tag:blogger.com,1999:blog-68172537316758272212024-03-13T01:48:19.838-07:00Melhor escapar fedendo do que morrer cheirosoÉ vedado pela Lei de Propiedade Intelectual o uso comercial dos arquivos contidos neste site, sendo seu uso limitado apenas à apreciação, não visando lucro direto ou indireto. Compre o original.
Todos os links de materias encontrados aqui para realizar upload, estão arquivados na propria internet. E nem sei quem foram os criadores dos arquivos, eu apenas indico o caminho... se alguém se sentir prejudicado por alguma postagem entre em contato que nós a retiraremos do ar... bla bla blaUnknownnoreply@blogger.comBlogger205125tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-18849226269908487142014-11-27T21:27:00.001-08:002014-11-27T21:27:24.189-08:00CHIC POP: Coletivo historiográfico de cultura popular<p> </p> <p> </p> <p><font size="6">MUDAMOS!!!</font></p> <p align="justify"><font size="6">A partir de agora os novos textos serão postados no site do coletivo Chic Pop. Os textos anteriores do blog aos poucos também serão transferidos para lá. Participe!</font></p> <p align="justify"><font size="6"></font> </p> <p align="center"><font size="7"><a href="http://www.chicpop.com.br">www.chicpop.com.br</a></font></p> <p align="justify"><font size="6"></font> </p> <p align="justify"><font size="6"></font></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-23164516600808391792014-11-27T20:15:00.000-08:002014-11-28T07:37:21.533-08:00Escapar Fedendo (04\2007–11\2014)<br />
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><a href="http://lh5.ggpht.com/-Ny3on5bntW8/VHgFIA7IjXI/AAAAAAAAAr0/RTu27ZWEF6g/s1600-h/calvinapocrifo1%25255B7%25255D.gif"><img alt="calvinapocrifo1" border="0" src="http://lh4.ggpht.com/-biTklI2iVSo/VHgFJEGnOZI/AAAAAAAAAr8/pZiJu0irKFE/calvinapocrifo1_thumb%25255B5%25255D.gif?imgmax=800" height="283" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="calvinapocrifo1" width="803" /></a></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">É com aperto no coração, mas também com sensação de dever cumprido, que estou (temporariamente?) encerrando as atividades desse blog. Mas não por algum motivo funesto – mesmo em tempos mais conturbados, o blog sempre se manteve na ativa: o escapar, como o samba, agoniza mas não morre – mas para alçar novos e mais altos vôos. Saímos da blogsfera e migramos para o domínio dos sites, ampliando nosso horizonte de possibilidades. Agora o <em>Escapar Fedendo</em> será definitivamente um projeto do coletivo Chic Pop, um conjunto de colaboradores, pesquisadores e curiosos, com interesse comum pela cultura de massas, em suas diversas manifestações.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">CHIC POP – <a href="http://www.chicpop.com.br/" target="_blank">Clique aqui</a></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">O Chic Pop pretende também ampliar a interação com seus leitores. Desse modo, o espaço para colaboração será muito maior no novo endereço, assim como a possibilidade de compartilhamento, troca, busca, etc. A ideia é criarmos um espaço de reflexão (e curtição) coletivo, a partir de um modelo mais dinâmico.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">Ao longo desses sete (já!!) anos, muita coisa boa aconteceu. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">*O <a href="https://escaparfedendo.blogspot.com/b/post-preview?token=4M5-9kkBAAA.oxNTaX3GBdlfh2fWakyoxQ.RsSkrFF3JU8woECyNP68jg&postId=6329564801670854822&type=POST" target="_blank">Falcão em pessoa</a>, nosso Guru, enviou um email de apoio ao nosso blog, logo em seu início. O conteúdo era o seguinte: </span></div>
“Olá Acauam, <br />
Vi seu Blog –Escapar Fedendo-, muito bom, supimpa, coisa de alta catilogência! <br />
Quanto ao prefácio para o livro, estou à disposição. Mande-me o bicho pra eu fazer o leriado. <br />
Um abraço, <br />
Falcão <br />
<span style="font-size: medium;">O prefácio em questão era pro <em><a href="http://editorapatua.com.br/index.php?http://editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=81&Itemid=2" target="_blank">Churrasco Grego</a></em>, livro de poesia que escrevi com o parceiro\irmão José Virgínio. Acabou não rolando o prefácio, mas o Falcão adicionou o blog a sua página de favoritos. Incrível!</span><br />
<span style="font-size: medium;">* Acabamos participando ativamente do processo de <a href="http://escaparfedendo.blogspot.com.br/2008/05/di-melo-di-melo-1975.html" target="_blank">“redescobrimento” do Di Melo</a>. Isso porque por muito tempo o <em>Escapar </em>foi a página mais acesssada para download do único álbum do <em>soulman </em>pernambucano.</span><br />
<span style="font-size: medium;">* Algumas postagens de amigos acabaram ganhando grande visibilidade no blog, aumentando a rede Chic Pop.</span><br />
<span style="font-size: medium;">*Alguns posts renderam muitas discussões, se tornando grandes “sucessos” que até hoje rendem comentários. Um dos principais é o artigo sobre É o tchan, em que faço uma <a href="http://escaparfedendo.blogspot.com.br/search/label/Segura%20o%20tchan" target="_blank">análise semiótica da canção Segura o Tchan</a><em></em>. A polêmica ficou por conta da desconfiança dos leitores de que um produto cultural do “baixo-escalão” da música popular brasileira pudesse fornecer conteúdos para uma análise séria. Ou seja, foi uma espécie de prova-de-fogo de todo argumento sustentado pelo blog, desde o início.</span><br />
<span style="font-size: medium;">* O <a href="http://escaparfedendo.blogspot.com.br/2010/10/o-conceito-de-ideologia-em-zizek-e.html" target="_blank">artigo sobre Zizek</a> proporcionou excelentes discussões e novas amizades, que se extenderam para além do blog. </span><br />
<span style="font-size: medium;">As postagens mais acessadas aqui nesses sete anos foram as seguintes:</span><br />
<a href="http://escaparfedendo.blogspot.com/2008/05/di-melo-di-melo-1975.html"><span style="color: black; font-size: medium;">1) Di Melo (1975)</span></a><span style="color: black; font-size: medium;">: <u>4293</u> visualisações (download)</span> <br />
<a href="http://escaparfedendo.blogspot.com/2009/11/historia-da-literatura-ocidental-7.html"><span style="color: black; font-size: medium;">2) História da Literatura Ocidental:</span></a> <span style="color: black; font-size: medium;"><u>4247</u> visualizações (download)</span> <br />
<a href="http://escaparfedendo.blogspot.com/2009/12/um-olhar-sobre-segura-o-tchan-do-grupo.html"><span style="color: black; font-size: medium;">3) Um olhar sobre “Segura o Tchan”: </span></a><span style="color: black; font-size: medium;"><u>3075</u> visualizações (análise em 3 partes)</span> <br />
<a href="http://escaparfedendo.blogspot.com/2011/12/uma-critica-graciosa-mala-mafalda.html"><span style="color: black; font-size: medium;">4) Uma crítica à graciosa mala Mafalda:</span></a> <span style="color: black; font-size: medium;"><u>2586</u> visualizações (análise)</span> <br />
<span style="color: black; font-size: medium;">5) Morre o mito:</span> <span style="color: black; font-size: medium;"><u>2127</u> visualizações (análise Michael Jackson)</span> <br />
<a href="http://escaparfedendo.blogspot.com/2012/08/o-que-os-trapalhoes-tem-nos-ensinar.html"><span style="color: black; font-size: medium;">6) O que os trapalhões tem a nos ensinar sobre a estrutura do racismo: </span></a><span style="color: black; font-size: medium;"><u>1450</u> visualizações (análise racismo a partir de um episódio dos trapalhões)</span> <br />
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><span style="color: black;">Gente de todo mundo passou por aqui por esses anos: </span>Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Rússia, Polônia, Ucrânia. Fiz contatos e amizades virtuais interessantíssimas, que permanecem até hoje, e aprendi muito nesse tempo (é até engraçado comparar as primeiras postagens com as mais recentes). Espero continuar com vocês nessa nova fase.</span> </div>
<div align="center">
<a href="http://lh3.ggpht.com/-TV7usFjcieI/VHgFKG1CfbI/AAAAAAAAAsE/rKgggnPdM3M/s1600-h/201305070400000000003983%25255B5%25255D.jpg"><img alt="201305070400000000003983" border="0" src="http://lh4.ggpht.com/-CUPR-GTmjCc/VHgFK26gGRI/AAAAAAAAAsM/kYo1s0GfkBs/201305070400000000003983_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" height="422" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="201305070400000000003983" width="537" /></a> <em>Vem com a gente!</em> </div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-15039517782938954812014-11-20T05:43:00.000-08:002014-11-20T06:43:50.378-08:00Soulcialist<p><a href="http://lh3.ggpht.com/-jdS_Zx02brY/VGLdpKTEyAI/AAAAAAAAAjg/69TKHMJEgcU/s1600-h/10440789_10152855301131499_537665515669632347_n%25255B4%25255D.jpg"><img title="10440789_10152855301131499_537665515669632347_n" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="10440789_10152855301131499_537665515669632347_n" src="http://lh6.ggpht.com/-sLopgVajVHc/VGLdp9lQZxI/AAAAAAAAAjo/tqiFCldJ6UU/10440789_10152855301131499_537665515669632347_n_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="433" height="360"></a></p> <p align="justify"><font size="3">O parceiro Breno do coletivo Chic Pop montou uma playlist matadoura em homenagem aos 25 anos da queda do muro de Berlin, segundo ele “<em>uma coletânea de jazz e funk vindo do lado de lá dos muros que separaram – e continuam separando – tantas sociedades. Escolhi fazer uma mixtape de músicas pop, porque acredito que mais do que qualquer razão econômica, política, geográfica ou militar, foi a dificuldade de ser pop a maior responsável pela lenta ruína do socialismo no mundo</em>”. A seleção ficou fantástica, outra jóia de arqueologia musical.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Eu não consegui encontrar todas as músicas e nem todos os grupos da playlist na internet, então fiz ligeiras modificações: minha seleção tem três músicas a menos, e tive de mudar algumas poucas músicas, sempre mantendo vivo o “espírito” da coisa, afinal, é de comunismo que estamos falando, então é bom não ficar de brincadeira. E de quebra, a lista serve de contra-narrativa para o serviço de desinformação capitalista que temos hoje, mostrando que o comunismo foi muito além de Cuba, Vietnan e URSS e não era tão inimiga da criatividade e liberdade estética, ao menos não de forma tão chapada quanto a mídia corporativista faz supor. Pode tirar a bandeira vermelha do armário que aqui nós adoramos uma boa ditadura feminazi gayzista bolivariana. Segura essa pedrada (vermelha):</font></p> <p><iframe height="315" src="//www.youtube.com/embed/videoseries?list=PLOtMQJgRrujpwM-Xcaf3B4tMGeXEC9RbZ" frameborder="0" width="560" allowfullscreen></iframe></p> <p><font size="3">01 – Big Band Katowice – Madrox (Polônia)<br>02 – Theo Schuman Combo – Derby (RDA)<br>03 – Los 5-U-4 – Baila, Ven y Baila (Cuba)<br>04 – Phương Tâm – Đêm Huyền Diệu (Vietnã)<br>05 – Aura Urziceanu – Jacul Tambalelor (Romênia)<br>06 – Prague Big Band – Portrait (Checoslováquia)<br>07 – Krzyszstof Sadowski – Ten Nasz (Polônia)<br>08 – Zalatnay Sarolta – Hadd Mondjam El (Hungria)<br>09 – Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou – Djanfa Magni (Benin)<br>10 – Grupo Los Yoyi – El Fino (Cuba)<br>11 – Гая - Аман яр (Geórgia)<br>12 – Tian Niu - 恬妞(China)<br>13 – Modo – Delvitais Vilnis (Letônia)<br>14 – Miša Blam – Gorila (Yugoslávia)<br>15 – Carol Kim - Nỗi Buồn Con Gái (Vietnã)<br>16 - </font><font size="3">Irakere – Aguaniele Bonco (Cuba)</font><font size="3"> <br>17 –</font><font size="3"> Walter Kubiczeck – Heiße Spur (RDA)<br>18 – Ансамбль Мелодия под руководством Георгия Гараняна – Ленкорань (URSS)<br>19 – Bonga – Ghinawa (Angola)<br>20 – Collage – Mets Neidude Vahel (Estônia)<br>21 – Vagif Mustafazadeh – Yollar (Arzebaijão)</font><font size="3"> <br>22 – Johnny Raducanu – Balada (Romênia)</font></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-48958968746771883262014-11-18T15:58:00.001-08:002014-11-20T06:52:06.520-08:00A visão demoníaca de Salieri<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: small;"><a href="http://lh3.ggpht.com/-PLLeFD0NlpA/VGvdJ2A0roI/AAAAAAAAArA/QeIvkZS_uLI/s1600-h/amadeussalieri%25255B6%25255D.jpg"><img alt="amadeussalieri" border="0" src="http://lh3.ggpht.com/-0htUU8Ka3yc/VGvdKzNgAXI/AAAAAAAAArI/3jTBGcMTSQs/amadeussalieri_thumb%25255B4%25255D.jpg?imgmax=800" height="360" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="amadeussalieri" width="770" /></a><span style="font-size: medium;">Nos momentos iniciais de <em>Amadeus</em> (Milos Forman, 1984), acompanhamos o maestro Antonio Salieri instaurado em um manicômio para onde foi levado após uma tentativa frustrada de suicídio. Nele, conversa com um jovem padre que pretende absolvê-lo de seus pecados. Em dado momento, o maestro toca para o padre algumas melodias de sua autoria, mas o jovem rapaz, apiedado, não reconhece nenhuma. A última peça entoada por Salieri, no entanto, é alegremente reconhecida. É de Mozart. </span></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;">É bastante evidente que o foco principal do filme não é a tragetória do garoto prodígio Mozart, mas o próprio olhar devoto de Antonio Salieri, o anjo caído. A perversidade aqui, e que gera o potencial dramático da narração, é que o primado do ponto de vista não é um privilégio, e sim parte de sua danação, pois Salieri está condenado a existir exclusivamente a partir da sombra do gênio, de quem era o principal admirador. </span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;">Como Judas, Salieri é o Outro que só existe a partir daquilo que “negou”, ou antes, sua negação participa ativamente da construção positiva do mito. O filme é antes de tudo a própria constituição da punição de Salieri - cujo olhar atormentado terá grande poder narrativo – como se o verdadeiro castigo do Cão fosse a obrigação de perpetuar a história e a glória de Cristo. Pode-se dizer que, em linhas gerais, Amadeus é uma história sobre Deus narrada do ponto de vista do Diabo em pessoa. Ou ainda, um filme sobre Cristo narrado da perspectiva de Judas. Sua força depende do grau de radicalidade desse tabu, um dos maiores do reino cristão, o mais </span><a href="http://super.abril.com.br/religiao/evangelho-judas-446400.shtml" target="_blank"><span style="font-size: medium;">polêmico evangelho apócrifo</span></a></span><span style="font-size: medium;">.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">Mas no que essa associação entre Salieri e '”aquele-que-não-se-ri” se sustenta, em termos narrativos? A referência óbvia fica por conta do próprio Salieri, que desde o início associa Mozart ao todo-poderoso, para explicitamente o recusar. A verossimilhança desse reconhecimento (porque apenas Salieri é capaz de compreender a centelha divina em Mozart?) é construída cinematograficamente por um bem estruturado conjunto de “deslocamentos” e simetrias. Salieri é um músico devotado – tal qual Mozart - que entrega a si e a sua arte (em verdade, um só) completamente a Deus; por isso mesmo, torna-se dotado do privilégio\maldição de reconhecer o trabalho do criador na terra, ou melhor, na música, seu campo de devoção. Além disso, tal qual Mozart, o maestro italiano também está deslocado em relação a seu contexto, sem pertencer aquela classe ou aquele país. Salieri é um elemento de transição entre dois mundos, que sai do “inferno” da vida burguesa medíocre para o “paraíso” da aristocracia vazia. Até seu encontro traumático com a “Coisa” divina, seu sucesso mundano (como compositor da corte) confirma a presença de Deus em si e preenche sua vida de significado – como deve ser, aliás, em uma sociedade hierarquizada e estamental. Contudo, a emergência de Mozart o força ao reconhecimento de um paradoxo: a inadequação entre a aparência (sua vida de contenção) e a realidade (o desregramento milagroso de Mozart) de Deus.