar de Os Livros da Magia."




fonte:fonte:www.omelete.com.br/game/10000555/especial_harry_potter.aspx

Download das revistas em quadrinhos dos Livros da Magia: Livros da Magia

mais sobre:
www.abacaxiatomico.com.br/obalaio/kingdom/antigos/frame20011118.htm
www.odarainternet.com.br/supers/cinema/harry-potter.htm
www.burburinho.com/20050717.html

segunda-feira, 30 de julho de 2007

MAUS




"A segunda guerra mundial, um dos tantos marcos cruéis na história da humanidade, rende, até hoje, estudos, livros, ensaios e filmagens. Porém, um dos mais marcantes e verdadeiros relatos do que aconteceu em meio à tragédia que teve início na Alemanha foi apresentado ao mundo na forma de uma história em quadrinhos. Maus, de Art Spiegelman, publicado no Brasil pela Editora Brasiliense, em duas partes (formato livro), nos traz um impressionante relato da trajetória de um Judeu em meio à guerra".




"O judeu em questão é o pai do autor, que é apresentado na história já como uma pessoa de idade, narrando ao filho sua passagem pela guerra. Portanto, o livro é baseado em fatos reais, um relato detalhado, minucioso até, que nos apresenta tudo em detalhes, inclusive a personalidade das pessoas envolvidas, principalmente do protagonista, mesquinho, avarento e racista, embora inteligente, perspicaz, dotado de uma intuição fantástica e, principalmente, de muita, muita sorte".



Pessoalmente, o que marcou muito a leitura de Maus foram duas coisas:
1º Existe um momento que nos comovemos com a história, porém a tristeza não é oriunda do sofrimento do holocausto, mas sim de uma informação passada de mameira simples, que nos faz perceber a ligação com a obra, justamente no momento em que passamos do volume 1 para o volume 2.
2º Em muitos momentos, vemos o confronto de visão entre pai (aquele que [sobre]viveu no meio de uma guerra) e era de se esperar(?) um relato "real" - talvez não, devido ao filtro dos sentimentos - e a visão do filho, já nascido em outro momento, mas com a informação sobre a guerra já filtrada pelo discurso histórico.

"Em Maus, mais que os desenhos, o que salta aos olhos é o roteiro. Os personagens são muito bem caracterizados, têm vida própria, pulsante. É difícil permanecer indiferente à leitura desta obra. A crueldade dos fatos é gritante, machuca, incomoda. A qualidade com que o autor associa texto e imagens é tal, que é impossível não imaginar na própria pele a dor, a angústia, o medo e o terror impostos pelos nazistas.

A caracterização dos personagens é um capítulo à parte. Os judeus são retratados como ratos, os alemães como gatos, os americanos como cachorros e os poloneses como porcos. Isso não diminui a grandeza da obra. Pelo contrário! Aumenta ainda mais, pois, além da originalidade, torna a leitura ainda mais fluente. Outro mérito é o humor, muitas vezes ácido e corrosivo, mas sempre inteligente.

Os personagens secundários, alguns com passagens relâmpagos pela história, são marcantes. São diversos fatos ocorridos ao redor do protagonista, em toda sua caminhada no decorrer da guerra. Homens, mulheres, velhos, jovens e crianças, todos jogados a um destino incerto e quase sempre terrível, tentando, de todas as maneiras, possíveis e impossíveis, buscar a sobrevivência através da esperança, uma esperança vã, que não resiste à certeza dos fatos. E a única certeza, para as vitimas dessa guerra, era a morte.

Spiegelman foi procurado por diversas vezes com propostas para transformar a obra em filme, porém recusou-se. "Não entendo porque em nossa cultura ninguém parece acreditar que algo não é real, até que seja transformado em filme", declarou. Em sua opinião, Maus encontrou seu formato ideal nos quadrinhos".

fonte: www.universohq.com/quadrinhos/maus.cfm


link para download da obra completa: Clique aqui!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

O que é música pop? Tratado definitivo.

