quinta-feira, 14 de junho de 2007

Dois discos da cena Udigrudi pernambucana

Alceu Valença e Geraldo Azevedo
Quadrafônico [1972]



Eu conheci a cena psicodelica pernambucana - de onde sairam Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho, Lula Cortês, e outros - a pouco tempo pela internet, e estou tendo agradáveis surpresas, como estes dois discos que posto aqui pra vocês roubarem... O primeiro é esse do Alceu valença com Geraldo Azevedo que é bom pra cacete... seguindo a tendência psicodélica que tomava conta do Brasil na época, o disco mistura diversos elementos: o rock psicodélico mais tradicional, a linha hippie mais acústica – tipo Simon & Garfunkel, o regionalismo pop próprio do Alceu, algumas sinfonias pop estilo tropicália, o rock regional estilo Raul... Eu particularmente acho a música novena uma obra prima, sendo aqui maravilhosamente executada pelo Geraldo. Enfim, um excelente disco.

download Alceu valença & Geraldo Azevedo [1972]

Zé Ramalho e Lula Cortês
Paêbiru - [1974]




O segundo disco é uma obra única dentro da música brasileira, resultado do encontro de Zé Ramalho - que já tinha participado do disco/experiência ‘Marconi Notaro no sub reino dos metozoários’, uma obra bastante boa, mas sem conseguir atingir o nível de experimentalismo desse aqui - com o guia espiritual do movimento udigrudi pernambucano Lula Cortês, então dividido entre o desenho e seu tricórdio. Ao mesmo tempo em que é uma obra psicodélica até o pescoço, a parte mais mística – oriental se afasta por um momento da fórmula psicodélica clássica – guitarra, bateria, órgão, mudanças de intensidade –e produz uma experiência bastante singular. O disco é dividido em quatro partes – terra, ar, fogo e agua – e sua estrutura é bem perceptível musicalmente. A primeira música tem 13 minutos e se divide em três partes.. um mantra inicial, passando por um canto ritual para chegar em uma música com o tal tricórdio (o som lembra uma cítara). Até a música 6, final da parte ar (a terra foram as duas primeiras) a sonoridade lembra mais ragas orientais que rock psicodélico, caminhando aos poucos para esse estilo. A partir de então (o fogo) vem a psicodelia no melhor estilo The Doors – em alguns momentos até mais feliz que estes – para em seguida terminar o disco com uma pegada mais regional, com toques de violeiro nordestino e psicodelia. Mais do que um disco, Paêbiru é um ritual, muito mais interessante que o bando de papagaida que se fazia por aí em nome da expansão da consciência, mas que na verdade se tratava de uma embromação musical de fórmulas esteriotipadas, com as devidas exceções conhecidas por todos ... Vale muito a pena... isso sem contar que é o vinil mais valioso do Brasil e, portanto, já é bom sem que se ouça.

download Zé Ramalho e Lula Côrtes - Paebirú [1975]

PS: Abaixo a ocupação da reitoria! Eu quero mais é receber minha bolsa... não importa se é estratégia da reitoria pra desmobilização.. comigo funcionou.. saiam já daí e vão tomar um banho! Senão vou cagüetar todo mundo pra Suely e pros home!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Sopro de criatividade no rock 80



Costuma-se chamar os anos 80 de década perdida em vários sentidos, seja político, economico ou cultural. No cenário mundial, o capitalismo finalmente venceu (terá sido ameaçado um dia?) e a periferia quebrou de vez, ficando impossibilitado todo o ideal desenvolvimentista anterior - nosso fim de século. O forte movimento de contracultura que buscava remodelar o cenário da época e ampliar o expectro da normalidade na sociedade havia sido assimilado enquanto 'moda', e perdido seu carater de contestação inicial - curiosamente, a partir dos anos 90, os jovens retrocederam e passam a defender a caretice e a vida saudável, restando das reivindicações daquele momento principalmente a questão da liberdade sexual, desta vez assumidamente em seu caráter mercadológico. O tipo de som que surgiu nesse período e ajudou a categorizar um tipo social novo, denominado juventude, e dar forma a seus anseios e reivindicações foi sem dúvida o rock.

