terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Crime de Lady Gaga

Eis o link para uma matéria interessante de Marcia Tiburi sobre o que ela denomina de pós-feminismo (o termo é meio exagerado, mas tem funcionalidade) de Lady Gaga.
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/05/o-crime-de-lady-gaga/comment-page-2/#comments
Não vamos aqui reproduzir a matéria na íntegra. Mas postaremos os vídeos que são citados na matéria, intercalados com trechos desta e comentários nossos, sem indicação de autoria, como nos clipes.
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No vídeo de “Paparazzi” fica exposto o amor-ódio que um homem nutre por uma mulher, a invalidez à qual ela é temporariamente condenada por sua violência e, por fim, uma vingança inesperada com o assassinato desse mesmo homem. “Incitação à violência”, pensarão as mentes mais simples; “feminismo como ódio aos homens”, dirá a irreflexão sexista acomodada, quando na verdade se trata de uma irônica inversão no cerne mesmo do jogo simbólico que separa mulheres e homens.
Tarantino com Marlyn Manson. Com direito a citação de “Um corpo que cai” na hora em que o amante joga a moça do alto da sacada. Alias, a mesma discussão do clip está no filme. O imagem\corpo da mulher sexy = imagem da mulher morta, desejo final do masculino. O clip coloca várias imagens de mulheres\fetiches mortas (empregada, enfermeira), sem esconder que tudo isso é pra ralizar a equação Gaga=imagem=dinheiro. A solução final é a mesma que Tarantino vem propondo em seus últimos filmes, com a coroação da assassina, desde que continue posando gostosa\morta.
Se em “Paparazzi” o deboche beira o perverso autorizado psicanaliticamente (a mulher sai da posição deprimida ou melancólica e aprende a gozar com seu algoz, que ela transforma em vítima), em “Bad Romance”, “o vídeo mais visto de todos os tempos”, mulheres de branco – como noivas dançantes – surgem de dentro de esquifes futuristas para curar uma louca que chora querendo ter um “mau romance” com um homem. Um contraponto é criado no vídeo entre a imagem do rosto da própria Gaga levissimamente maquiado, demarcando o caráter angelical de sua personagem, em contraposição ao caráter doentio da personagem da mesma Gaga de cabelos arrepiados e olhos esbugalhados. Entre eles a bailarina sensual junto de suas companheiras faz o elogio do corpo que é obrigado a se erotizar diante de um grupo de homens.
A noiva é queimada. Sobre a cama, no fim, a noiva como um robô um pouco avariado, mas ainda viva, contempla o noivo cadáver. A ironia é o elogio do amor-paixão, do amor-doença e morte ao qual foi reduzido o amor romântico pela estética pop da ninfa pós-feminista. O feminismo só tem a agradecer.