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">O que confirma a transformação demoníaca de Salieri, a configuração de sua imagem de anjo caído, é a saída que ele encontra para esse “paradoxo” divino. A solução, “celestial” do dilema, uma saída burguesa-cristã, seria a recusa da falsidade do mundo, assumindo que a verdade divina está em oposição a norma aritocrática, ao qual ele dedicou sua vida. Nesse caso, Salieri se colocaria ao lado de Mozart contra a estreiteza de visão de sua época, aceitando que, no limite, a morte de seu pai foi em vão – pois suas palavras “não serás músico” não eram uma proibição, e sim uma simples constatação. Um ato de pura devoção, contra sua própria vida. A solução “aristocrática-ateista”, por sua vez, (representada pelos demais membros da corte) seria a de ignorar o divino em Mozart e tratá-lo como um jovem arrogante presunçoso, que constrói obras com “notas demais”, etc. Uma solução bem mais “realista” e pobre em termos narrativos. Salieri, ao contrário dos provincianos da corte, sabe que a quantidade de notas é perfeita e que aquele é um milagre de Deus, como ele até então acreditava ser. Por isso sua solução é “demoníaca”: ele reconhece Deus, reconhece que aquilo que o havia tomado não era o divino, mas um artesanato muito mais mundano (para o qual é preciso ter talento, sem dúvida, mas pré sujeito moderno, comprometido com o mais prosaico) e deliberadamente se propõe a colocar-se contra o ponto de vista que ele ama e julga verdadeiro. Um gesto de amor profundo, e não de desprezo – e o filme retrata muito bem o caráter destrutivo desse amor\ódio. Salieri ama tão profundamente a Deus que não suporta a ideia de estar afastado dele. Por isso, torna-se deliberadamente um representante do Inferno. Atacar o seu amor é sua forma de mostrar a mais profunda devoção: já que Deus não participa efetivamente de seu ser, Salieri se dedica a fazer com que ele o preencha negativamente, tornando-se Lucifer.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">(é claro que existe aquela inveja bem mundana por um moleque qualquer que é mais genial do que ele próprio que abdicou de todas as paixões em nome de uma só Verdade. Mas o conteúdo desse sentimento é muito mais trágico que mesquinho - e a trilha sonora reforça essa tragicidade muito bem – porque ligado a pulsões muito mais profundas, que o acabam por consumir. Salieri associou sua auto-realização à morte do pai, pela qual sente-se responsável (ele pediu um milagre a Deus para poder tornar-se músico, e seu pai, que era contra, engasga-se no almoço), substituindo-o por um Pai mais adequado e coincidente com seus desejos, no caso Deus. Contudo, quando o encontro com Mozart re-encena a frustração original (não ser O músico, não portar a verdade da música em si), a sua solução é repor exatamente a mesma fixação não resolvida: matar o Pai, no caso, Deus. O trágico é que se a primeira morte paterna colocou-o para si ao lado da verdade (a música) que o permite construir sua vida, essa segunda deliberadamente o afasta e paralisa – ele “morre” junto com Mozart, pois sua existência se paralisa ao assumir para si a condição de sombra, ou de “Santo patrono da mediocridade”. Como se houvesse um “retorno” da primeira interdição paterna, que o impede de ser verdadeiramente músico e participar da divindade. O pai funciona aqui como sintoma dessa interdição fundamental do desejo: “eu não posso ser músico” se converte em “meu pai não permite que eu seja músico”. Desse modo, a morte do pai funciona como o mecanismo que o permite superar essa insuficiência originária. Entretanto, o Real dessa incapacidade retorna (a verdade da música está ao lado de Mozart, não dele), tornando a segunda morte um ato desesperado – inevitável passage à l'acte - de impotência. Para fugir do confronto com seu próprio vazio, Salieri substitui seu pai real pelo próprio Deus. Revelado o truque, decide matar Deus, o que o devolve para o vazio inicial). </span></div>
<div align="justify">
<a href="http://lh3.ggpht.com/-fAIL4GjBeto/VGvdNDp3TzI/AAAAAAAAArQ/1vhcXpOat7Q/s1600-h/screen-capture-3%25255B10%25255D.png"><span style="font-size: medium;"><img alt="screen-capture-3" border="0" src="http://lh6.ggpht.com/-tim5UYm-cJ8/VGvdPHYO5kI/AAAAAAAAArc/lquEtIolf-A/screen-capture-3_thumb%25255B5%25255D.png?imgmax=800" height="373" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="screen-capture-3" width="782" /></span></a></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">As relações de simetria entre as personagens também são perceptíveis em outros pontos. Mozart não consegue se livrar do fantasma do pai e, por isso, não pode crescer (a infantilização faz parte de sua genialidade). Salieri, por sua vez, perdeu o pai logo cedo, acreditando ser resultado de um acordo feito com Deus por oração - a morte do pai como garantia da presença de Deus em si. Assim como a perdição de Mozart é nunca ser capaz de livrar-se do pai – incapaz de superar a castração – a de Salieri consiste em assassinar continuamente o próprio pai. Mozart submete-se ao pai, e por isso não se submete as normas sociais - só reconhece o poder paterno (o Real que retorna como trauma aqui é que a sociedade não aceita essa condição secundária, que para Mozart é natural). Salieri mata o pai para melhor se submeter as normas sociais. A aparição de Mozart funciona para ele como o confronto com aquilo que em si escapa da adequação social que ele almejava - ou seja, com a verdade expressa na proibição do pai (“não serás músico”). O que ele enfim reconhece no espelho do Outro é que Deus está justamente naquilo que por ele foi sacrificado, pois ao passo que ele é a encarnação perfeita da norma, Mozart é o próprio Acontecimento que ressignifica o todo e instaura uma outra normatividade. </span><span style="font-size: medium;">Ao sacrificar sua vida em nome de sua paixão (devoção), Salieri sacrificou a própria verdade de sua paixão. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">O que lhe resta então é dedicar sua vida a esse vazio, dando existência a Deus em si a partir de seu enfrentamento. Sua “salvação” é fazer de Deus um fantasma, e tornar esse espectro a razão negativa de sua existência. A perversidade aqui é que sua única forma de aproximar-se de Deus (negativamente) é também sua maior punição – o reconhecimento de que ele jamais irá encontrar-se com Deus. Não por acaso, o grande filme sobre a vida de Salieri é um filme sobre Mozart. Só conhecemos Salieri porque ele participa, em negativo, da existência de Mozart. Essa é sua punição: só existir a partir daquele que ofuscou sua existência para sempre. A forma narrativa dá consistência estética ao tormento da personagem, secundário mesmo quando é um narrador em primeira pessoa. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;">Por isso a crítica padrão ao filme - a de que ele é ruim porque coloca em termos individuais (o “gênio”) aquilo que seria uma questão social (norma aristocrática x subjetividade burguesa emergente) - não é suficiente para quebrar seu encanto. Primeiro porque o aspecto social é, sim, explorado no filme em diversos níveis –o dinheiro é a grande perdição de Mozart. Sua força, entretanto, consiste em não ceder à facilidade do tema da mera mesquinharia de Salieri, optanto por mostrar que no fim das contas ele estaria tentando tirar da jogada um concorrente muito mais talentoso, que prejudicaria sua carreira, etc. Para o elemento trágico funcionar, precisamos acreditar na verdade de sua devoção, ou seja, acreditar na fantasia de que ele está confrontando não um “colega” de profissão, mas o próprio Deus, aquilo que ele mais ama no mundo, e que dá sentido para sua existência. Que dizer, a força estética do ponto de vista está no caráter alegórico das personagens. Acompanhamos nada mais, nada menos, que uma disputa entre Deus e o Canhoto em pessoa, ou entre um santo e um satanista, contado da perspectiva de Satanás, que perdeu a batalha. A história de Cristo da perspectiva atormentada de Lucifer, que destrói sua obra como um gesto de amor e devoção. Não que o filme endosse a perspectiva demoníaca: como vimos, a grande perversidade da história é que a narrativa que acompanhamos é a forma mesmo da derrota do Demo, sua punição - não por acaso, sugerida por um padre. O que talvez o torne mais herético do que se imagina, tal como o evangelho de Judas Iscariotes, ao sugerir que a traição de Judas foi um gesto, talvez o mais radical, do mais puro amor. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: small;"></span><img alt="Amadeus laugh photo 16bc7wz.gif" border="0" src="http://i958.photobucket.com/albums/ae68/buzzytrent/16bc7wz.gif" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-83149094863490106892014-11-12T21:01:00.001-08:002014-11-13T17:48:22.963-08:00Titanic ou o desastre como estratégia divina para Rose não se tornar uma dona de casa pobre<p> </p> <p align="justify"><font size="4"><em><a href="http://lh4.ggpht.com/-vOU6w5jH5FE/VGVcRy3zGHI/AAAAAAAAAqE/tpoVevTjts0/s1600-h/68000_10151267522669078_1390193879_n%25255B3%25255D.jpg"><img title="68000_10151267522669078_1390193879_n" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; border-left: 0px; display: block; padding-right: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="68000_10151267522669078_1390193879_n" src="http://lh4.ggpht.com/-qvCMuprcfp8/VGVcSrsEIrI/AAAAAAAAAqM/m2XXRZPxWew/68000_10151267522669078_1390193879_n_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="395" height="305"></a></em></font></p> <p align="justify"><font size="4"><em>"Não considero Titanic nem uma história de amor. Jack está morrendo congelado, e o que a Rose faz? Ela grita: eu nunca vou deixar você! E enquanto isso, ela está empurrando o cara pro fundo do mar. E as últimas palavras de Jack não são as de um amante, mas as de uma padre, um conselheiro moral. "Seja honesta, faça isso e aquilo". É só uma história reacionária sobre uma menina rica e mimada em crise de identidade adolescente que, como uma vampira, explora um rapaz de classe baixa para restaurar o seu ego. Assim que ele cumpre seu papel, pode morrer congelado. É o mito colonialista. Nós somos o Ocidente desenvolvido e moderno, mas que, infelizmente, se esqueceu dos valores verdadeiros que estão nos outros, pobres ou bárbaros. Nós sugamos o sangue delas e depois, tchau. O Iceberg nesse contexto surge para salvar o mito ideológico de amor que ela cria, que evidentemente seria destruído na primeira semana de casados"</em>. (ZIZEK)</font></p> <p align="justify"><font size="4">Revendo Titanic dá pra entender porque Zizek considera James Cameron um dos maiores ideólogos de Hollywood hoje. Vejamos o caminho de seus argumentos. De fato, num primeiro momento parece que o filme traça um painel realista - quase marxista - de denúncia da crueldade das classes abastadas, posicionando-se contra o egoísmo dos ricos e a favor da vitalidade dos mais pobre. Mas é precisamente esse o grande salto ideológico do filme: ele não é, de forma alguma, “realista”, seu foco não é recontar a história tal e qual ela verdadeiramente aconteceu. Na verdade, os fatos estão a serviço de uma grande fábula conservadora, cuja moral é que por mais que os ricos sejam cruéis, desalmados, egoístas, etc., romper com essa desigualdade é atentar contra a própria ordem da natureza, o que será devidamente punido com um grande e fálico Iceberg. Todos sabem disso, sobretudo Jack, que se deixa morrer, e Rose, que deixa ele afundar pra não virar dona de casa. O deus de Cameron é o oposto do Deus dos Racionais - tem simpatia pela miséria, mas protege os poderosos a todo custo. Assim como qualquer filme-catástrofe hollywodiano, todo poder devastador da natureza tem por função reestabelecer o equilíbrio conservador da sociedade, seja o casal heterosexual branco de classe média, ou as classes poderosas com seus líderes, pelos quais o povo deve se sacrificar. A grande obscenidade do filme não está no egoísmo dos mais ricos, e sim no fato de que a própria natureza o legitima. É a mesmíssima lógica presente nos romances de formação pró colonizador, como Iracema, de José de Alencar. A simpatia pela pureza e beleza natural da índia só se justifica na medida em que ela “se deixa” colonizar, ou melhor, na medida em que essa colonização já aconteceu, e o Outro não oferece risco algum. Caso surja algum indício de resistência, os mais fracos se convertem em bárbaros selvagens, terroristas, bandidos, etc. A imagem positiva e não conflituosa dos pobres funciona como um aprisionamento na fantasia dos ricos, e o que legitima o seu “sacrifício”. </font><font size="4"></font> <p align="justify"><font size="4">Não devemos nos iludir: todos os mecanismos “realistas” do filme estão a serviço dessa fábula conservadora. Um dos mais sintomáticos é o seu final, quando Jack não consegue subir na tábua em que Rose estava. James Cameron deixa claro que ele não sobe porque o peso não aguentaria os dois, ou seja, a justificativa é realista. Mas o não-dito fantasioso desse realismo consiste na tranquilidade com que Rose aceita o sacrifício de seu grande amor, inclusive dando uma mãozinha e empurrando-o para baixo. Fica </font><font size="4">claro que a razão do sacrifício dela ao amor não ter ido até as últimas consequências (ter morrido com Jack, ou tentado ajudá-lo até a morte) é outra. Ela precisa que Jack morra. Só a morte dele vai fazer com que aquele casinho inconsequente de verão se transforme no grande mito do Amor Eterno, que justifica a tragédia (afinal, os ricos também perderam algo importante ali, também sofreram). O romance dos dois serve como metonímia para o que acontece com todos os ricos no filme. São todos indivíduos soberbos, que levam uma vida vazia e sem sentido, ocupados com a satisfação imediata, etc. O desastre divino, contudo, não vem para puní-los, e sim para que eles, ao menos uma vez na vida, tenham algum tipo de “experiência”. Nada melhor para isso do que uma verdadeira tragédia em que aconteçam milhares de mortes – dos mais pobres, humildes e sem pecado, de preferência. O tempo todo os pobres são manipulados no filme para dar "sentido" ao vazio das elites, e Rose é a pior de todas, por ser bem intencionada. É nesse momento que a crítica à soberba dos ricos (que de fato existe nos filmes do James Cameron, e é um impulso - ainda que ligeiro - de solidariedade com os de baixo) é pervertida por um mecanismo de produção de satisfação para as elites apoiado na descartabilidade dos de baixo. </font></p> <p align="justify"><font size="4">(Diga-se de passagem, Avatar tem um mecanismo ideológico parecido. <em>“</em></font><font size="4"><em>La fidelidad de Avatar a la vieja fórmula para formar una pareja, su plena confianza en la fantasía, y su historia del hombre blanco desposando a la princesa aborigen y así convirtiéndose en rey, hacen de ella una película ideológicamente conservadora, de vieja escuela. El brillo técnico sirve para maquillar este conservadurismo básico. Entre sus temas políticamente correctos (el hombre blanco honesto acompañando a los aborígenes en su lucha contra el "complejo militar-industrial" del invasor imperialista) podemos encontrar fácilmente una serie de motivos brutalmente racistas: un paria parapléjico de la tierra es suficiente para tomar la mano de la hermosa princesa local, y ayudar a los nativos a ganar su batalla decisiva. La película nos enseña que la única opción que tienen los aborígenes es elegir entre ser víctimas de la realidad imperialista, o desempeñar su papel asignado en las fantasías del hombre blanco. […] </em></font><font size="4"><em>El film nos permite practicar una típica división ideológica: simpatizar con los aborígenes idealizados mientras se desestima su lucha real” (ZIZEK))</em>. </font></p> <p align="justify"><font size="4">Nesse sentido, o Iceberg </font><font size="4">é um símbolo fálico muito bem construído, porque catalisa os dois movimentos. A princípio, ele aparece enquanto punição divina da soberba dos ricos, que pressionam para chegar mais depressa em casa, limitam a quantidade de pessoas nos botes apenas pra poder ter mais espaço livre, zombam de deus, etc. O Iceberg funciona para dar uma lição de humildade a esses homens. Entretanto, todos (ou quase) os sobreviventes são ricos: o castigo recai sobre os pobres, que não tem nada com a soberba e representava até então o pólo positivo da narrativa. Porque acontece essa passagem? Apenas a primeira camada ideológica serve de acusação dos ricos (“a soberba dos ricos destróem o mundo”). Contudo, o Iceberg funciona também em um instrumento de realização dos impulsos sádicos obscenos dos ricos, e que é matriz de sua soberba - o desejo semi confessado de que todos os pobres morram. E de quebra, a vida dos ricos deixa de ser pura vacuidade, pois agora eles não são mais meros proprietários imbecis, mas os sobreviventes de uma das maiores tragédias da humanidade ou - o que é ainda pior - aquela que viveu seu único Grande Amor. O interessante do filme é notar como que a escolha da perspectiva de colocar os pobres como o pólo positivo não tem forças para se sustentar até o fim, convertendo-se no oposto. Os pobres são o que de melhor existe no mundo e, por isso mesmo, são sacrificados em nome da manutenção da ordem - o mesmo princípio do sacrifício da virgem. O mais perverso é que nossa perspectiva é a mesma da Rose, que ama aquele belo rapaz e que, portanto, não pode estar implicada em sua morte. </font></p> <p align="justify"><font size="4">Ao final, as duas falas mais significativas do filme são "eu sou o rei do mundo", pois toda a "vida" do filme se deve, de fato, a Jack, e "no final eu sempre venço", que o noivo-vilão da Rose fala pro Jack em certo momento. Ele é um dos sobreviventes do Titanic. Jack é daqueles que não existem... O mundo faz sentido porque os pobres são descartáveis, o que é uma pena, afinal é tudo tão alegre e puro. Mas é melhor que seja assim. </font></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-37197026559547186072014-11-12T06:22:00.001-08:002014-11-13T17:45:42.175-08:00Vertigo, ou a fantasia da realidade<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