Inicialmente ingênuo, ligado a uma espécie de diversão descompromissada (pensando já nos Beatles iniciais, radicalmente diferente e mais conservador que a explosão sexual dos ritmos negros que lhe deram origem, e que ainda se podia observar no Elvis magrinho), aos poucos o rock foi se ligando as reivindicações dos movimentos de contracultura (feminismo, negro, hippie, etc...) e se tornando mais politizado, pregando uma alteração dos padrões sociais que tomariam forma a partir de uma alteração no modo de percepção do real (psicodelismo). Aos poucos essa postura foi levando a uma maior consciência do rock enquanto expressão artística, que passou a ser privilegiada seja nos solos intermináveis do metal, seja nas construções complexas (e muitas vezes sem graça) do progressivo, deixando de lado o aspecto de Movimento reivindicatório, que por fim seria recuperado pelo movimento punk, já com outro caráter. Não mais alteração da consciência, mas revolta contra o mundo, na maior parte das vezes sem projeto de transformação - o que consequentemente levaria os músicos a abandonar as guitaras e pegar em armas, como aconteceu com o Rage Against.

A partir dos anos 80, essa 'atitude rock n´roll', de rebeldia e inconformismo, ou ao menos uma reivindicação pela pureza do gênero - o verdadeiro rock n´roll, que movimentava toda uma indústria de padrões de comportamento (e que portanto, sempre foi mercadológica, sobrevivendo ainda hoje em alguns estilos como o punk e o metal) - o rock enquanto movimento foi substituído por uma postura de maior aceitação e abertura, permitindo a fusão com inúmeros outros gêneros e influências. Até aí nenhuma novidade, pois o rock sempre foi formado a partir da fusão com outras vertentes musicais (como o Jazz, o blues, o folk). Acontece que, por isso mesmo, ao se deixar de marcar uma diferença, um limite fictício que se alimenta não só da música mas de outros elementos como vestuário e reivinicações, o rock deixa de existir e se enquadra na categoria guarda chuva do pop em geral. Daí a semelhança cada vez maior entre os vários estilos, o metal com vocal romantico, o punk que parece música sertaneja, etc. O rock como tal morre, como vinha sendo ensaiado mais ou menos desde o seu nascimento.

No Brasil, o rock teve desdobramentos múltiplos e bem interessantes, que acompanham e subvertem o seu ritmo geral. Começou com a trasposição algo mal feita do ieieie pela Jovem Guarda, para em seguida se aproveitar do tom de liberdade da psicodelia para alterar os rumos da MPB a partir da tropicália. Nos anos 80, o movimento é novamente copiar e colar, com letras em português e sem alteração musical considerável, só que agora tratando das duras condições de sobrevivência do jovem no mundo, e da degradação deste. Considerações em parte realista, em parte também importadas - haja vista que o grau de ingenuidade e descolamento da contestação do punk é patente quando confrontada com uma letra de Hip Hop. Daí a sensação geral de pobreza desse movimento - que nem chegou a se contituir enquanto tal, com excessão talvez do punk, (e sem dúvida sem a força que teve em seu país de origem, pois aqui se passou da malandragem para o bandido, sem passar por essa figura intermediária de classe média) - que teve a virtude de trazer para o país o conjunto da produção estrangeira em voga no momento - mas que só seria ressignificado musicalmente, ganhando aí sim relevância estética, a partir dos anos 90, pra variar com a cena nordestina.

Todo esse blablabla pra apresentar dois discos de rock brasileiro da década perdida que, acredito, são trabalho muito bons, cada um a sua maneira, contrastando com o sentimento geral de porcariada sem sentido (malditos sintetizadores).


O primeiro é esse discaço do Lula Cortês, cabra que juntamente com o Zé Ramaho, faz parte da cena psicodélica nordestina, apelidade de udigrudi, voltada para o rock´n roll acrescido de elementos regionais e místicos orientais. Esse disco tem uma sonoridade bem próxima dos trabalhos do Zé Ramalho, com enfase no violão acústica e um canto meio recitativo. O experimentalismo dá a tônica, tendo sempre o rock pop por base - o que o diferencia e o torna menos radical, o que não implica em juízo de qualidade, que o famoso Paebiru: forró psicodélico, balada, folk, raga tradicional, samba-rock com base de rock e não de funk, como é mais comum, frevo rock e até um riff meio black Sabath pra fechar com chave de ouro um belo disco. Trata-se na verdade de uma espécie de grito tardio da psicodelia, algo alheio às letras de protesto e musicalidade pobre que infestavam o cenário rock´n roll da época.