Nossos milhares de leitores diários tem cobrado insistentemente de seus colunistas o esclarecimento de alguns conceitos do qual eles discordam, ou simplesmente não entendem. Uma delas é o conceito de ‘música de preto’, tão constantemente aludido. Resolvi, não obstante, tratar de um outro, menos óbvio: o de música pop. Não sei o que pensam os demais editores de tão respeitável órgão de comunicação, mas tenho a honra de aqui compartilhar minha opinião pessoal a respeito do tema, agradecendo desde já a colaboração de alguns eminentes professores universitários que preferiram ficar incólumes, mas que com certeza já foram lidos pelos senhores, sendo no mínimo embaraçoso caso eu esteja equivocado – não para mim, evidentemente.

Acredito que só dá pra falar que algo é Pop por comparação. Chico Buarque é mais pop do que Tom Zé, que por sua vez é mais pop do que Xenaxis. E isso não tem a ver – diretamente, porque de forma indireta tem tudo a ver - com o sucesso alcançado por esses artistas, e muito menos com o valor artístico de cada um. Pop pra mim é uma espécie de instrumento de medida, que verifica o grau de proximidade de determinado artista (ou obra) em relação à um padrão, variável de acordo com cada caso. Dessa forma, o pop deixa de ser um conceito fixo, adquirindo funcionalidade a partir das relações concretas que se pretende estabelecer. Algo pode ser pop em relação a uma coisa e experimental em relação a outra, ou ser pop em um momento e deixar de ser em outro.

O legal dessa ideia é que eu posso estabelecer comparações sem noção, por exemplo, falar que Mozart é musicalmente mais pop que Jorge Ben. Outra vantagem é que a realidade (ao menos em princípio) não se subordina à um conceito pré determinado, ao menos tempo em que se evita o impasse de não conseguir criar conceitos a partir de uma realidade dinâmica. Pode até parecer meio estranho, mas de fato a gente vê isso a toda hora. Por exemplo, a noção de raça, que só faz sentido dentro de cada contexto específico, mudando de sentido a todo momento. É impossível tirar uma definição de raça que elimine a ambiguidade concreta, mas se você quiser saber quem é preto é só colocar dois manos na frente de um policial e perguntar em quem ele gostaria de atirar primeiro. O conceito é variável e extremamente móvel, mas existe e passa bem, obrigado.

Tendo isso em vista, dá pra dividir a música em pop e experimental, mesmo que seja só um lance subjetivo. Pensando em relação à música Ocidental pós indústria fonográfica, (acabo de criar uma sigla nova M.O.P.I.F) experimentais são as que se afastam do padrão de mercado (de novo sem juízo de valor), ou do padrão cultural predominante – por exemplo, a noção de tonalidade, ou uma certa concepção rítmica e harmônica. A música de concerto ‘contemporânea’ (Ligetti) pega essas concepções e tenta negá-las uma a uma, mais ou menos como Godard tenta fazer com o cinema hollywoodiano. Já um canto ritual da tribo Bororo se afasta do padrão Ocidental por seguir uma lógica anterior (ou paralela, mas com outra base) à modernidade (que é capitalista, branca e muito macho).

A música pop, por sua vez, é a que se aproxima do que se afasta a experimental. Dentro dela, milhares de subdivisões e elementos complicadores. Geralmente eu costuma pensar a música pop de qualidade dividindo-a em duas vertentes. Uma que pela mescla com elementos heterogêneos, ou por trabalhar de forma diferenciada com algum aspecto musical, seja lá qual for, se aproxima do experimentalismo, sem deixar de conter elementos pop (as pirações da Tropicália, ou do Krautrock alemão, Tom Zé, Itamar Assumpção, Nação Zumbi ou, em outra linha, os filmes do Kubrik). E outra, o pop-pop mesmo, que trabalha com os padrões mercadológicos sem forçá-los, mas realizado por artistas muito competentes, que conseguem trabalhar com aquela linguagem de modo a levá-la a um grau de excelência elevado.