<a href="http://lh3.ggpht.com/--IM_H69AjNU/VGNtET7OQUI/AAAAAAAAAlg/mEPyuEK6FLQ/s1600-h/Alfred-Hitchcock-poem%25255B4%25255D.jpg"><img alt="Alfred-Hitchcock-poem" border="0" src="http://lh6.ggpht.com/-0gfC2T4Xycw/VGNtFZ9pkgI/AAAAAAAAAlo/Nn1w7VtV3Pg/Alfred-Hitchcock-poem_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" height="400" style="background-image: none; border: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="Alfred-Hitchcock-poem" width="359" /></a> </div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">Em <i>Um Corpo que Cai</i> (<i>Vertigo</i>), o mestre Hitchcock está em sua melhor forma. Acredito que seu maior talento consiste em multiplicar camadas de significados sem que nenhuma delas rompa completamente umas com as outras, truncando o fluxo da narrativa. <i>Vertigo</i> é tudo o que Cristopher Nolan queria fazer em seu ambicioso <i>A Origem</i>, mas que foi perdido em um formalismo exibicionista. Aliás, revendo <i>Metrópolis</i>, de Fritz Lang, percebi que <i>A Origem</i> cai num problema similar ao proposto por aquele filme: como multiplicar camadas de significado sem fazer com que o público se perca completamente nas associações? A solução de ambos foi apelar para o didatismo, o que não tira a força de <i>Metrópolis</i>, especialmente por seu caráter alegórico que sempre direciona o sentido para outro lugar, mas empobrece muito a narrativa de Nolan, prendendo o espectador à forma e ao brilhantismo egocêntrico do diretor. Foi o preço pago pela inovação – as camadas de significado vão sendo inseridas bruscamente ao longo do filme por meio de cortes radicais que inserem novas camadas narrativas, e não uma multiplicidade de sentidos presentes desde o início. É o que Leonardo Di Caprio deixa bem claro, uma ideia bem simples (no fundo, uma questão de cunho comercial) que precisa se tornar um grande aparato hollywoodiano, o filme que assistimos. No frigir dos ovos, entretanto, a forma se sobressai e atoniza o conteúdo. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;">Desde a tomada inicial de <i>Vertigo,</i> Hitchcock deixa claro que seu assunto vai para além de (porém sem deixar também de ser) um simples caso de mistério. Ainda nos créditos iniciais a câmera focaliza o belo rosto de Kin Novak, para na sequência fechar em <i>close</i> primeiro na boca, e depois nos olhos da atriz. Está dado o mote da discussão que permeia todo o filme. Áudio-visual, o próprio cinema, o processo de (re)constituição da história para o espectador. O crítico Ismail Xavier costuma enfatizar bastante essa dimensão do cinema de Hitchcock, a genialidade com que o cineasta coloca em cena um terceiro elemento, o próprio expectador, ou melhor, seu olhar – outro clássico nessa linha é <i>Janela Indiscreta</i>, em que o cineasta coloca como protagonista (de novo James Stewart, espécie de Ivo Holanda inglês, aquele sujeito absolutamente comum) um detetive temporariamente impossibilitado de andar, e que por isso reconstrói um crime a partir de pistas tiradas do processo de observação das janelas dos apartamentos vizinhos. Dessa forma, seus filmes acabam por ser também discussões sobre seu próprio processo de constituição, requisito que os torna exemplares (ou quase) do cinema moderno, suscitando a admiração declarada de cineastas como Truffault. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;">No caso de <i>Um corpo que cai, </i>é clara a relação entre o detetive vivido por James Stewart e o espectador. O que acompanhamos no filme é a construção de uma fantasia, uma ficção feita para apanhar\cativar o detetive\espectador. No encontro inicial entre o detetive e o suposto marido, este constrói uma história que é uma total farsa, completamente absurda e inverossímil, que tornaria o filme mais próximo de um terror lado B mal feito. O detetive, como o espectador, a princípio não cai na lorota, mas por fim aceita a proposta que vai ser sua perdição: ao invés de negar completamente desde o início, aceita dar uma observada de leve na moça (igual aqueles filmes em que a gente diz, vou assistir só um pedacinho. Aberta essa concessão, tudo está perdido, e lá se vão hora e meia, no mínimo). No momento em que ele aceita o contrato, tudo se perde, e acompanharemos com ele a transformação daquela ficção inverossímil em verdade cinematográfica, com direito a história de amor romântica com macho protetor e fêmea inocente perdida. A genialidade do filme consiste, entre outras coisas, em não abrir mão por nenhum momento de seu caráter de história absurda - que fica ainda mais evidente pelo contraste com a rudeza da segunda parte, em que a moça é uma descarada (a típica mulher moderna para o cineasta, um tipo que ele detesta e sempre faz questão de desmascarar ou matar – veja <i>Os Pássaros</i>, <i>Psicose</i>, etc.) e o homem é um ser completamente em frangalhos. Acompanhamos a moça por cenários fantásticos típicos, como cemitérios, igrejas abandonadas, museus antigos, etc. A mensagem transmitida é bastante clara: vou construir para o detetive\espectador um cenário de novela romântica do século passado, só que deixando bem claro que não estamos no século passado, e fazer com que ambos embarquem completamente nessa fantasia e a sintam como realidade. Melhor ainda, vou nitidamente construir essa realidade na frente de seus olhos, e ainda assim você vai cair como um patinho. Alguém aí duvidou da morte da moça? Tanto o filme é sobre a construção desse olhar que o primeiro contato efetivo entre o detetive e a esposa só se dá depois de um longo tempo. Antes acompanhamos diversas sequências sem diálogo, em que a história é construída pelo diretor\marido para o detetive\expectador, até atingir seu clímax, quando Madeleine se atira ao rio, e seu salvador pronta e pateticamente corre para salvá-la. Sim, Hitchcock está nos tirando e manipulando o tempo todo nesse filme, desde o início. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;">Uma das cenas do filme é bastante paradigmática nesse sentido, sendo um dos marcos da história do cinema (Cristopher Nolan deveria ter mesmo feito um intensivão Hitchcock, e estudar essa cena por meses antes de se arriscar com <i>A Origem, </i>toda a idéia de multiplicação de camadas narrativas está contida nessa única cena), por conta da multiplicidade quase infinita de camadas de representação ali condensadas. É aquela em que o detetive segue Madeleine até o museu, e encontra a moça a olhar fixamente para um quadro, cujo figurino é bem próximo daquele que ela está usando no momento. Caso nos detivermos com atenção sobre aquilo que está sendo representado, é absolutamente impressionante a quantidade de multiplicação de olhares presentes na constituição daquela fantasia: nós espectadores estamos observando o detetive que está observando uma mulher que finge (representa) ser Madeleine que pensa ser uma mulher do século passado que observa um quadro de si que por sua vez já é uma representação de alguém. Ao fim dessa quantidade absurda de mediações, o que temos não é a verdade, mas outra representação, o quadro, onde tudo começa\termina, nos devolvendo o olhar e (re)começando o jogo infinito de espelhamentos. O cinema e a vida como processo de mediações infinitas é a raiz do mistério encenado pelo mestre do suspense e do cinema. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;">Mas o filme ainda vai além – estamos apenas na metade da história – colocando outras questões, como se não bastasse a reflexão feita sobre o olhar cinematográfico em uma nada convencional história de suspense. Além de acompanhamos a exposição do processo de construção dessa história estapafúrdia, fantasiosa, na qual embarcamos na maior boa vontade junto com o pobre detetive, o filme coloca em discussão ainda um segundo aspecto: o que acontece quando essa ficção claramente construída (ou seja, visivelmente artificial) nos é tirada abruptamente? A resposta é dada por aquela cena que mais parece uma viagem de ácido - outra ousadia técnica do filme, que utiliza inclusive animação – depois do julgamento do reino masculino do qual o detetive é banido por incapacidade (o desmoronamento da ficção do macho romântico protetor). É a perda da fantasia – e isso é fundamental - e não a perda da realidade, que causa o Trauma na personagem. O trauma é o fim abrupto da fantasia, a emergência do Real. A mensagem do filme não é, portanto, o lugar comum de que o cinema é uma ilusão onde o espectador é levado a um simples processo de fuga da realidade, etc. Muito mais complexo que isso, a ideia que se sobressai é a de que essa fantasia (incluindo a cinematográfica) é uma componente estrutural fundamental de nossa realidade, que configura e dá forma a nossos desejos. A rigor não existe realidade sem o suporte da fantasia. O oposto da fantasia não é a realidade, e sim o Real, traumático. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;">Na sequência do filme, pós-trauma, acompanhamos o distúrbio psicológico do detetive, que teve sua vida arrasada, ficando por um longo período internado. Mas mesmo após receber alta, percebemos que ele não consegue se recuperar completamente, vivendo sempre a procura de tudo que possa lembrar Madeleine, sem conseguir dar um rumo para sua própria vida, e muito menos descobrir alguma verdade por detrás dos acontecimentos passados. Acompanhamos uma subjetividade estraçalhada, não um homem preso num mundo de fantasias, mas (o que é muito pior) um homem sem fantasias. É aí que Hitchcock opera uma inversão genial no gênero policial - em seus grandes filmes ele sempre insere um elemento que rompe com o gênero em algum nível – ao fazer com que o protagonista descubra a verdade e se recupere do trauma não indo atrás de vestígios e buscando pistas que permitirão a dedução lógica da verdade (modelo policial clássico), mas fazendo o caminho inverso, mergulhando outra vez na fantasia, reconstruindo-a como ela foi, enquanto farsa. É só quando ele consegue reconstruir Madeleine tal qual ela era para seu imaginário - o que implica em um processo de violência masculina e de submissão da mulher a esse imaginário, pois o olhar que se constrói no filme é masculino, e culmina com a negação mais absoluta da mulher, sua morte, no momento em que encarna por completo o papel que a nega e constitui - é que pode finalmente superar seu trauma, conseguindo desvendar a verdade, com resultados também trágicos, diga-se de passagem, especialmente para a mulher. O filme trata do processo de construção da fantasia, e da fantasia cinematográfica pelo olhar, mas trata também do grau de realidade dessa fantasia, seu caráter de estruturação simbólica do mundo. Como mostra a cena do museu, nada existe para além da multiplicação infinita dos olhares e das representações, sendo a verdade a própria constituição desse processo. A realidade enquanto construção ficcional, ideológica, e o grau de realidade dessa ficção. O cinema e a Indústria Cultural não como máquinas produtoras de fantasias, e sim de realidades. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: large;">É pela complexidade das questões que suscita, sem perder seu caráter de entretenimento dos bons, que <em>Vertigo</em> é considerado um dos melhores filmes da história.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-956894347810599442014-11-11T20:28:00.001-08:002014-11-12T19:22:40.388-08:00Volta ao mundo em 23 Grooves<div align="center">
<img border="0" src="http://mlu-s1-p.mlstatic.com/rada-ruben-rada-fernando-pelaez-9210-MLU20012973607_112013-F.jpg" height="325" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="271" /></div>
<div align="justify">
O parceiro Breno, verdadeiro arqueólogo musical, montou uma playlist sensacional com groove, funk, aforbeat e outras pegadas matadoras pelo mundo afora. São 23 os países contemplados. É só ligar o som e aproveitar o resultado da pesquisa. Com o corpo. <em>Free your mind and your ass will follow</em> </div>
<div align="justify">
</div>
<h5 align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3759512253" name="gsSong3759512253" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=37595122&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=37595122&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Setlist%20Volta%20ao%20Mundo%20em%2023%20Grooves" title="Volta ao Mundo em 23 Grooves by Setlist on Grooveshark">Volta ao Mundo em 23 Grooves by Setlist on Grooveshark</a></span></object></object></h5>
1 - Alemanha – Ambros Seelos – Mabusso <br />
2 – Brasil – Banda Copa 7 no Samba <br />
3 – Cuba – Irakere – Bacalao con Pan <br />
<br />
<div align="center">
<img align="left" border="0" src="http://aseam.info/wp-content/uploads/2012/05/AMBROS-SEELOS-SHOWBAND-featuring-JOE-CURTIS.jpg" height="193" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="200" /><img align="left" border="0" src="http://orfaosdoloronix.files.wordpress.com/2013/02/copa-7-o-som-do-copa-7-1979-back.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="194" /><img align="left" border="0" src="http://www.parisdjs.com/images/farout/Irakere-Cuba_Libre_b.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="194" /></div>
<div align="center">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
4 – Dinamarca – Max Leth – Taboo <br />
5 – Etiópia – Mulatu Astatke – Yegelle Tezeta <br />
6 – Finlândia – Carita Holmström – Näät Vain Silmin<br />
<br /></div>
<div align="justify">
</div>
<div align="center">
<img align="left" border="0" src="http://static.idealdistribution.dk/gfx/item/image/029/5708564501029/max-leth-trio-quartet-2008-very-thought-of-you-the-cd.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="194" /><img align="left" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIKjNrQwcSFcty5WHQEiaPdSmYb-vcQAXrusVGOX2vktq9Yiu_3ubo1j-SXbS6sGspoucLp9r-6S7l2DQy7rZi5Jp-xbCIo_O47FDtkln79vA-PO_tAi7X22W4cUIfQR2NbpfPdKRv0wI/s1600/a+front.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="194" /><img align="left" border="0" src="http://i.ytimg.com/i/v8h-PId4te60Gy_uWiN0ZQ/mq1.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="189" /></div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
7 – Gana – Oscar Sulley – Olufeme <br />
8 – Hungria – Kovács Kati – Add már Uram az esőt <br />
9 – Irã – Mohammad Nouri – Biya Bar-e Safar Bandim</div>
<div align="center">
<br />
<img align="left" border="0" src="http://www.parisdjs.com/images/covers/parisdjs_afromash/Oscar_Sulley-Jemelatu_b.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="195" /><img align="left" border="0" height="199" src="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTOpbS__95kLURCaToQfQVI5x5b9kiUS7OBsWJ35iSBSETomTRv" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="200" /><img align="left" border="0" src="http://dlteh2.biz/Music/Piic/Mohammad-Nouri.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="168" /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
10 – Japão – Minoru Muraoka – Bamboo<br />
11 – Lituânia – Mirdza Zivere – Zozefino <br />
