terça-feira, 2 de outubro de 2007

10 Razões Porque Mim Adora Borat


Boa Noite.
Eu gosto sexo... Good!
1) O princípio em que se sustenta o filme é realmente muito bom – como as pessoas reagem quando caí a máscara do politicamente correto e elas vêem-se obrigadas a se confrontar diretamente com a materialização de seus preconceitos?
As respostas dadas pelo filme não deixam dúvidas sobre que tipo de sociedade se está falando. Em alguns casos, a pessoa abordada acaba revelando compartilhar dos mesmos valores daquele outro absurdo e não-civilizado, mostrando ser o estereótipo mero reflexo cultural. Como quando um cara explica tranquilamente qual a melhor arma para se matar um judeu, ou um outro revela a que velocidade se deve andar para se matar um cigano sem danificar o veículo (todo Adorno está nesse trecho). Ou ainda quando simpáticos cowboys aplaudem frases como Bush ‘ir beber o sangue dos iraquianos’.
Noutros casos, o outro se torna um incômodo e vira caso de polícia. Nesse caso, o que se revela é a hipocrisia da aceitação das diferenças. Como no caso do pastor que se depara com uma prostituta debaixo nível (negra e gorda) dentro de seu círculo social, ou no caso do peão texano que explica a Borat que ele deve tirar o bigode para não parecer terrorista e parar de beijar homens no rosto para não parecer viado.
Em ambos triunfa Cohen, que consegue extrair o pior de cada indivíduo, exatamente o que dá sustentação ao regime que vivemos. Queria que alguém fizesse algo parecido no Brasil, para revelar nosso lado fascista que acompanhamos todos os dias, mas que é ideologicamente disfarçado. Basta dizer que no último programa do Pânico na TV que eu assisti, os caras ateiam fogo na Sabrina Sato e cantam parabéns pra você enquanto a moça queima. Independente de sua veracidade ou não, o fato de alimentar essa fantasia revela que os campos de concentração não foram o que de pior poderia acontecer em nosso doce mundo, como se insiste em representar. Aliás, a versão tupiniquim dessa grande tragédia social é a já desbotada ditadura, como se este fosse o pior atentado já ocorrido contra os brasileiros. O pessoal da periferia cai na risada cada vez que um artista ou um professor vem com qualquer papo furado nesse sentido.
2) Como respeitar as diferenças se eu não conheço o diferente? Será que essa política não significa de fato que eu quero que o outro viva muito bem e feliz desde que seu mal cheiro não me incomode? Aqui no Brasil da miscigenação nós conhecemos essa estratégia muito bem.
3) Politicamente correto = miopia ideológica. Aquilo que mais me enoja no outro é agora visto como diferença cultural, sem que o dado básico do asco e da discriminação social daí proveniente seja alterado. Assim eu consigo me apropriar de partes do outro, como se fosse este um Frankstein. A alteridade desaparece e cede lugar à última moda, pois tirar a carga negativa de um dado objeto é o primeiro passo para torná-lo consumível. Bob Marley tinha milhares de piolhos e era sujo, mas usar dreads é muito bonito e está em alta. O que possibilita isso é uma percepção esquizofrênica, que têm no politicamente correto sua expressão discursiva.
4) Todos os que foram abordados por Borat (ao menos aqueles que entraram no filme) compram o esteriótipo absurdo cirado por Cohen, quando qualquer criança do Cazaquistão – ou de um país qualquer de terceiro mundo – sabe ser aquilo uma caricatura bizarra (talvez por isso tão convincente). Mesmo a criação de um tipo que a princípio pode parecer ofensivo se volta muito mais contra a visão Ocidental (Europa e US and A são os paradigmas) do que contra a periferia, pelo grau de exagero caricatural da personagem. Cair na conversa de Borat é ser tratado como um idiota, ou como um retardado preso em uma jaula. Tanto que no próprio Cazaquistão (com exceção das autoridades, mas essas são imbecis em qualquer lugar do mundo) o DVD está entre os mais procurados, e isso não se explica simplesmente pelo desejo de notoriedade a todo custo. A rigor o filme não representa ninguém do terceiro mundo, antes dá forma concreta a um preconceito compartilhado por todos.
5) O cara é muito bom, sabe provocar e irritar uma pessoa até que estas revelem seu lado mais sórdido. Ele é um camarada nada ingênuo, sabe exatamente onde a ferida aperta mais. Atirar os preconceitos sociais contra os seus criadores usando o humor como forma de denuncia social. Imbecil preconceituoso que se promove as custas da humilhação do próximo? Imaginem um Machado de Assis politicamente correto.
6) O filme apresenta as melhores piadas de judeu que eu já vi e ouvi. Tão boas que só um judeu poderia desenvolvê-las.
7) O filme é muito engraçado. Mesmo quando incomoda mais do que faz rir. Mesmo quando as piadas são ruins.
8) Quem nunca teve vontade de chamar uma feminista de gostosa e de perguntar para outra sobre o paradeiro de Pâmela Anderson (no nosso caso, da Carla Perez) que atire a primeira pedra.
9) "Dr. Yamak provou cientificamente que os judeus é que acabaram com os dinossauros"
10) E agora, todos em pé para ouvir o hino da fabulosa nação Cazaquistão.


Aqui vai um video do cara no Youtube. Nosso glorioso repórter canta em um bar de cowboys a clássica 'Atire o judeu no poço'. E como não poderia deixar de ser, o público entusiasmado acompanha a canção.

http://youtube.com/watch?v=C5ieGC3iNSk

2 comentários:

  1. Nossa, muito boa a matéria sobre Borat (e sobre a hipocrisia do politicamente correto). Lembrei-me de algo interessante. A prefeitura de S. Paulo está adaptando as travessas das ruas para os deficientes físicos (ou, politicamente correto, portadores de necessidades especiais). Mas as calçadas de S. Paulo são, além de estreitas, cheias de obstáculos, como árvores, "degraus" adaptados para automóvéis etc. Gasta-se muito dinheiro para não resolver nada, apenas para mostrar o chamado "politicamente correto".
    Agora essa de chamar gostosa a uma feminista, que usa dessa máscara para promover um valor sexualmente atrativo, foi boa...

    ResponderExcluir