É claro que dentro dessas categorias tem muita porcaria, mais aí eu chamo de música ruim mesmo, apesar de que mesmo entre os ruins há diferenças qualitativas. Mil vezes um Axé ruim que um Jazz pau mole.

Pra complicar, nem toda música de mercado é pop, ou pode ser pop pensada sob um aspecto, e não sob outros . E em outros momentos ainda, a divisão entre pop e não pop não serve absolutamente para nada.

Tudo isso pra falar que esse disco do Jamiroquai se enquadra na categoria pop-pop de ótima qualidade (além do que a base é música de crioulo, e aí já viu).




http://rs19.rapidshare.com/files/2583311/Jamiroquai_-_Travelling_Without_Moving__1996_.zip

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Dois discos da cena Udigrudi pernambucana

Alceu Valença e Geraldo Azevedo
Quadrafônico [1972]



Eu conheci a cena psicodelica pernambucana - de onde sairam Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho, Lula Cortês, e outros - a pouco tempo pela internet, e estou tendo agradáveis surpresas, como estes dois discos que posto aqui pra vocês roubarem... O primeiro é esse do Alceu valença com Geraldo Azevedo que é bom pra cacete... seguindo a tendência psicodélica que tomava conta do Brasil na época, o disco mistura diversos elementos: o rock psicodélico mais tradicional, a linha hippie mais acústica – tipo Simon & Garfunkel, o regionalismo pop próprio do Alceu, algumas sinfonias pop estilo tropicália, o rock regional estilo Raul... Eu particularmente acho a música novena uma obra prima, sendo aqui maravilhosamente executada pelo Geraldo. Enfim, um excelente disco.

download Alceu valença & Geraldo Azevedo [1972]

Zé Ramalho e Lula Cortês
Paêbiru - [1974]




O segundo disco é uma obra única dentro da música brasileira, resultado do encontro de Zé Ramalho - que já tinha participado do disco/experiência ‘Marconi Notaro no sub reino dos metozoários’, uma obra bastante boa, mas sem conseguir atingir o nível de experimentalismo desse aqui - com o guia espiritual do movimento udigrudi pernambucano Lula Cortês, então dividido entre o desenho e seu tricórdio. Ao mesmo tempo em que é uma obra psicodélica até o pescoço, a parte mais mística – oriental se afasta por um momento da fórmula psicodélica clássica – guitarra, bateria, órgão, mudanças de intensidade –e produz uma experiência bastante singular. O disco é dividido em quatro partes – terra, ar, fogo e agua – e sua estrutura é bem perceptível musicalmente. A primeira música tem 13 minutos e se divide em três partes.. um mantra inicial, passando por um canto ritual para chegar em uma música com o tal tricórdio (o som lembra uma cítara). Até a música 6, final da parte ar (a terra foram as duas primeiras) a sonoridade lembra mais ragas orientais que rock psicodélico, caminhando aos poucos para esse estilo. A partir de então (o fogo) vem a psicodelia no melhor estilo The Doors – em alguns momentos até mais feliz que estes – para em seguida terminar o disco com uma pegada mais regional, com toques de violeiro nordestino e psicodelia. Mais do que um disco, Paêbiru é um ritual, muito mais interessante que o bando de papagaida que se fazia por aí em nome da expansão da consciência, mas que na verdade se tratava de uma embromação musical de fórmulas esteriotipadas, com as devidas exceções conhecidas por todos ... Vale muito a pena... isso sem contar que é o vinil mais valioso do Brasil e, portanto, já é bom sem que se ouça.

download Zé Ramalho e Lula Côrtes - Paebirú [1975]