12 – Mali – Doumbia Moussa – Keleya <br />
<br />
<div align="center">
</div>
<div align="center">
<img align="left" border="0" src="http://i.ebayimg.com/00/s/NTYxWDcwOQ==/z/7FoAAOxySFJSDdhd/$(KGrHqJ,!lQFH4BMi(Y2BSDdhdNyY!~~60_35.GIF" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="183" /><img align="left" border="0" src="http://www.soft-tempo.com/records/images/jackets/sub/MIRDZA%20ZIVERE%20Viena%20Diena%20Mana%20Muza%20AL.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="182" /><img align="left" border="0" src="http://ring.cdandlp.com/afrocuban/photo_grande/1730209.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="164" /></div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
</div>
<div align="left">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
13 – Noruega – Dyp Av Nade – That’s Why <br />
14 – Otomana – Apaşlar – Gilgamis <br />
15 – Polônia – ABC – You Want Too Much</div>
<div align="center">
<br />
<br />
<img align="left" border="0" src="http://www.icrates.org/wp-content/uploads/2012/10/jmancd051.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="165" /><img align="left" border="0" src="http://i.ytimg.com/vi/H3RofO1Y3Fs/hqdefault.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="169" /><img align="left" border="0" src="http://i.ytimg.com/vi/qf_cFwzRRMs/hqdefault.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="181" /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
16 – Quênia - Mombasa - African Hustle<br />
17 – Rússia – Кругозор – 1978 <br />
18 – Suécia – EGBA Takdroop <br />
<div align="center">
<img align="left" border="0" src="http://ecx.images-amazon.com/images/I/61L6ECr2UTL._SL500_AA280_.jpg" height="198" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="200" /><img align="left" border="0" src="http://s019.radikal.ru/i604/1203/da/12d796d47cb5.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="185" /><img align="left" border="0" src="http://i.ytimg.com/vi/dgrgJ6Yapf8/0.jpg" height="174" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="200" /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
19 – Tailândia – The Petch Pin Thong Band – Soul Lam Plearn<br />
20 – Uruguai – Rubén Rada – Negro <br />
21 – Vietnã – Kim Sun – Cai Tram Em Cai <br />
22 – Xhosa – Miriam Makeba – Samba <br />
23 - Zâmbia – Rikki Ililong – The Hole<br />
<br />
<div align="center">
<img align="left" border="0" src="http://i.ytimg.com/vi/jk4r3Vj8p_k/hqdefault.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="185" /><img align="left" border="0" src="http://www.lmneuquen.com.ar/advf/imagenes/4ec8243de25e31.12864881.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="197" /><img align="left" border="0" src="http://www.gokpop.com/i1/news/2/7974-d06zfidsqk.jpg" height="200" style="background-image: none; border-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="166" /></div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
</div>
<div align="center">
<img align="left" border="0" src="http://www.allaboutjazz.com/coverart/2008/miriam_makeba.jpg" height="268" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="250" /><img align="left" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBFEylsSkiJJO6-g3AnTQN0MbuL1uWk0Xo76ao8vDNdwUZbwlH8fLHXToseaCEs7fdGfiDOvNYR33munO7V01wkgj-sVYLxkpppFqy_n0e1yLsJnGMxEVrlmfyw9pqgECAJzfcO0XwGEE/s1600/folder.jpg" height="268" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="259" /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-1076737652849938612014-10-11T11:33:00.001-07:002014-11-12T05:03:29.039-08:00Os Novos Navios Negreiros<div align="justify">
Por André Godinho</div>
<div align="justify">
<img border="0" src="http://expresso.sapo.pt/imv/1/934/967/article-2405792-1b84d0ba000005dc-195634-776b.jpg" height="280" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="417" /></div>
<div align="justify">
Como historiador e professor, sempre achei importante enfatizar a distinção entre trabalho assalariado e escravidão quando ouço ou leio pessoas tratando como a mesma coisa. Tipo “nada mudou com a Lei Áurea, a exploração continua a mesma!”. A isto, costumo responder: você faz ideia do que é a escravidão que existiu até 1888? Do que é uma pessoa ter seus filhos vendidos em leilões para quem pagar mais e você não poder sequer saber onde eles estão? Do que é uma pessoa viver trancada e acorrentada, do que é trabalhar sob a ameaça de armas, de troncos, chicotes e torturas como o pau-de-arara, usado na ditadura, mas cuja origem é escravista? Do que é seu patrão ter o direito legalmente garantido de fazer o que quiser com você (incluindo o estupro cotidiano, que era norma no Brasil), pois você não existe para o sistema jurídico a não ser como mercadoria?<br />
<br /></div>
<div align="justify">
Enfim, sempre achei muito perigoso o apagamento dessas distinções na crítica ao trabalho assalariado. Por que perigoso? Porque a escravidão, tal como existia em 1888 pode sim voltar. Isso parece absurdo pra quem acredita que a humanidade está “evoluindo” para formas mais “civilizadas” de exploração, mas essa crença é que é absurda.<br />
<br /></div>
<div align="justify">
Quer ver como este retorno de algo próximo do escravismo é possível? Assista um documentário chamado “Quanto mais presos, maior o lucro”. Tem só uns 15 minutos, é coisa rápida… É a distopia do retorno da escravidão, com elementos os mais perversos. Primeiro, sucateia-se o sistema penitenciário, que sempre foi desgraceira no Brasil e se estabelecem políticas deliberadas de aumento da violência e do pânico a respeito dela. Em seguida, se massifica as prisões, quase exclusivamente de cidadãos pretos, pobres e periféricos, se privatizam os presídios e se estabelece o trabalho neles, a princípio como forma de progressão de pena. Este trabalho consiste em produzir coturnos, uniformes, coletes a prova de balas, sirenes e outros artigos de uso militar, que servirão para a ampliação do sistema penitenciário semi-escravista. Quanto mais presos, maior o lucro.<br />
<br /></div>
<div align="justify">
O lucro está (como todo lucro) na exploração do trabalho, mas também no corte de gastos com os detentos e no mercado consumidor representado pela população carcerária e que é abastecida por monopolistas. São superlucros, tanto maiores quanto mais pessoas estiverem escravizadas, digo, detidas. Nos acordos efetuados entre Estado e empresas no Brasil, o Estado se compromete a manter pelo menos 90% das vagas ocupadas. Ou seja, se não há criminosos suficientes para encher as cadeias, é preciso “inventar” criminosos para cumprir os contratos. E isso, em parte, já acontece. Por exemplo, com a “guerra às drogas”, maior fábrica de escravos, digo, presidiários do Brasil.</div>
<div align="justify">
O modelo tem avançado muito nos EUA, juntamente com a militarização da segurança, que faz com que, por exemplo, cidadezinhas pacatas tenham tanques blindados fazendo sua “segurança”. No Brasil ainda está em fase experimental, mas tende a se ampliar, principalmente agora que existe uma perspectiva real de um de seus defensores mais decididos chegar à presidência. Aqui não é preciso militarizar a política de segurança, dado que ela já é totalmente militarizada desde a ditadura.<br />
<br /></div>
<div align="justify">
Caso se massifique, este sistema pode se tornar uma forma de escravidão moderna que aprimora o que ocorreu no Brasil até 1888, bem como o que ocorreu nos campos de concentração nazistas (na entrada do principal desses campos, Aushwitz, estava o letreiro com seu lema “Arbeit Macht Frei”, ou seja, “O trabalho liberta”). A comparação vale inclusive quanto à relação de tudo isso com o racismo. Qualquer estudo sério sobre sistema prisional no Brasil chega à mesma conclusão e é preciso ser estúpido (ou, mais provavelmente, um privilegiado cínico) pra negar essa realidade: quem tá na cadeia no Brasil não é quem comete crimes graves, é quem é pobre, preto e periférico, independente da gravidade de seus crimes e em muitos casos independente até de terem ou não cometido crimes, dado que em grande parte eles não foram julgados.<br />
<br /></div>
<div align="justify">
Da tragédia que foi a escravidão até o século XIX só estaríamos livres de seu caráter hereditário e da possibilidade de venda de seres humanos no mercado. Ainda assim, esses pontos são um pouco relativos. A redução da maioridade penal taí, como grande pauta eleitoral, e pode cair ainda mais no futuro. Ela não tornaria a exploração hereditária, mas normalizaria a exploração de trabalhadores cada vez mais jovens. Quanto ao mercado de escravos, a custódia sobre os presos mais próprios para o trabalho está sendo negociada. No presídio privado de Minas, que é uma experiência padrão no Brasil, são negados aqueles que não servem aos lucros. Fala-se abertamente que o objetivo é ter apenas escravos, digo, detentos, aptos e dispostos ao trabalho. O resto é jogado nas masmorras de sempre, para apodrecerem e morrerem. E em breve a pauta da pena de morte deve retornar para dar um destino a eles – como em Auschwitz, afinal…<br />
<br /></div>
<div align="justify">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6O7qUs7iqI8VXjS-6ISEJqVFG5BIaIZByblzYYy7OmUpFyJYkE5QXwnxhaJr6OJhM0ZBYO5bqane1Ym3tvxbvsHEuvpZoPEHwT3MrkrfeGXtPYU9ENNjCBI9pblQv8mOSB17AkimaEfk/s1600/46a15f1.jpg" height="262" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; margin: 0px 0px 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="410" /><br />
<br />
Também se poderia objetar que o preso segue sendo um sujeito do direito, diferente do escravo. Porém, o trabalho de desumanização da população carcerária (e dos periféricos em geral) aos olhos do restante da população está a todo vapor e as empresas que administram essas novas senzalas, digo, cadeias, pretendem ser responsáveis também pela parte jurídica da coisa. Em outras palavras, eles serão responsáveis por defender nos julgamentos os presos que geram lucros pra eles. Eles vão querer que um inocente seja inocentado, quando este inocente trabalha para gerar lucro? Se um preso é torturado e decide contar isso ao advogado para que a tortura acabe e seu advogado trabalha pra quem o torturou, esse advogado vai de fato trabalhar para que a tortura acabe?<br />
<br /></div>
<div align="justify">
Veja bem, a população carcerária cresceu 380% desde os anos 90 e a insegurança só aumentou de lá pra cá. O objetivo dos encarceramentos massivos não é a diminuição da violência, até porque a maioria dos encarcerados não cometeu crimes violentos. Num sentido ainda mais forte e mais perverso do anterior, de quando as cadeias eram apenas masmorras, torna-se cada vez mais realidade a frase “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”. Antes as famílias, os povos, as culturas destroçadas na África para produzir lucros no Brasil a serem remetidos à Europa. Hoje as famílias, os povos, as culturas de origem africana destroçadas nas periferias brasileiras. A articulação entre racismo, violência estatal, militarização e neoliberalismo leva à criação de imensos campos de trabalhos forçados, como aquele para 10 mil pessoas que o Alckmin está fazendo em São Paulo para entregar à iniciativa privada.<br />
<br /></div>
<div align="justify">
<img border="0" src="http://i.guim.co.uk/static/w-700/h--/q-95/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2014/4/28/1398693916605/Miss-Rodeo-Louisiana-Hann-011.jpg" height="285" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="417" /></div>
<div align="justify">
<br />
Ocorre que são trabalhos forçados vigiados por câmeras, biometria e armamentos de alta tecnologia e não por feitores e capitães do mato, que só contavam com arcabuzes, chicotes, correntes… A tecnologia dificulta a resistência, e é de se perguntar: Palmares seria possível num sistema desses?</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-17181083048004458262014-10-07T14:13:00.001-07:002014-11-12T05:05:04.354-08:00A HEGEMONIA DO PICOLÉ DE CHUCHU COM PIMENTA<div align="justify">
Contrariando a sabedoria pragmática de José Dirceu “é hora de campanha, não de avaliação", decidi entrar na campanha ferrenha escrachada anti Aécio Never e, ao mesmo tempo, fazer uma avaliação pessoal do que aconteceu em Sampa. Por tópicos, porque assim é mais gostoso.</div>
<div align="justify">
<img border="0" src="http://i.huffpost.com/gadgets/slideshows/353513/slide_353513_3844914_free.jpg" height="260" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="398" /></div>
<div align="justify">
<i>Não é preciso ficar de luto quando não existe um cadáver a ser velado</i> </div>
<div align="justify">
Alguns dias atrás, no maravilhoso reino azul facebookiano de discussão política, parecia um absurdo a vitória do Alckmin. Ninguém parecia acreditar que diante de problemas tão críticos como má administração, corrupção, falta crônica de água e uma polícia absolutamente incapaz, o picolé de chuchu fosse se reeleger. As pesquisas só podiam estar sendo manipuladas. Mas a vitória veio, e de forma contundente. Humilhante. E no meu facebook, que parece um velório com o direito a foto de luto e tudo o mais, o que mais se compartilha é certa sensação de absurdo, de incompreensão profunda. Afinal, é LOGICAMENTE impossível acontecer o que aconteceu. Contudo, creio que só poderia existir um velório se realmente houvesse um corpo a ser velado, ou seja, se tivesse alguma coisa viva antes e que morreu com a vitória do careca. Mas passado esse momento de apego imaginário ao fantasma, acho que é hora de assumir que, se o digníssimo senhor governador só perdeu em UMA única cidade do estado, é sinal de que a incompreensão e a falta de lógica estão muito mais do nosso lado do que nas obscuras intenções do eleitorado paulistano. Classificar como absurdo o que é de uma evidência esmagadora (novamente, apenas UMA cidade não optou por Alckmin) é um grande sinal de miopia e impotência. Portanto, não pode haver um velório, pois o que foi dado como morto desde há muito é algo imaterial e fantasmagórico. </div>
<div align="justify">
(Eu imagino o picolé de chuchu dando uma sacada no facebook da oposição, só por diversão, antes das eleições e com a torneira totalmente aberta: “kkkkk... eles REALMENTE acreditam que não faz sentido a minha vitória. Vou mijar na Cantareira pra comemorar”. Se a oposição só consegue representar sua vitória esmagadora enquanto absurdo incompreensível, é evidente que ela será absolutamente incapaz de articular uma forma contundente de reação de modo a atender\subverter o desejo perverso do eleitorado. Pois é justamente do núcleo desse desejo do eleitor que ela se afasta – repetindo a incapacidade de “compreender” os sentidos das manifestações de Junho).</div>
<div align="justify">
Em certo sentido, essa incompreensão é a marca maior da vitória do PSDB em São Paulo, que corre o risco de se transformar em vitória federal, se não agora, nos próximos quatro anos. A questão não é de VER, pois o que se disputa não é o Real, mas seus sentidos, que são simbólicos e estão sendo colonizados pela mídia vampiresca, que adora o sangue, pela gestão política do terror e pelo fundamentalismo legitimador do ódio. O que todas essas esferas conservadoras têm em comum é que nenhuma delas esconde a miséria em que vivemos. Ao contrário, se alimentam dela. É um erro achar que eles escondem essa realidade - e que, portanto, a solução é mostrar como as coisas estão, de fato, ruins. Pois as coisas estarem ruins é seu ponto de partida. Não se trata de uma disputa pela realidade, e sim pela gestão do imaginário - é nesse ponto que a esquerda (no campo da imaginação, cada vez mais burocrática – daí o clamor de Badiou por uma “hipótese” comunista) vem sendo sistematicamente deslegitimada. Esquematicamente, podemos dizer que o fato da aprovação refletida nas urnas do governo Alckmin retornar para a oposição enquanto enigma, sendo ela tão contundente, é sintomático da distância que separa a entidade “o povo” dessa mesma oposição que os diz representar.</div>
<div align="justify">
<img border="0" src="http://www.conversaafiada.com.br/wp-content/uploads/2014/10/aguimin.jpg" height="226" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="394" /></div>
<div align="justify">
<i>O fetiche liquido</i> </div>
<div align="justify">