DOWNLOAD: http://d.turboupload.com/de/732327/su4na4yomn.html#



O segundo não precisa de muitas apresentações... vendeu que nem água e transformou os Titãs do ieieie, um grupinho bem chato que não sabia muito bem o que queria da vida nos Titãs... um grupo chato mas que teve alguns bons momentos até o Arnaldo se mandar. Nesse terceiro disco os caras finalmente acharam o rumo, que foi assumir de forma mais orgânica a heterogeneidade de gostos, influências, etc, que era já a característica do grupo. Ao invés de fixar uma identidade, colocaram a fragmentação a seu favor. O grupo reunia um pesquisador amador da história da música, um garoto meio fresco interessado em poesia contemporânea, caras que não tavam nem aí com nada, os que tinham sensibilidade musical e as toupeiras, os que queriam revolucionar e os que queriam ganhar dinheiro e comer as gruppies. Juntou tudo, transformou em mercadoria, e gravaram aquele que talvez seja o mais interessante album de rock dos anos 80.

Pra começar, não é só mais um disco de rock, mas uma espécie de mapeamento de várias tendências do rock feito no Brasil no período, por aquela juventude burguesa das grandes cidades, executando-as com bastante competência. Ska (família, homem primata) punk (Igreja, polícia), hardcore (a face do destruidor), música eletrônica (O que), o rock funk de alguns grupos brancos americanos (bichos escrotos), e até experimentalismo (Cabeça Dinossauro). As letras ora ingênuas, ora mais críticas, as vezes também experimentais. O disco conjugou e sistematizou o que se produzia na cena rock nacional, de forma muito competente. Pouco tempo depois, o Rock Br perderia força, com a Industria fonográfia se voltando para a reprodução em massa de ritmos brasileiros pasteurizados. Aí caberia ao pop rock - de outro tipo - retirar nossa produção musical da mediocracia.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda


(Tela: João Werner)


BAR RUIM É LINDO, BICHO!

De Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda,adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
"Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins, que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.
Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma ali mesmo.
Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse.
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O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó.
Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico.
E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo. Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos:os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.
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Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo,saca?).
-Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

terça-feira, 5 de junho de 2007

O Rei maior em Detalhes



Mais do que qualquer outro, eis o artista que é a representação mais perfeita do país - e não só de uma minoria universitária que confunde bom gosto e sectarismo. Para entender o Brasil, apresentamos a biografia de seu maior representante, isso sem falar que o cara canta muito e tem pelo menos (ou apenas) 4 discos geniais. Lembrando que estamos apenas disponibilizando o endereço na internet aonde está localizada a obra, e que nada temos que ver com sua postagem. O melhor é que está como arquivo de world, muito mais funcional que pdf...
"Roberto Carlos em detalhes"
Paulo Cesar de Araujo
Selo: Planeta
Coleção: LIVRARIAS
Tema: Biografias e Memórias
Preço: 59.9 Reais
ISBN: 85-7665-228-5
Ediçao: 1Brochura 21 x 28 cm
Data da publicaçao: Novembro 2006


Sinopse: Pela primeira vez, o cantor e compositor Roberto Carlos, maior ídolo da música popular brasileira, tem sua trajetória revelada sem cortes. Após uma exaustiva pesquisa e quase duas centenas de entrevistas exclusivas, o historiador Paulo Cesar de Araújo analisa os momentos marcantes vividos pelo artista: da infância difícil em Cachoeiro de Itapemirim aos primeiros passos no Rio de Janeiro; do início do sucesso nos anos 60 à consagração como cantor romântico de projeção internacional, vencedor do Festival de San Remo de 1968. Além de explicar o fenômeno Roberto Carlos, o livro também relata como nasceram canções como “Detalhes”, “Emoções”, “Outra vez”, “Quero que vá tudo pro inferno” e vários outros hits que fazem parte da memória afetiva de milhões de brasileiros.

Paulo Cesar de Araújo - Roberto Carlos em Detalhes