PS: Abaixo a ocupação da reitoria! Eu quero mais é receber minha bolsa... não importa se é estratégia da reitoria pra desmobilização.. comigo funcionou.. saiam já daí e vão tomar um banho! Senão vou cagüetar todo mundo pra Suely e pros home!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Sopro de criatividade no rock 80



Costuma-se chamar os anos 80 de década perdida em vários sentidos, seja político, economico ou cultural. No cenário mundial, o capitalismo finalmente venceu (terá sido ameaçado um dia?) e a periferia quebrou de vez, ficando impossibilitado todo o ideal desenvolvimentista anterior - nosso fim de século. O forte movimento de contracultura que buscava remodelar o cenário da época e ampliar o expectro da normalidade na sociedade havia sido assimilado enquanto 'moda', e perdido seu carater de contestação inicial - curiosamente, a partir dos anos 90, os jovens retrocederam e passam a defender a caretice e a vida saudável, restando das reivindicações daquele momento principalmente a questão da liberdade sexual, desta vez assumidamente em seu caráter mercadológico. O tipo de som que surgiu nesse período e ajudou a categorizar um tipo social novo, denominado juventude, e dar forma a seus anseios e reivindicações foi sem dúvida o rock.

Inicialmente ingênuo, ligado a uma espécie de diversão descompromissada (pensando já nos Beatles iniciais, radicalmente diferente e mais conservador que a explosão sexual dos ritmos negros que lhe deram origem, e que ainda se podia observar no Elvis magrinho), aos poucos o rock foi se ligando as reivindicações dos movimentos de contracultura (feminismo, negro, hippie, etc...) e se tornando mais politizado, pregando uma alteração dos padrões sociais que tomariam forma a partir de uma alteração no modo de percepção do real (psicodelismo). Aos poucos essa postura foi levando a uma maior consciência do rock enquanto expressão artística, que passou a ser privilegiada seja nos solos intermináveis do metal, seja nas construções complexas (e muitas vezes sem graça) do progressivo, deixando de lado o aspecto de Movimento reivindicatório, que por fim seria recuperado pelo movimento punk, já com outro caráter. Não mais alteração da consciência, mas revolta contra o mundo, na maior parte das vezes sem projeto de transformação - o que consequentemente levaria os músicos a abandonar as guitaras e pegar em armas, como aconteceu com o Rage Against.

A partir dos anos 80, essa 'atitude rock n´roll', de rebeldia e inconformismo, ou ao menos uma reivindicação pela pureza do gênero - o verdadeiro rock n´roll, que movimentava toda uma indústria de padrões de comportamento (e que portanto, sempre foi mercadológica, sobrevivendo ainda hoje em alguns estilos como o punk e o metal) - o rock enquanto movimento foi substituído por uma postura de maior aceitação e abertura, permitindo a fusão com inúmeros outros gêneros e influências. Até aí nenhuma novidade, pois o rock sempre foi formado a partir da fusão com outras vertentes musicais (como o Jazz, o blues, o folk). Acontece que, por isso mesmo, ao se deixar de marcar uma diferença, um limite fictício que se alimenta não só da música mas de outros elementos como vestuário e reivinicações, o rock deixa de existir e se enquadra na categoria guarda chuva do pop em geral. Daí a semelhança cada vez maior entre os vários estilos, o metal com vocal romantico, o punk que parece música sertaneja, etc. O rock como tal morre, como vinha sendo ensaiado mais ou menos desde o seu nascimento.