A água se tornou o grande fetiche da frente opositora. Foco privilegiado dos ataques, na verdade revela-se mais enquanto um sintoma da incapacidade de se enfrentar o bicho de frente, qual seja, a identificação perversa de TODO eleitorado – pobres e ricos - com a política linha dura do governador. (Aqui cabe um parêntesis, porque afirmar que todo mundo optou pelo Alckmin é desconsiderar um aspecto importante, de que 40% do eleitorado paulista, entre brancos, nulos e indecisos, não votou. Talvez seja esse o ponto, inscrito no interior de uma política partidária que mostra sinais de esgotamento, que concentra o verdadeiro sentido político dessas eleições, para o qual ainda não se encontrou modelos alternativos efetivos). A mesma linha tênue e complexa que une mídia vampiresca viciada em sangue (Datena), fundamentalismo violento neopentecostal, para quem o ódio é uma virtude (Silas Malafaia) e a boa e velha política do medo. Ao invés de atacar o cerne dessa identificação, com medo de assustar o eleitor, a oposição tentou um desvio de foco para uma questão importante, porém periférica - (bem diferente da estratégia do PSDB em associar o PT à corrupção, pois ser o lugar da ética fazia parte da auto-representação do PT enquanto esquerda. Ou seja, era um ponto estruturante de sua imagem). Aí fica fácil, pois é só Alckimin dizer que o problema é de São Pedro, e não de administração, porque a administração dele funciona maravilhosamente bem no que ela se propõe: tratar pobreza como crime ou, em seus termos, ser duro com os vândalos e marginais. Não é outra coisa que se espera dele, e não é por outra razão que ele é eleito. Ora, matar pobre é especialidade do PSDB, e escolher competir com eles nessa área é burrice. Nem Skaf nem Padilha propunham nada de diferente nesse sentido, e se a direção buscada por todos, ricos, pobres, “esquerda” e direita é o de eliminar o marginal, melhor mesmo ficar com o PSDB, que faz direito e sem falso remorso de ex-militante. Focar na água não deixa de ser um fetiche líquido que permite escapar ao essencial, na linha, aliás, do Hadadd tranquilão, que anda de bike, mas não tem peito para enfrentar o PSDB em sua política de extermínio. Inclusive na época das manifestações, quando podia ter se afastado do governador para afirmar sua autonomia, preferiu manter-se ao lado deste. O PSDB não ganhou do PT, foi muito mais uma vitória por W.O. </div>
<div align="justify">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrC3bbPsZ7TSNz96Qlo49M9TByzfvkY7qsXgSKqFCtC6a7XyWxrTrTLC3um63MDMQWouyecI2j3D7eyLM-sWCwNFx77hZ79PlfgJbflSNX8QEfkAqOch6EBNmT-FgsM7naBME3JimUuHlz/s640/Foto+Blog+capa+veja+tropa+2.jpg" height="346" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="262" /></div>
<div align="justify">
<i>A lição NÃO aprendida de Capitão Nascimento</i></div>
<div align="justify">
Devemos voltar a 2007, o ano em que o cinema nos deu uma lição que a esquerda se recusa a compreender. Tropa de Elite I não é um pesadelo reacionário, ou um filme facista, mas uma expressão das mais bem acabadas do cenário brasileiro contemporâneo. É o que nos define, o que define o Brasil em plena euforia lulista, e cujo nó ainda não foi desvendado. Nem mesmo o próprio diretor teve coragem para enfrentar o bicho, recuando no segundo filme para sua zona de conforto (petista, como afirmou Reinaldo Azevedo, acertadamente) em defesa de pautas generalizantes como o “fim da corrupção”, ou o “fim da polícia”. Recusando-se, assim, a entender o fenômeno descoberto pelo primeiro filme (sem querer, é bom lembrar, pois o cap. Nascimento cresceu com o filme, que seria sobre Matias), cujo resultado prático - aguardando interpretação - estamos acompanhando nas urnas agora. Eu e o César Takemoto chamamos esse movimento na época de “recuo conservador à esquerda”, e os efeitos desse movimento na atuação política no estado de São Paulo são evidentes. </div>
<div align="justify">
Existe uma linha tortuosa que vai de Tropa de Elite I até as manifestações de Junho, assim como uma evolução da figura de Cap. Nascimento para a de Silas Malafaia. Cap. Nascimento “retira o lixo” de maneira absolutamente eficiente – leia-se toda sorte de marginais, professores, intelectuais esquerdopatas, maconheiros, dependentes químicos – mas os custos psicossomáticos da guerra são muitos. Silas Malafaia, por sua vez, é tão eficiente quanto, e os custos psicossomáticos são atenuados por conta do passaporte para o céu a benção direta do Pai maior. Há um avanço considerável em termos de barbárie quando você transforma “marginais” em “infiéis”. A glorificação neo-pentecostal do sucesso tem uma contraparte perversa cujos efeitos podem ser devastadores se a moda pega. Nesse caso, os fracassados não estão simplesmente condenados ao inferno, e sim são os próprios portadores do demônio e, como tal, tem todo direito de ser hostilizados, discriminados e até fisicamente agredidos – não é esse o tratamento que Malafaia sugere que seja dado aos homossexuais? Nesse sentido, o fundamentalismo evangélico corrige o recuo de “Tropa de Elite II”, fruto de fraqueza politicamente correta. Pois o fundamentalista não corre o risco de descobrir que seu empregador tem falhas, ou que é corrupto. Afinal, trata-se do próprio Deus em pessoa. </div>
<div align="justify">
<i><img border="0" src="http://www.pos-quim.com/thumb1.asp?img=upload/post-image-8316-2013613232722.jpg&w=400" height="211" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="337" /></i></div>
<div align="justify">
<i>Apertem os cintos, o PT sumiu</i> </div>
<div align="justify">
Na colocação excelente de Douglas Anfra, a reeleição do picolé de chuchu tem dois pontos de força distintos a ser considerados. No interior, reduto histórico do PSDB, é “fácil” entender o que aconteceu, pois a imagem do eleitor coxinha e elitista cai como uma luva. O PSDB manda e desmanda por ali, inaugura obras o tempo todo, enquanto o PT só aparece elogiando o governo federal e pouco faz de imediatamente visível. O PSDB é a imagem na qual o eleitorado paulistano gosta de se reconhecer – e democracia representativa se trata exatamente disso, de escolha da auto-imagem, que as vezes coincide com a realidade, mas cujo foco é o imaginário –inclusive em suas dimensões negativas. A velha história de comer mortadela e arrotar caviar, o que se “justifica” ainda mais se a mortadela efetivamente for mais bem temperada que no resto do país. A narrativa ali está bem consolidada e cai como uma luva, assim como a associação das elites paulistanas torcedoras do São Paulo com o PSDB. O recorte de classe ajusta-se perfeitamente nos dois casos, e a imagem da oposição popular é rapidamente acionada. Entretanto, a vitória foi esmagadora, e não é possível esconder que quem elegeu o Alckmin foi a massa corintiana, moradora dos bairros populares, zona Sul de mano Brown e zona Leste inclusos. E mais, a massa corintiana, fundamentalista, morta de sede – ou seja, uma imagem do “povo” bem pouco domesticada e muito mais ameaçadora para esquerda. Sem dúvida não era essa “massa corinthiana” que o PT tinha em mente ao buscar uma associação simbólica: Corinthians time do povo, PT partido do povo, com um presidente boa praça e corinthiano roxo (Aliança, aliás, que extrapola o campo simbólico, pois o partido apostou (mal) suas fichas na candidatura do Andrés Sanches). A primeira saída para o paradoxo “conceitual” – pobres que votam, em massa, no partido “dos ricos” – é a boa velha teoria da alienação das massas, os pobres cooptados pelos discursos da elite paulista, a mais antipopular do Brasil (Veja e Folha de São Paulo). Ou a teoria dos pobres que querem pagar de elite, na mesma lógica do funk ostentação. Não cabe aqui analisar os fundamentos das duas hipóteses, mas haja vista o caráter imediato das duas como resposta para derrota esmagadora do PT, salta a vista que seu principal objetivo é a manutenção de seu conceito – primeiro passo para continuar na derrota - sustentando a imagem tanto do povo quanto do partido que o representa: um pobre que vota no PSDB só pode estar “traindo” a sua classe, assim como um pobre torcedor do São Paulo, ou do Fluminense. Com isso, a questão decisiva fica colocada em segundo plano. Afinal, de que maneira o PT cumpriu essa função de partido popular no estado de São Paulo, a ponto de vencer apenas em uma única cidade? </div>
<div align="justify">
(Aliás, a linearidade da narrativa que pinta São Paulo como essencialmente conservadora desde os bandeirantes tem lá seu fundamento, mas não dá conta de explicar a vitória do Hadadd – ou da Marta e da Erundina. Nem explica como os movimentos de resistência periférica têm em São Paulo uma grande representatividade. E o que é mais importante, “esquece” que o PT surge em São Paulo, em sua faceta mais progressista e radical de esquerda. Se não é necessariamente “falsa” a tese do conservadorismo congênito de Sampa, ela precisa ser muito melhor compreendida e, sobretudo, não serve como explicação última e suficiente para explicar a derrota esmagadora do PT. Inclusive poderíamos sustentar uma outra interpretação, tão frágil quanto a primeira: se o PT surge em São Paulo vinculado a lutas históricas dos trabalhadores, não seria esse o lugar ideal para se perceber que aquele projeto radical de base foi traído?) </div>
<div align="justify">
Ao aceitarmos a análise lúcida de Laura Capriglione em “A necessária renovação do PT e o vexame no Estado de São Paulo” <a href="https://www.blogger.com/[http://bit.ly/1t0yxzx" target="_blank">[http://bit.ly/1t0yxzx</a>], podemos concluir que não foi lá muita coisa o que o PT fez no estado nesses últimos tempos, pra dizer o mínimo. O PT não fez uma oposição rigorosa ao PSDB, quase não denunciou, desvinculou-se de suas bases populares. Fez uma campanha “coxinha” em Sampa, com medo de afastar eventuais eleitores tucanos. Em linhas gerais, optou pela governabilidade em detrimento de apoiar suas bases sociais históricas. Nesse cenário, a opção colocada ao eleitor paulistano não era entre a continuidade e a renovação (PT como renovação?), e sim escolher entre aquele que vem sistematicamente se omitindo e o outro que aparece fazendo alguma coisa, independente do que seja. Pois em termos de consolidação da barbárie é inegável que o tucanato trabalha muitíssimo bem, da forma mais clean possível: Alckmin venceu não porque tem condições (ou vontade) de impedir outro massacre do Carandiru, mas para poder repeti-lo de forma mais eficiente, ou seja, sem fazer da morte de marginais pretos um escândalo, e gastando o mínimo possível. Capitão Nascimento foi saldado como um verdadeiro herói pelo grosso da população brasileira. Ora, se o projeto defendido é esse, e o PT não apresenta uma alternativa real, para que mudar? O PT perdeu sim, mas não porque o eleitor escolheu o conservadorismo de direita em oposição a uma opção de esquerda. Novamente, o PT perdeu de W.O. ao aceitar que a direita sequestrasse sua pauta. E se o governo federal seguir nessa aproximação com a direita vai perder as eleições, se não esta, a próxima, cujo resultado não vai ser uma direita mais social, como adverte o professor Boaventura dos Santos, e sim uma direita mais miséra do que nunca.</div>
<div align="justify">
<i><img border="0" src="http://www.jornalpalavracrista.com.br/admin/archives/image/a%20pr_%20everaldo%20calkimin_.JPG" height="247" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" width="345" /></i></div>
<div align="justify">
<i>Do pastor-marginal ao pastor-policial</i> </div>
<div align="justify">
Em 1998, os Racionais lançavam o clássico disco <i>Sobrevivendo no Inferno</i>. A estrutura do álbum lembrava uma espécie de culto profano (pra quem não lembra, começa com uma oração de fechamento do corpo do guerreiro, depois a passagem do Gênesis e o discurso do pastor – cap. IV, v. III – seguido de testemunhos de irmãos) em que o pastor era um ladrão que não abaixa a cabeça diante da injustiça social, protegido por Deus e pelos Orixás. Muitos acusaram o disco de fazer apologia ao Crime, ainda que em todas as músicas o caminho do crime fosse recusado, não por ser eticamente condenável (a fome que é), mas porque seu resultado inevitável, sem a organização política da periferia, é a morte do preto pobre. O resultado, esteticamente extraordinário, era de uma arte comprometida com a sobrevivência de todos os seus irmãos da periferia, inclusive os criminosos, que não compactuava com o crime em nenhuma instância, pois era óbvio que o principal criminoso era o Estado carniceiro. Uma ética implacável e radical, explosiva em termos sociais, em que os marginais são vistos como os únicos capazes de civilizar o país. </div>
<div align="justify">
Como toda obra de relevância estética profunda (obra de arte), o disco antevia que a disputa política essencial de nossa época se daria em termo de luta pela salvação da alma. Entretanto, a esquerda no poder, preocupada com a governabilidade, não engrossou a disputa, e o poder político do movimento cultural de periferia não conseguiu a emancipação plena de seus trutas de batalha. Como resultado, a consciência periférica do rap deu com os burros n’agua (ou na mediania de mercado), transmutando-se em funk ostentação (que ao invés de procurar formas de criar um poder real contenta-se com a espetacularização soberba de sua própria impotência), enquanto o pastor-marginal “evoluiu” para o pastor-policial, defensor da ordem pela força. O pastor-marginal do rap tentava forjar a centelha divina em seus irmãos de modo a evitar um novo massacre do Carandiru. O pastor-policial fundamentalista justifica o massacre ao considerar os presos como infiéis portadores do demônio. Na disputa pela alma da periferia, que se faz com verdadeira política, a direita saiu na frente e dominou a cena. O barato é loko.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-52377047278895228172014-06-06T15:59:00.001-07:002014-11-12T05:05:32.209-08:00O velho tarado e o velho hipocondríaco: Wood Allen e Bukowiski<div align="justify">
<img src="http://37.media.tumblr.com/b224ad16a351dede137c64d5556138b8/tumblr_mvt7aii0NR1s43szvo1_400.jpg" height="370" style="display: block; float: none; margin: 0px auto 5px;" width="370" /></div>
<div align="justify">
Nunca tinha lido direito o velho Bukowski, até que meu anfitrião Hermes num gesto de pura bondade me atirou um exemplar dele em mãos, na hora certa, ou melhor, na hora mais errada possível. Ou seja, na hora perfeita. Não sei bem porque - acho que é porque andei conversando sobre ele por aqui – eu comecei a pirar em possíveis conecções entre o velho tarado e o velho hipocondríaco Wood Allen. Mas desconfio que seja porque nesse livro que estou lendo – Mulheres – as críticas são direcionadas ao mesmo círculo social dos filmes do Wood Allen – a elite bem pensante americana, com suas manias, chiliques e vacuidade. Contudo, mesmo nos filmes em que Allen assume a persona de um escritor, como Bukowski, a distância entre as perspectivas é quilométrica. Wood Allen critica o tempo todo esse mundo, o rídiculo de seus gestos e rituais, ironizando-o com muito mais sutileza e minúcia do que o Bukowski. Mas o faz como quem ama: Allen é apaixonado por esse mundo, por isso, sua ironia como que deseja a aprovação de seus pares. É fácil encontrar esse tipo de personalidade em romances realistas, ou nos bares cults universitários – o cara que critica todos os hábitos, personagens e contradições do meio artísitco\universitário, sem abrir mão de citar uma bibliografia irrepreensível, com pronuncia impecável inclusive para os do leste europeu (aqueles que nem no próprio país existe consenso), fazendo uma pausa dramática para encontrar a citação exata. Tudo isso, evidentemente, em uma mesa de bar – o lugar mais adequado, diga-se de passagem. Em comum com o velho tarado, somente o fato de que também nesse caso os homens se utilizam disso só pra comer mulher (Allen deixa isso claro). Mas suas críticas sempre revelam uma dimensão última de encantamento, sublimação, que escapa completamente do velho autodestrutivo Buck. </div>
<div align="justify">
Para dar conta da distância, basta dizer que esse universo intelectual\artístico\cult cumpre em Wood Allen a mesma função que para o protagonista de “Mulheres” é ocupado pela cerveja, que claramente prefere beber a foder, e sempre trepa como quem está bêbado pra cacete, mesmo nas raras vezes em que está sóbrio.</div>
<div align="justify">