A noiva vai para seu compnaheiro como quem vai para o abate. O expectador está representado pelos marmanjos para quem as moças rebolam, rastejam, imploram pelo amor, como máquinas ou, como prefere Gaga,like a dog. No final, o desgraçado frita na cama, incendiado, e Gaga fuma seu cigarro ao lado da ossada do que um dia foi (será?) um homem. Nesse clip, a mensagem é mais simples e direta, e a música é inferior.
Em “Telephone”, a estética eleita é a da lésbica e da pin-up. Ambas criminosas. A primeira por ser uma forma de vida feminina que dispensa os homens, a segunda por ameaçá-los com uma estética da captura (a mulher-imagem-de-papel, a mulher “cromo”, a mulher-desenho-animado que configura o conceito do “broto”, do “pitéu”). No mesmo vídeo o personagem de Gaga compartilha com Beyoncé uma cumplicidade incomum entre mulheres.
Esse sinal é dado no meio do vídeo, quando Beyoncé vai resgatar Gaga na prisão e ambas mordem um pedaço de pão, que logo é lançado fora como algo desprezível. A comida mostra-se aí como o objeto do crime. O vídeo é mais que um elogio ao assassinato do mau romance, ou da vingança contra o evidente amor bandido de quem a personagem de Beyoncé quer se vingar. Trata-se de uma profanação da comida pelo veneno que nela é depositado. O amor bandido é morto pela comida, uma arma simbólica muito poderosa associada à imagem da mulher-mãe, da mulher-doação, dedicada a alimentar seu homem na antipolítica ordem doméstica.
O palco é a lanchonete de beira de estrada como em Assassinos por Natureza, de Oliver Stone. O assassinato é o objetivo do serviço das duas moças perversas que, no fim do vídeo, dançam vestidas com as cores da bandeira norte-americana – meio Mulher Maravilha – diante dos cadáveres de suas vítimas, já que, além do amor bandido, todos morreram. Cinismo? Sem dúvida, mas como paradoxal autodenúncia.
Mas o maior crime de Gaga, aquilo que fará com que tantos a odeiem, não será, no entanto, o feminismo sem-vergonha que ela pratica como uma brincadeira em que o crime é justamente o que compensa? E, como ídolo pop, não poderá soar aos mais conservadores como um modo de rebelar as massas de mulheres subjugadas pela perversa autorização ao gozo, doa a quem doer?
Mais mulheres exibidas em condição de submissão, condição do gozo masculino. Dessa vez atrás das grades, em roupas bem curtas, com direito a censa de lesbianismo e briga de mulher. Tudo o que queremos ver, mas sempre com certo estranhamento - a própria Gaga - que ora parece um et, ora usa óculos feitos de cigarros, ora com um penteado feito com latas de coca cola. Signos deslocados.
Pois é, o "feminismo" agora também vende, assim como vendem as reivindicações dos negros na estética hip hop, representados aqui por
Beyonce. As citações aumenta, Kill Bill, Michael Jackson, Oliver Stone. Ao final, homens maquiados na cozinha, orquestrados por Gaga (assassina por natureza) a ampliar o escopo de sua vingança. Dessa vez, ela mata todos os que estão no restaurante multicultural, Negros, brancos, mulheres orientais, e dança alegremente vestida com a bandeira americana. Tudo em nome do amor, do cinismo, da mercadoria, e de si mesma.
Tarantino devia muito filmar um clip da moça.
Pra completar, um vídeo da gata ao piano, mostrando todo seu talento e versatilidade. Colagem de estéticas – a era da canção acabou? – e domínio total do espetáculo. Ela toca inclusive com o pé.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes (1980)

Dois dos maiores representantes do movimento samba de raiz dos anos 80, juntos, em um disco fundamental. Ao contrário do que prega o senso comum, uma das grandes questões do pagode anos 80 foi justamente a recuperação do clima mais roots, fundo de quintal, do samba como espaço lúdico, ritual. Partido-alto. O tom do disco é de recuperação das raízes. Só pela seqüencia matadora do início, quatro partidos clássicos, culminando com a antológica "Coisa da Antiga", já estaria valendo dinheiro. Mas tem também samba regional, pagode romântico, samba enredo, uma bela homenagem ao Mestre Candeia, samba de roda, tudo feito com grande qualidade. Um trabalho fino que segue na linha proposta por Mestre Candeia.

Faixas:
1 - Só chora quem ama - Goiabada cascão -
Mel e mamão com açúcar - Coisa da antiga
2 - Coité, cuia
3 - Gotas de veneno - Senhora liberdade
4 - Noventa anos de abolição
5 - Silêncio de bamba
6 - Samba do Irajá - Não foi ela
7 - Candongueiro
8 - Gostoso veneno
9 - Ao povo em forma de arte
Musicos:
Violão de 7 cordas - Dino
Violão de 6 cordas - Rogério Rossini
Cavaquinhos - Carlinhos e Alceu
Bandolim - Afonso
Trombone - Nelsinho
Clarinete - Netinho
Flauta - Geraldo
Acordeom - Julinho
Bateria - Aladim
Ritmo - Nosso Samba - Marçal - Luna - Eliseu - Geraldo Bongô - Caboclinho - Cabelinho - Testa - ZezinhoTrambique
Coro - "Nosso Samba"e "As Gatas"
Arranjos - Maestro Rogério Rossini
DOWNLOAD MEDIAFIRE
Créditos ao blog É ouro só