No Brasil, o rock teve desdobramentos múltiplos e bem interessantes, que acompanham e subvertem o seu ritmo geral. Começou com a trasposição algo mal feita do ieieie pela Jovem Guarda, para em seguida se aproveitar do tom de liberdade da psicodelia para alterar os rumos da MPB a partir da tropicália. Nos anos 80, o movimento é novamente copiar e colar, com letras em português e sem alteração musical considerável, só que agora tratando das duras condições de sobrevivência do jovem no mundo, e da degradação deste. Considerações em parte realista, em parte também importadas - haja vista que o grau de ingenuidade e descolamento da contestação do punk é patente quando confrontada com uma letra de Hip Hop. Daí a sensação geral de pobreza desse movimento - que nem chegou a se contituir enquanto tal, com excessão talvez do punk, (e sem dúvida sem a força que teve em seu país de origem, pois aqui se passou da malandragem para o bandido, sem passar por essa figura intermediária de classe média) - que teve a virtude de trazer para o país o conjunto da produção estrangeira em voga no momento - mas que só seria ressignificado musicalmente, ganhando aí sim relevância estética, a partir dos anos 90, pra variar com a cena nordestina.

Todo esse blablabla pra apresentar dois discos de rock brasileiro da década perdida que, acredito, são trabalho muito bons, cada um a sua maneira, contrastando com o sentimento geral de porcariada sem sentido (malditos sintetizadores).


O primeiro é esse discaço do Lula Cortês, cabra que juntamente com o Zé Ramaho, faz parte da cena psicodélica nordestina, apelidade de udigrudi, voltada para o rock´n roll acrescido de elementos regionais e místicos orientais. Esse disco tem uma sonoridade bem próxima dos trabalhos do Zé Ramalho, com enfase no violão acústica e um canto meio recitativo. O experimentalismo dá a tônica, tendo sempre o rock pop por base - o que o diferencia e o torna menos radical, o que não implica em juízo de qualidade, que o famoso Paebiru: forró psicodélico, balada, folk, raga tradicional, samba-rock com base de rock e não de funk, como é mais comum, frevo rock e até um riff meio black Sabath pra fechar com chave de ouro um belo disco. Trata-se na verdade de uma espécie de grito tardio da psicodelia, algo alheio às letras de protesto e musicalidade pobre que infestavam o cenário rock´n roll da época.

DOWNLOAD: http://d.turboupload.com/de/732327/su4na4yomn.html#



O segundo não precisa de muitas apresentações... vendeu que nem água e transformou os Titãs do ieieie, um grupinho bem chato que não sabia muito bem o que queria da vida nos Titãs... um grupo chato mas que teve alguns bons momentos até o Arnaldo se mandar. Nesse terceiro disco os caras finalmente acharam o rumo, que foi assumir de forma mais orgânica a heterogeneidade de gostos, influências, etc, que era já a característica do grupo. Ao invés de fixar uma identidade, colocaram a fragmentação a seu favor. O grupo reunia um pesquisador amador da história da música, um garoto meio fresco interessado em poesia contemporânea, caras que não tavam nem aí com nada, os que tinham sensibilidade musical e as toupeiras, os que queriam revolucionar e os que queriam ganhar dinheiro e comer as gruppies. Juntou tudo, transformou em mercadoria, e gravaram aquele que talvez seja o mais interessante album de rock dos anos 80.

Pra começar, não é só mais um disco de rock, mas uma espécie de mapeamento de várias tendências do rock feito no Brasil no período, por aquela juventude burguesa das grandes cidades, executando-as com bastante competência. Ska (família, homem primata) punk (Igreja, polícia), hardcore (a face do destruidor), música eletrônica (O que), o rock funk de alguns grupos brancos americanos (bichos escrotos), e até experimentalismo (Cabeça Dinossauro). As letras ora ingênuas, ora mais críticas, as vezes também experimentais. O disco conjugou e sistematizou o que se produzia na cena rock nacional, de forma muito competente. Pouco tempo depois, o Rock Br perderia força, com a Industria fonográfia se voltando para a reprodução em massa de ritmos brasileiros pasteurizados. Aí caberia ao pop rock - de outro tipo - retirar nossa produção musical da mediocracia.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda


(Tela: João Werner)


BAR RUIM É LINDO, BICHO!

De Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda,adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
"Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins, que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.
Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma ali mesmo.
Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse.
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O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó.
Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico.
E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo. Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos:os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.
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Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo,saca?).
-Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?