“Fiquei só de cueca e deitei na cama. Nada estava em sintonia, nunca. As pessoas vão se agarrando às cegas a tudo que existe: comunismo, comida natural, zen, surf, balé, hipnotismo, encontros grupais, orgias, ciclismo, ervas, catolicismo, halterofilismo, viagens, retiros, vegetarianismo, Índia, pintura, literatura, escultura, música, carros, mochila, ioga, cópula, jogo, bebida, andar por aí, iogurte congelado, Beethoven, Bach, Buda, Cristo, heroina, suco de cenoura, suicídio, roupas feito a mão, voos a jato. Nova York, e aí tudo se evapora, se rompe em pedações. As pessoas têm que achar o que fazer enquanto esperam a morte. Acho legal ter uma escolha.</div>
<div align="justify">
Eu tinha feito minha escolha. Ergui a garrafa de vodka e dei um vasto gole. Alguma coisa aqueles russos sabiam”.</div>
<div align="justify">
<img align="left" src="http://www.oomska.co.uk/wp-content/uploads/2010/03/annie_hall_3.jpg" height="295" style="display: inline; float: left; margin: 0px 0px 5px;" width="223" />Daí inclusive a riqueza e a minúcia do olhar de Allen para as sutilezas, as pequenas paixões, que não poucas vezes nos encantam. A sua ironia capta detalhes como só um amante apaixonado é capaz, e quanto mais ele ironiza mais complexo e encantador aquele mundo se revela. É preciso reconhecer que ele explora muitíssimo bem as limitações de seu olhar – reconhecendo até onde é capaz de ir (afinal, cada filme seu é uma longa sessão de análise) para a partir daí captar beleza e fragilidade. Quando acerta a mão, a fórmula tem grande rendimento estético: em uma cena magistral de Annie Hall, um professor arrogante está na mesma fila do cinema que Allen, “explicando” a obra de Marshall Mcluhan para impressionar uma garota. A personagem de Allen então se irrita e, como vingança, convoca o próprio Mcluhan – e o personagem é vivido pelo próprio intelectual, que faz uma ponta no filme – para desqualificar os argumentos do professor pedante. Qual frequentador de círculos cults nunca sonhou em fazer isso? É uma cena genial que, contudo, não deixa de revelar algo sobre esse “desencantamento apaixonado”. Caso fosse, digamos, o Machado de Assis a compor a mesma cena, é bem provável que aparecesse o intelectual errado para deslegitimar o professor. O Bukowski então nem estaria naquela fila, mas se por um improvável acaso ele estivesse, o máximo que poderíamos esperar é que ele tentasse trepar com a mulher do professor. Não ouviríamos o argumento do cara, e muito menos qualquer intelectual apareceia enquanto figura de autoridade (mesmo que ironica). Para seus personagens, aquele universo só vale alguma coisa porque as mulheres são mais gostosas, e porque daquele jeito ele não precisa pegar no pesado pra viver. É claro que há algo de encenação, e ele também está representando para se dar bem naquele meio, como o Allen. Mas aqui não há nenhuma admiração. As mulheres são gostosas, o trampo é sussa, e ponto. Ele está naquele mundo como alguém que trabalhou no matadouro, nos correios, e ainda pira em lutas e apostas. A admiração – masculina - que ele procura é a dos caras que tramparam com ele. E não porque ele é um escritor de sucesso, mas porque com esse trampo ele consegue comer várias menininhas.</div>
<div align="justify">
Em outra cena do mesmo filme, a personagem de Allen acaba trepando com uma poser ultra afetada, que no fim da foda termina dizendo que a transa tinha sido kafkiana – no que ele responde na lata, impecável: isso é bom ou ruim? É óbvio que nesse caso a sacada importa mais do que a trepada, e é óbvio que esse comentário desvela o quão poser é aquela mulher, e o quanto que nós (Allen e nós espectadores) sacamos do universo kafkiano. Já com o Bukowski, cada uma das suas centenas de trepadas – eis o grande mistério: como ele consegue fazer com que tanta mulher queira trepar com ele, não a primeira vez, que é compreensível, mas as outras vezes.. porque, afinal, elas voltam, como quem volta para a morte – é um universo feminino insano e maravilhoso que se abre. A impressão e o desejo é que cada uma delas teria um livro maravilhoso para ser escrito a partir de sua perspectiva. Mas como ele mesmo faz questão de afirmar enquanto trepa, ele é a morte. Nada pode brotar dali: essa escrita feminina, naquele contexto, não é possível.</div>
<div align="justify">
Ao final dos filmes de Allen – creio que não todos – aquele universo termina, de alguma forma, redimido. Não é o melhor dos mundos – afinal, é frequentado por quase as mesmas personagens dos livros de Bukowiski – mas.. puta, que delícia. Já para o velho tarado, toda aquela porra não vale uma cerveja quente.</div>
<div align="justify">
“Quando acordei, ouvi-a no banheiro. Será que eu deveria ter forçado a barra? Como saber o que fazer? Em geral, pensava eu, é melhor esperar, se você tem algum sentimento pela pessoa. Se você a detesta logo de cara, o melhor é já ir trepando; senão, era melhor esperar, depois trepar e deixar para detestá-la mais tarde”. </div>
Esse é o universo do velho pervertido.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-43823649581155781392014-05-13T06:27:00.000-07:002014-11-12T05:47:44.344-08:00Sobre macacos, bananas e coxinhas.<div align="center">
<img src="http://www.plox.com.br/sites/default/files/2014-ABRIL/txt-daniel-alves-banana.jpg" height="207" style="margin: 0px 0px 5px;" width="364" /></div>
<div align="center">
<strong>I</strong></div>
<div align="justify">
O gesto de Daniel Alves de comer a banana atirada em campo por um torcedor europeu racista foi genial em sua pureza plástica e simplicidade. Sua riqueza, no entanto, é fundamentalmente estética, devendo sua “radicalidade” ser apreendida nesses termos. Dessa perspectiva, tornam-se injustas as acusações de falta de gravidade, ou “seriedade” de seu gesto – para Douglas Belchior, por exemplo, em artigo para Carta Capital, Daniel Alves só pôde “ignorar” a banana devido a sua posição de classe, não podendo seu gesto servir de base ética para o combate ao racismo que cotidianamente atinge pretos pobres das periferias de todo mundo. Contudo, se é verdade que o gesto não pode ser transposto imediatamente para o campo político sem converter-se em mera ideologia, é verdade também que o jogador fez mais do que simplesmente “ignorar” o racismo. De fato, o impacto de sua atitude consiste precisamente no contrário, no fato dele (ou a agencia de publicidade, eis a questão) ter proposto uma reação ativa a uma atitude que pretende colocar a vítima em posição de subordinação e passividade. </div>
<div align="justify">
Da mesma forma são apressados os argumentos que sugerem que o gesto de Daniel só gerou grande repercussão porque o jogador é famoso (contudo, é verdade que toda repercussão deve-se em grande parte ao agenciamento do gesto pela campanha publicitária). Balotelli é ainda mais famoso que Daniel Alves, mas seu choro não gerou nenhuma mobilização em massa. Com todo o respeito devido a sua dor, o choro negro do atacante do Milan faz parte do roteiro normatizado concedido cotidianamente aos humilhados, onde aquele que se “solidariza” da dor do Outro goza duas vezes, tanto com a humilhação que confirma sua superioridade quanto com seu altruísmo, que alivia a consciência. É a linha por excelência dos programas que “realizam os sonhos” dos mais pobres, como os do Luciano Huck, e de filmes hollywoodianos que focam no sofrimento das minorias. O gesto de Daniel, ao contrário, bloqueia o gozo e expõe o vazio do desejo do Outro, deslocando a banana do roteiro imaginário racista, deixando-a pairar enquanto fundamentação absurda. Lembra-nos radicalmente que o conceito de raça não existe para além dessa ridícula banana. Ao expor brilhantemente o que de fato é uma banana, o gesto escancara a fratura que se inscreve em toda estrutura ideológica, revelando a fragilidade profunda do sistema racista, sustentado pela Coisa absurda e sem sentido. </div>
<div align="justify">
Daí o equívoco de considerar que Daniel Alves não tenha tratado com a devida seriedade o absolutamente grave tema do racismo: como bem nos demonstra as fábulas kafkianas, os quadrinhos de Alan Moore e alguns filmes de Glauber Rocha, o mais trágico do poder é ser ele fundamentalmente ridículo, estruturando-se não raramente enquanto uma piada de mal gosto. A forma de seu conteúdo trágico é cômica e farsesca, e sua força decorre precisamente daí – basta nos recordarmos da infame inscrição pendurada na entrada de Auschwitz, “o trabalho liberta”, talvez a suprema piada – o ideal de Rafael Bastos e Danilo Gentili – que torna impossível todo humor. Não é apenas a interpretação crítica do sintoma que possibilita a criação de gestos de resistência e superação: as vezes o necessário é exatamente o oposto, e essa é a aposta da marcha das vadias, por exemplo, que com sua alteridade radical preenche o lugar que para o opressor deve permanecer fundamentalmente vazio. Assim como o agressor machista “sabe” que a mulher não é uma vadia, o agressor racista “sabe” que o negro não é um primata. É o distanciamento desse saber que põe em movimento a dinâmica da agressão, a subordinação socialmente condicionada a um falso papel, sem fundamentação que não o imaginário do opressor. Ao se confrontar esse lugar do saber deslocando seu papel determinado na rede significante – não com um “eu não sou isso que você diz”, que já é incorporado de saída pelo gesto opressor, mas com um “eu sou isso que você diz, justamente porque você não sabe aquilo que pensa saber, sendo incapaz de sustentar esse desejo em sua alteridade radical” – a rede imaginária que sustenta o gozo perverso do opressor é desarmada e exposta em seu vazio absurdo. </div>
<div align="center">
<strong>II</strong></div>
<div align="center">
<img src="http://www.lagartense.com.br//Biblioteca/Imagens/Imagens2013/daniel_alves_come_banana_jogada_por_torcedores_2.jpg" height="306" style="margin: 0px 0px 5px;" width="308" /></div>
<div align="justify">
Outra coisa, no entanto, é o efeito desse gesto ao se viralizar e converter-se em <i>hashtag</i>. Em certo sentido, e com aparência contrária, a campanha #somostodosmacacos foi uma reação <i>contra</i> o gesto de Daniel, pois se esse aponta para certa inconsistência fundamental do núcleo racista, a campanha trata de preencher esse vazio com conteúdos paz e amor humanistas padrão FIFA, tão nulos e irrelevantes quanto as mensagens anti-racistas que ela espalha em jogos oficiais na forma de cartazes que mal ocultam sua fantasia fundamental: o racismo está para o padrão Fifa assim como a pedofilia está para o catolicismo. Todo mundo sabe que o futebol moderno, uma invenção europeia, virou arte por causa dos pretos – o excesso não previsto da modernização. Natural, portanto, que quanto mais mercantilizado, padronizado e “racionalizado” pelo modelo democrático liberal padrão FIFA, mais frequentes serão os casos de racismo, uma vez que a diferença negra se torna excessiva, precisando ser devidamente regulamentada.</div>
<div align="justify">
É grave, pois, quando nossa representante política maior diz ser essa a grande lição brasileira no combate ao racismo, seguindo uma sugestão da agência de publicidade. A apropriação imediatamente “política” do gesto performativo de Daniel Alves esvazia sua radicalidade, podendo assim se realizar perfeitamente enquanto estratégia publicitária que beneficia todos aqueles que estão pouco ligando para o racismo, para dizer o mínimo – Fifa, Luciano Huck, agência publicitária, etc – mostrando o quanto todos eles, enquanto humanos, partilham da mesma dor e humilhação, esvaziando o gesto. O verdadeiro equivalente político do gesto não consiste em sua repetição (que só pode acontecer a partir de um esvaziamento do sentido), mas antes no ater-se a seu núcleo, reconhecendo os conteúdos sistêmicos do racismo e encontrando forma de neutralizar o funcionamento de seus significantes. Não seria má ideia processar a agência que bolou a campanha, junto com o Huck e suas camisetas oportunistas, por tentar lucrar com o racismo e ajudar a reforçar o estereótipo que associa o negro ao macaco. Assim como seria ótimo acrescentar mais um processo à longa ficha da FIFA, que além de não ser capaz sequer de coibir tais casos criminosos, ainda tenta no mais das vezes passar um pano. Desvendar o truque e punir os responsáveis é o equivalente político do gesto performativo de Daniel Alves. </div>
<div align="justify">
Creio, contudo, que o saldo final da polêmica tem pelo menos um aspecto positivo, pois a estratégia de marketing do marido da Angélica logo foi percebida e denunciada naquilo que ela é, uma tentativa baixa e patética de tirar vantagem da miséria alheia (um modelo utilizado há muito pelo apresentador em seus programas). Ponto para a mobilização digital e para os diversos setores da militância do movimento negro, pesquisadores e colunistas que imediatamente se posicionaram e divulgaram sua reação negativa. E ponto também para o olhar crítico da população que de uns tempos pra cá tem tomado gosto pelo debate político público, com avanços e perversidades.</div>
<div align="center">
<strong>III</strong></div>
<div align="center">
<img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYMviKrK4_6dYKpWspJSaKpuKnocJR2YMZ0IMemeqWkr-YlByZQDj9skQix0cGysvYOal3BZthX-RkkkeCuXYTMAsFBBXX0KOMBhHPFvfortk0GI65oifRaqCeUioDLy9NPhZycKll5Q/s1600/guarani_kaiowa1.jpg" height="227" style="margin: 0px 0px 5px;" width="367" /></div>
<div align="justify">
Isso nos leva a uma colocação muito boa da amiga e escritora Lilian Aquino, dessas que obriga ao pensamento confrontar-se com suas limitações, ao se deparar com conjunturas específicas: porque a adesão a uma campanha do tipo “Somos todos negros” é rechaçada pelo movimento em geral, enquanto que a adesão aos Guarani Kaiowà é tomada como caminho válido e positivo? Acho que ela não se aplica especificamente ao caso do macaco, em que o que está em questão é mais a apropriação publicitária criminosa de um ato de racismo usado para obter lucro, mas é muito interessante e pertinente refletir sobre o porque do movimento negro se incomodar quando não negros afirmam algo como “somos todos negros”, ou “no Brasil ninguém é branco”, e no caso do Guarani Kaiowa esse gesto ser relativamente aceito pela militância indígena e por intelectuais sérios e competentes como Eduardo Viveiros de Castro e Idelber Avelar. Aliás, esse já é um primeiro ponto interessante: mulheres, negros, índios, homossexuais, etc, são minorias irredutíveis em sua especificidade, e as estratégias de embate político devem ser diferentes em cada um dos casos, ou seja, o que se aplica a um caso não necessariamente servirá para outro.</div>
<div align="justify">
Particularmente eu consigo entender bem o incômodo com o apoio humanista do tipo “somos todos negros”, e os riscos contidos nessa posição, sendo mais difícil compreender a legitimidade desse gesto em relação aos Guarani Kaiowa. Inclusive questionei muito no início da campanha (queria escrever algo do tipo Guarani Ponte Preta), mas depois que vi a adesão e o apoio de militantes e figuras que eu respeito, fiquei me perguntando sobre as razões que, afinal, justificam essa diferença?</div>
<div align="justify">
Os motivos para ser contra a adesão são vários. Eu gosto sempre de fazer um exercício de transposição: imagine o quão esquisito seria um heterossexual “padrão” que levantasse a bandeira ou usasse uma camisa do “Somos todos mulheres”. Não é uma posição impossível de se assumir – o Laerte é o melhor exemplo – mas para que essa fala tenha legitimidade é preciso um posicionamento prático e subjetivo muito mais radical do que uma manifestação de apoio virtual, ou publicitária. Porque as mulheres, que conquistaram espaços para fazer ouvir sua voz, irão cobrar esse comprometimento. É preciso que o sujeito rompa efetivamente com as barreiras de gênero em sua vida, o que implica em uma alta dose de comprometimento ético, além de muito embate social e político. Caso contrário, as mulheres imediatamente questionarão esse apoio, com razão, afinal, ele é baseado em um princípio que no limite nega a especificidade de sua luta: “todo ser humano sofre em alguma medida, logo, o sofrimento das mulheres equivale ao sofrimento humano em geral, e não se resolve com políticas específicas”. É por isso que não existem homens feministas: não é por falta de capacidade dos homens de “entender as mulheres” (homens e mulheres possuem o mesmo grau de complexidade e são ambos incapazes de compreender a si próprios) ou de interesse, mas sim porque se trata da conquista de um espaço de “fala” para as mulheres, e que envolve, por exemplo, a irredutibilidade do corpo e da psique da mulher, que não pode ser reivindicado a partir de outro lugar. O protagonismo desse movimento é delas, e não deve ser “transferido”. O mesmo acontece com os negros. Um exemplo da perversidade dessa transferência é o famosíssimo caso da “Princesa Isabel”, a libertadora, que faz com que a abolição seja interpretada até hoje como um gesto de piedade da elite branca, e não como resultado de séculos de luta e resistência da comunidade negra. O mesmo princípio está nos gestos de apoio de Luciano Huck e Reinaldo Azevedo, reacionários da pior espécie e defensores descarados do privilégio de classe (lembra do episódio do rolex de R$ 39.000 do Huck?), que aderiram rapidamente a banana.</div>
<div align="justify">
Existem muitos brancos que são reconhecidos pela comunidade negra como “mais pretos do que muito preto”, por seu grau de comprometimento e respeito seja com a causa, seja com a cultura. A diferença consiste aqui justamente no grau de comprometimento. É importante se perguntar se a adesão a uma campanha do tipo “somos todos negros” está efetivamente beneficiando aos negros, ou servindo muito mais como compensação simbólica para o lugar do opressor racista, com o qual ninguém (ou quase) hoje gosta de se identificar. Ou pior, contribuindo com o sistema de opressão brasileiro, que insiste em não reconhecer a especificidade racial de seus problemas. Circulou por esses tempos a foto de um policial militar armado - que deve ter encontrado muita satisfação atirando em “marginalzinho preto” por aí - segurando uma banana. Por melhor que sejam suas intenções, o que essa identificação ideológica efetivamente promove? Não existem formas menos ideologicamente “arriscadas” de se engajar e sensibilizar com a causa negra? Adiantando a resposta, sim, existem muitas, mas são mais complexas e exigem muito mais do que a comoção com histórias tristes de negros pobres que são exploradas pela televisão ou em filmes como “12 anos de escravidão”. Isso sem falar da especificidade do racismo brasileiro, que usa justamente a “identificação humanista” para deslegitimar as reivindicações do movimento: “No Brasil ninguém é branco, logo, cotas raciais não fazem sentido”, e coisas do gênero. Ninguém é branco no mundo inteiro, não é um privilégio tropical, porque o conceito de raça é uma invenção: a questão é que, a despeito disso, os mortos e presos tem coincidentemente a pele mais escura. Daí a redundância de afirmar que o problema no Brasil é social e não racial: o conceito de raça é necessariamente social, por ser ideológico, sendo a dimensão biológica da coisa apenas mais um dos aspectos de sua estrutura. Enfim, os argumentos são muitos.</div>
<div align="justify">
O que leva pra questão seguinte, de quando esse tipo de identificação parece válida. Lembrei da foto do Sheik, do Corinthians, beijando um cara, que é uma forma imagética de afirmar “somos todos homossexuais”. A maior prova da validade da postura nesse caso é que ela não pôde sofrer um processo de adesão em massa, como no caso da foto do Neymar. Ao contrário, a opinião pública caiu de pau no cara, que teve que se “justificar” publicamente, com uma piada homofóbica contra são paulinos, diga-se de passagem. Nesse caso o gesto não serviu para ocultar um problema – a de que o sofrimento do negro não equivale ao sofrimento do ser humano em geral – mas para questionar a posição de poder associada a sexualidade do macho alfa. Seu efeito foi o de questionar lugares comuns – o que é ser homem – e não reforça-los: nada mais fácil no Brasil do que se afirmar como não-racista, e ao mesmo tempo ser a favor da redução da maioridade penal e de pretos amarrados em poste, pela especificidade com que a ideologia se relaciona com a realidade no país. As pessoas são contra os negros em outros espaços ideológicos: “o negro merece ser tratado igual a todos, mas o bandido tem que ser morto e torturado como um escravo”, enunciado que recalca a relação entre a herança colonial e o mapa da criminalidade no país. O fato do bandido ser preto vira uma questão de mera coincidência .</div>
<div align="justify">
No caso dos Guarani Kaiowa, creio que o principal aspecto passa pela visibilidade desse grupo, e de seu poder político, que ainda não conseguiu fazer ouvir a sua voz. Quantas pessoas sabiam quem eram antes da adesão em massa do facebook? A adoção do sobrenome teve a função simbólica de uma faixa, um cartaz virtual, que chamou atenção para um problema que a grande mídia deixava invisível. Creio que essa repercussão foi um dos estopins que fez o governo Dilma perder tanto em popularidade, chamando atenção para o processo de genocídio indígena que seu governo está promovendo. Acho que a excelente pergunta da Lílian tem que ser respondida em termos de conjuntura: é porque as causas são diferentes que a mesma estratégia possui efeitos positivos ou negativos, que devem ser revistos a todo momento. Quando (ou melhor, se) a questão indígena ganhar a mesma projeção e conquistar o mesmo espaço que tem o movimento negro e o feminista, por exemplo, a estratégia de assumir essa identificação deve necessariamente ser revista, pois seu impacto político deixará de fazer sentido para se tornar um problema. Por enquanto é fundamental que todos se mobilizem para mostrar que os Guarani Kaiowa existem, e estão sendo sistematicamente exterminados. Quando essa etapa for vencida, deve-se passar para outra.</div>
Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-82182045105957962572014-03-11T17:16:00.001-07:002014-11-12T05:06:33.833-08:00MPB – Música Preta Brasileira<div align="justify">
Uma coletânea da verdadeira MPB – Música Preta Brasileira, que não apela para Babulina, não corre pra chamar o síndico, e não convoca o rei, porque a carne não é Friboi.</div>
<a href="http://lh6.ggpht.com/-VjKlqmh0BvY/Ux-nOvQUwWI/AAAAAAAAAhM/_vU3BXteGis/s1600-h/10000270_10152298337546499_953809365_n%25255B3%25255D.jpg"><img alt="10000270_10152298337546499_953809365_n" border="0" src="http://lh5.ggpht.com/-FoBWfJCsRX0/Ux-nPkQ3YQI/AAAAAAAAAhU/c6aLE62uKRY/10000270_10152298337546499_953809365_n_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" height="304" style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; border-right: 0px; border-top: 0px; display: block; float: none; margin: 0px auto 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="10000270_10152298337546499_953809365_n" width="299" /></a><br />
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="250" id="gsPlaylist9602974024" name="gsPlaylist9602974024" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/widget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=96029740&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/widget.swf" width="250" height="250"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=96029740&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/playlist?q=MPB%20-%20M%C3%BAsica%20Preta%20Brasileira%20Acauam%20Oliveira" title="MPB - Música Preta Brasileira by Acauam Oliveira on Grooveshark">MPB - Música Preta Brasileira by Acauam Oliveira on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
<strong>1. <u>Ela Mandou Esperar </u>(Cassiano)</strong>. O Cassiano é o nosso soulman romântico por excelência, compositor de clássicos (“A Lua e Eu”, “Coleção”) que animaram as festas black do país, além dos pagodes da vida. Aliás, é um dos “elos perdidos” entre a tradição black e charme brasileira e o pagode romântico dos anos 90. Seu maior sucesso – “Primavera” - fica bem melhor com o Tim Maia, mas aí é covardia. Essa aqui é na pegada, e vale muito a pena.</div>
<div align="justify">
<strong>2. <u>Aceito Tudo</u> (Di Melo)</strong>. Di Melo é o pernambucano de um album só (Di Melo, 1975), que na época passou desapercebido, mas virou fenômeno na “época de ouro” dos downloads. Hoje se tornou clássico, sendo considerado o melhor albúm da black music nacional, com arranjos impecáveis do bruxo Hermeto Pascoal. Pesado!</div>
<a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><br />
<a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><br />
<div align="justify">
<strong>3. <u>A Casa Onde Ela Mora</u> (Guilherme Lamounier)</strong>. Esse mano de nome afrancesado que sumiu completamente do mapa tem um conjunto excelente de canções nos anos 70, que fazem parte da boa safra de black music brasileira. Esse aqui é um R&B muito bom, que fica pau a pau com “Não sabe o que vai perder”<em>, </em>do Rei<em>.</em></div>
<div align="justify">
<strong>4. <u>Zazueira</u> (Wilson Simonal)</strong>. Culpado ou inocente? Ninguém sabe ao certo – nada foi provado. O que está mais que comprovado é o talento interpretativo inegável desse que é um dos mestres da música negra brasileira, grande como Tim Maia. Tem havido um justo resgate de sua memória, junto com a reabilitação da tradição musical negra brasileira. Os arranjos são do César Camargo Mariano, que depois vai fazer um bem danado pra MPB trabalhando ao lado da Elis Regina.</div>
<div align="justify">
<strong>5. <u>Marginal III</u> (Paulo Diniz)</strong>. Outro pernambucano que teve diversos sucessos ao longo dos anos 70, mas acabou desaparecendo. É dele a romântica “Pingos de Amor” (“Vamos ser \ Outra vez nós dois \ Vai chover \ Pingos de amor). Mas o maior sucesso dele é a incrível “I want to go back to Bahia”, composta em homenagem à Caetano Veloso, quando este estava no exílio. </div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:8d91487b-1813-4d06-b115-4a45647e6fd1" style="display: block; float: none; margin: 0px auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 326px;">
<div id="e6934853-334c-4732-a6b6-cd5f40b5aa70" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=Vx4O_vI-p_M" target="_new"><img alt="" src="http://lh4.ggpht.com/-OV1KfcFhioI/Ux-nQd2jLJI/AAAAAAAAAhc/Y_0NpSSqH3o/video4161ff65e0b5%25255B158%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('e6934853-334c-4732-a6b6-cd5f40b5aa70'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"326\" height=\"183\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/Vx4O_vI-p_M?hl=en&hd=1\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/Vx4O_vI-p_M?hl=en&hd=1\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"326\" height=\"183\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
<div style="clear: both; font-size: .8em; width: 326px;">
Paulo Diniz – I want to go back to Bahia</div>
</div>
<div align="justify">
<strong>6. <u>Segredo</u> (Wanderlea)</strong> – Nessa canção a eterna musa da Jovem Guarda está muito mais para uma Janis Joplin agressiva do que para a doce meiga ternurinha que vive à sombra (confortável?) eterna do rei. Muito mais livre, desejando libertação. Bluseira pesadíssima de primeiro nível, na belíssima composição de Luiz Melodia.</div>
<div align="justify">
<strong>7. <u>Acocha Malungo</u> (Noriel Vilela)</strong>. “Esse é o famoso dezesseis toneladas”. A regravação primorosa feita pelo Funk como le gusta chamou a atenção para esse cantor de sambalanço de timbre inconfundível. Possui também apenas um disco (“Eis o ôme”, de 1968), repleto de músicas ligadas a religiosidade afro e de sonoridade irresitível. Outro clássico perdido até a revolução digital.</div>
<div align="justify">
<strong>8. <u>Sou Negro</u> (Tony Tornado)</strong>. Tony Tornado é o cantor que mais explicitamente incorporou aspectos do movimento black power na música brasileira, e segundo relatos chegou a participar de encontros com os Black Panthers, durante o período em que viveu no Harlem. O negão evidentemente assustou, e foi exilado em 1970. No geral demonstra bastante competência em suas interpretações e, graças a seu potencial vocal e swing (chegou a conviver com Tim Maia), escapa daquela sensação de cópia mal elaborada que é muito comum na trajetória da música preta brasileira. Aqui soa despudoradamente como James Brown.</div>
<div align="justify">
<strong>9. <u>Nago</u> (Trio Mocotó)</strong>. Antes de mais nada, o Trio Mocotó, um dos criadores do que se convencionou chamar samba rock, a variante brasileira de black music de maior sucesso e que configurou definitivamente o padrão Ben Jor, teve origem em São Paulo, mais especificamente na mítica boate Jogral. O samba rock é filho de São Paulo, primo de uma vertente mais marginal e “sacana” da malandragem daqui. São inúmeros os sucessos do trio de talento inquestionável, e esse funkie ijexá psicodélico é um dos meus sons prediletos.</div>
<div align="justify">
<strong>10. <u>Pode se Queimar</u> (Miguel de Deus)</strong>. A carreira desse guitarrista baiano apresenta uma trajetória bem interessante. Em 1969 com a banda Os Brasões, que acompanhou importantes nomes da MPB da época, grava o disco “Os Brasões”, um clássico tropicalista. Em 1974, lança outro clássico, dessa vez inspirado na psicodelia dos Secos e Molhados, agora com a banda “Assim Assado”. E finalmente em 1977 lança esse que é um dos mais envenenados albuns de funk gravados no Brasil. Vale a pena conhecer também a pedrada dos Brasões, aqui interpretando Gilberto Gil.</div>
<div align="justify">
</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:d3c751fc-8ebf-43d7-96f2-bfac0ec87498" style="display: block; float: none; margin: 0px auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 357px;">
<div id="c026cdfb-c177-40f2-af61-35dd2fdc63eb" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=ZQZMoCCcXwo" target="_new"><img alt="" src="http://lh3.ggpht.com/-iPNSvoufz8g/Ux-nRCa_S7I/AAAAAAAAAhk/iSwWLo-Z1d8/videoe3a0583458f1%25255B98%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('c026cdfb-c177-40f2-af61-35dd2fdc63eb'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"357\" height=\"200\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/ZQZMoCCcXwo?hl=en&hd=1\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/ZQZMoCCcXwo?hl=en&hd=1\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"357\" height=\"200\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<br />
<div align="justify">
<strong>11. <u>Mandamentos Black</u> (Gerson King Combo)</strong>. Gerson aproveitou a onda black para se lançar, e acabou no ostracismo com a onda das discotecas, junto com o movimento Black brasileiro, gradualmente se transformando no movimento Hip Hop, de maior consistência ideológica. Em certo sentido, ele é um dois seus representantes mais caricatos, copiando expressões, trejeitos da black music americana, o que ajuda a explicar também o seu desaparecimento. Mas esse som funciona bem como manifesto, além de sintoma dos impasses do movimento black nacional.</div>
<div align="justify">
<strong>12. <u>Uma Vida</u> (Dom Salvador e Abolição)</strong>. Esse som aqui é saído diretamente de um dos melhores frutos que o encontro da black music com a então emergente MPB já produziu. O aclamado disco do pianista Dom Salvador, “Sangue, suor e raça”, de 1971, no qual a gravadora apostou graças ao sucesso de Tim Maia no ano anterior. O disco contou com feras como Oberdan (futuro Black Rio), o baixista Rubão Sabino, Serginho Trombone, Luiz Carlos Batera, o guitarrista José Carlos e o trompetista Darci. Vale aqui assistir essa apresentação da Elis Regina em sua fase mais negona, acompanhada pela banda. <br /> <br /> </div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:732c0192-f5d0-4be1-9d19-4e5b6d9d985c" style="display: block; float: none; margin: 0px auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 332px;">
<div id="0affe2a5-e226-4288-bfb7-bd44c702d26a" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=RuJSQAhb9HY" target="_new"><img alt="" src="http://lh4.ggpht.com/-vpjny0v31PU/Ux-nRn5eREI/AAAAAAAAAhs/XwdfBcDl4YQ/videoec1ef6b4dc89%25255B77%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('0affe2a5-e226-4288-bfb7-bd44c702d26a'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"332\" height=\"186\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/RuJSQAhb9HY?hl=en&hd=1\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/RuJSQAhb9HY?hl=en&hd=1\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"332\" height=\"186\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<br />
<div align="justify">
<strong>13. <u>Mundo deserto</u> (Erasmo Carlos)</strong>. No período em que ambos os Carlos estavam produzindo seus melhores trabalhos (é desse ano o antológico disco de 1971 de Roberto Carlos), Erasmo arriscava-se ainda mais na sonoridade black, e apresenta esse clássico. “Carlos, Erasmo”, de 1971, é seu disco mais Tropicalista e conta com as participações de Lanny Gordin, Sergio Dias, Liminha, Dinho, e arranjos de Rogério Duprat e Chiquinho de Moraes.</div>
<div align="justify">
<strong>14. <u>Sempre Existe Alguem</u> (Trio Ternura)</strong>. Grupo vocal surgido na onda dos grupos de ieieie, mas que logo embarcou de cabeça na sonoridade black. Gravou também em 1971 (ano de ouro da black music brasileira) um disco que se tornou outro clássico perdido. Contou com a produção de Raul Seixas, e apresenta canções de autorias dele e de Sérgio Sampaio. Essa aqui tem uma pegada mais blackspotation que é bastante incomum no Brasil.</div>
<div align="justify">
<strong>15. <u>Kabaluere</u> (Antono Carlos e Jocafi)</strong>. A dupla baiana é conhecida principalmente pelas trilhas de novela e pelo mega sucesso do proto-pagode (aliás, lindíssimo) “Você Abusou”. Mas pode ser que Kabaluere seja reconhecida por ter sido sampleada por Marcelo D2.</div>
<div align="justify">
<strong>16. <u>Tanauê</u> (Ivan Lins).</strong> 9 em cada 10 brasileiros consideram o Ivan Lins um mala sem alça, com canções tão bem feitas quanto chatíssimas. “Depende de nós”, novelas, Elton John piorado e coisa e tal. Quem sou eu pra discordar: sou brasileiro e não desisto nunca. Mas não dá pra esconder o swingue soul muito bem realizado do primeiro disco do rapaz (Agora, 1970, Forma\Phillips), bem representado por essa canção que encerra nossa seleção.</div>
<div align="justify">
Enjoy!</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-55727652308301291502014-03-10T08:53:00.001-07:002014-11-12T05:08:19.763-08:00Carnaval é coisa séria<div align="left">
Por Gabriela Cardoso</div>
<div align="justify">
</div>
<div style="text-align: center;">
<img src="http://www.coutinhopoesiasesonho.com/Images/MARACATU%20RURAL%2003.jpg" height="244" style="margin: 0px 0px 5px;" width="360" /> </div>
<br />Este título pode parecer estranho à primeira vista. Mas afirmo, ao menos, que Carnaval é coisa de gente comprometida. Principalmente no Recife e em Olinda. Comprometida com a folia, com as fantasias, com a produção, com o ganha-pão, com a religião.<br />
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Uma das evocações cantadas pela Nação Maracatu Tigre diz assim: “Carnaval tem seus direitos, quem não pode brincar que não se meta!”. Somente esta frase já daria uma tese. E, com certeza, muito já se estudou sobre o Maracatu, por exemplo. Mas o meu objetivo aqui é apenas registrar algumas impressões deste Carnaval que muitos chamam de “melhor do mundo”. Tarefa suada!</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A multiplicidade de pessoas, cores, ritmos, manifestações e brincadeiras é tão grande que há de se estar atenta para não perder nenhum detalhes. Mesmo assim é impossível ver tudo. As andanças foliãs podem estar muito condicionadas ao(s) grupo(s) que se decide seguir, sejam blocos, shows nos palcos ou amigos.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Em 2011, na minha segunda ida, acompanhei o bloco “Segunda Tem Palhaço”, que sai da Rua da Moeda, no Recife Antigo, por exemplo. Decidir entre passar os dias em Olinda ou Recife já é difícil por si só. Apesar dos shows mais badalados, organizados pela prefeitura, acontecerem nas noites e madrugadas do Recife Antigo, durante o dia muita coisa acontece por lá também. Nas duas cidades (separadas pelo Rio Capibaribe) tropeça-se em blocos e bandas sem fim!</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Há quem prefira passar as tardes em Olinda e as noites no Recife. Mas tenho minhas dúvidas do que seja melhor realmente. Creio que terei de ir mais vezes para decidir!</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Olinda é realmente linda! Uma cidade que pulsa história e arte, e que tem vistas incríveis do alto de suas ladeiras. Agora, o Carnaval é tudo-muito-agora! Uma coisa realmente extraordinária! Para o “bem” e para o “mal”. Para a alegria e para a sujeira nas ruas, para a brincadeira e para o abuso, para a diversidade e para a exploração de classe. Afinal, o capitalismo também se alimenta da festa.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A maior parte das pessoas que frui o Carnaval é de classe média, turistas e locais, que podem pagar pelos serviços. Já quem trabalha vendendo coisas são os moradores pobres e negros das periferias e do interior do estado.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Mas estas pessoas também têm seus momentos de glória. Por exemplo, nos desfiles das Nações de Maracatu. São espetáculos suntuosos, onde estão presentes a tradição dos africanos nagô e dos bailes reais da corte portuguesa. As Nações são oriundas, em sua maioria, de terreiros familiares nas periferias de Recife e Olinda. São compostas por estandarte, orquestra de alfaias, caixas, ganzás e agogô, pelos passistas, puxador(a) dos pontos de louvor aos orixás, pelo rei e pela rainha, e por aquele que segura o guarda-sol sobre a cabeça da realeza. É uma representação de um desfile imperial, composta por negros das comunidades. E o figurino é riquíssimo, cheio de cores, veludos, brilhos e rendas. Mulheres e homens usam vestidos armados rodados, e dançam e giram ao som do batuque. Um espetáculo de encher os olhos!</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Vale ressaltar que muitos dos homens fazem parte das nações como passistas são gays e travestis, desde jovens. Com isso, o desfile se torna um momento especial de expressão da diversidade.</div>
<br />
<div align="justify">
E voltando a Olinda, não posso deixar de dizer que, em certos momentos, a cidade vira mesmo um grande mercado de carne humana. Literalmente, não há espaço para o recalque. Às vezes parece um show de horrores, como a tradicional festa dos tolos europeia. É muita gente mesmo! O tempo todo, o que abre espaço para todo tipo de “sem noção”! Mas é o ônus do Carnaval...</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Mesmo assim, é lindo, encantador, arrebatador! É um momento fundado pelo pensamento mágico humano e pelas nossas raízes indígenas-afro-ibéricas. Os limites entre profano e sagrado se tornam muito mais tênues.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Há muitas crianças, por toda parte. Para os pernambucanos Carnaval é obrigação, é dever religioso, é família. Tudo respira festa! Não é como em São Paulo, onde Carnaval de rua é resistência de alguns guerreiros do amor contra a cidade careta. Se bem que percebo que este espírito vem crescendo a cada dia na capital paulistana. Que bom!</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Mas em Recife/Olinda as pessoas nascem e se criam no Carnaval, geração após geração. Eles só perdem a grande festa por motivo de força bem maior.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
O que mais posso dizer? Muitos amigos, muitas pessoas interessantes e lindas, mesmo nos momentos mais crus. Um evento de grandes proporções, onde é muito melhor sair fedendo do que morrer limpinho e cheiroso!</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-58402088678010711542013-12-11T17:33:00.001-08:002014-11-12T05:10:15.447-08:00Bem vindo ao deserto funkeiro do Real.<div align="center">
O HORROR NO FUNK </div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:9452141e-2d9e-4599-8750-c69cf462b949" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 363px;">
<div id="099b1f6f-7687-43dd-95ac-8ec64dfe2fe3" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=Fbngf9fxAtY" target="_new"><img alt="" src="http://lh3.ggpht.com/-ERHvTF5ElJg/UrIPZyUVVfI/AAAAAAAAAgY/tcBiZDavcJQ/videod609688a26af%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('099b1f6f-7687-43dd-95ac-8ec64dfe2fe3'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"363\" height=\"304\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/Fbngf9fxAtY&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/Fbngf9fxAtY&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"363\" height=\"304\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="justify">
SABOTARAM MEU COPO</div>
<div align="justify">
(MC Priscila \ MC Magrinho) <br /> <br />Ela puxou perdeu a linha <br />Tirou a calcinha de uma vez só <br />Ela ficou desnorteada.</div>
Sabotaram meu copo fudeu<br />
E tacaram balinha<br />
Eu não sei o que aconteceu <br />Só sei que acordei numa treta de luxo <br />Com uma ressaca desgraçada <br />Pra onde eu olhava havia piroca <br />E eu com a buceta toda inchada<br />
Eu não sei o que aconteceu<br />
Calma calma Priscilinha só rolou uma surubinha.<br />
Eu dei na salinha? (Deu deu) <br />Eu dei no quartinho? (Deu deu deu) <br />Eu dei no banheiro? (Deu deu) <br />Eu dei na cozinha? (Deu deu deu)<br />
Eu dei de quatro? (Deu) <br />Eu dei de lado? (Deu) <br />Eu dei por cima? (Deu) <br />Eu dei por baixo? (Deu)<br />
Caralho o frango assado quem me comeu? <br />Eu eu <br />Quem me comeu? <br />Eu eu<br />
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Essa é uma das mais fortes expressões do horror que pode conter o funk carioca. É difícil até de começar a pensar em qual elemento de barbárie é o pior nesse caso. O mais terrível de todos talvez seja justamente o tom de celebração. Estamos bem no meio de uma típica orgia que o gênero celebra como espaço de ostentação. Nesse caso, porém, com condicionantes específicas que tornam as coisas ainda mais terríveis. De início temos a voz do estuprador a se gabar do seu feito: colocou um boa noite cinderela no copo de uma moça e a levou para um quarto para ser estuprada coletivamente. Em seguida temos a voz da própria vítima, que se de início se espanta com o que vê, logo começa a descrever tudo com precisão típica do estilo, enumerando didaticamente as partes do corpo e o que era socado onde. Essas descrições no funk fazem parte de sua dinâmica e de sua coreografia, e são basicamente celebradas como lugar da libertação do corpo para o prazer, tanto do homem quanto da mulher. Nesse sentido, pode-se dizer que da perspectiva feminina encenada na canção, acontece uma celebração do estupro coletivo enquanto orgia e “putaria” (um das categorias centrais do funk). Apenas não se nomeia como tal, mas é exatamente disso que se trata. Estupro, puro e simples – aquilo que a “crueza” e “precisão” sintomaticamente pode descrever em detalhes, mas nunca nomear. A emancipação do prazer feminino serve aqui diretamente a mais pura barbárie.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Para ampliar a dimensão do horror, acrescenta-se aqui uma condicionante de classe. Sabe-se que no funk a cultura do dinheiro a todo custo é louvada - o mais explícito evidentemente é o funk ostentação, mas é possível encontrar essa celebração no gênero como um todo. Ter dinheiro, estar ao lado de quem tem status, ser o rei do camarote, tudo isso é cultuado pelo funk como condicionantes da “putaria”. Prazer e consumo participam da mesma cadeia semântica. Em “Sabotaram meu copo” é esse o vetor que vai tornar possível a celebração do estupro por parte da vítima e dos estupradores, uma vez que tudo acontece em uma “treta de luxo”. O poder do capital justifica os atos dos estupradores, liberando-os da culpa, ao mesmo tempo que faz da vítima uma mulher de sorte, por ter sido escolhida pelo topo da cadeia social. Tudo se justifica, afinal, trata-se de relações de mercado. Vivemos no melhor dos mundos.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
É claro que o gesto imediato de qualquer um que minimamente considera o que se expressa nessa canção uma afronta a própria concepção de “humanidade” é de recuar horrorizado. Aliás, uma ótima ideia é estabelecer limite de idade para o funk, assim como se faz com os filmes. Contudo, justamente em nome do “humano” é que devemos tentar o caminho oposto, e avançar mais pelo interior da barbárie. Acredito que esse é o verdadeiro gesto emancipatório aqui: encarar o fantasma e atravessa-lo. Para isso, deve-se evitar as duas posições que formam um par de oposição complementar. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A primeira é a defesa da barbárie em nome de certa aceitação cultural cosmética. Os defensores do funk contra os ataques “elitistas” sempre usam o relativismo cultural como argumento final. Ninguém tem o direito de definir o gosto, o funk faz parte da cultura da periferia e, como tal, deve ser respeitado, qualquer ataque ao funk deve ser recusado como um gesto elitista, etc. A postura liberal de aceitação da diferença nesse caso procura infantilizar aquilo que aparentemente defende: é porque não nos diz respeito que o funk deve ser aceito e protegido enquanto expressão cultural. Mas ao contrário do pressuposto dos defensores “culturalistas” o que se deve rejeitar em “Sabotaram meu copo” não é a identidade periférica em construção, e sim a celebração do estupro, que precisa ser nomeada e encarada enquanto tal, como expressão de horror daquele outro que está em nós. É só assim, inclusive, que o funk revela sua força, quando passamos a encara-lo não como uma expressão cultural qualquer da periferia, e sim como um olhar gestado na periferia que diz respeito ao conjunto das relações sociais como um todo. É da periferia, mas diz respeito aos que não são, ou melhor, é por ser da periferia que precisamente diz respeito ao conjunto da sociedade atual. É por ser o avesso da “Sociedade” que o funk é o lugar de sua verdade, aquele resto de Real que não se presta aos mecanismos de identificação e retorna como fantasia perversa. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Só assim é possível superar a indiferença da relativização cultural e, ao mesmo tempo, libertar-se do risco da postura que lhe é oposta e, em certa medida, complementar, o ódio absoluto e o desejo de eliminar o gênero da face da terra, para o bem da humanidade. Essa postura é também muito comum, como pode ser lido em diversos textos da internet, como esse caso de um tal Fernando Toledo, que afirma que o funk não é música, e muito menos arte. <br /> <br /> “<em>Para que o fenômeno musical ocorra, três elementos devem estar presentes: ritmo, melodia e harmonia. E, nesse pretenso estilo, somente o primeiro se manifesta. O funk carioca se baseia, simplesmente, em frases entoadas ao longo de uma base rítmica, sem que haja um sentido horizontal (notas em série) ou vertical (notas sobrepostas, constituindo acordes). Dessa forma, não é música. […] Assim sendo, pode-se afirmar, sem medo, que o funk carioca não é manifestação artística legítima de gueto nenhum, visto que, simplesmente, não é música, nem mesmo arte. E que opera numa esfera muito distante do humano”.</em></div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Aqui o mecanismo ideológico mal se disfarça, sobretudo pela definição primária e quase infantil do que seja o tal do fenômeno musical, saltando aos olhos o desejo contido do autor em afirmar que pobre funkeiro é sujo e não deveria existir, pois o que eles fazem é lixo. O ódio que ameaça saltar o texto deixa entrever o estado de ânimo por onde escapa a justificativa moral que, no limite, aprova o extermínio de funkeiros como Mc Daleste.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Ora, diante dessas duas opções - a aceitação pós moderna do horror no funk (que acaricia, mas quer manter separado por grades de aço maciço) e sua rejeição neopentecostal como coisa do capeta que deve ser eliminada da face da terra (em nome do amor divino) - qual o caminho a seguir? Obviamente que o par de oposições é falso, sendo necessário traçar um terceiro lugar a partir da percepção do mecanismo de sustentação oculto que estrutura as duas escolhas. A força do funk, seu impacto, o poder de penetração e toda agressividade apaixonada das respostas que gera deve-se ao fato óbvio de que ele participa de dimensões profundas da realidade, o fantasma da “sociedade brasileira”, aquele resto obsceno que não se deixa eliminar e que guarda o “segredo” profundo da significação. O <em>pequeno objeto a</em> lacaniano, aquele resto de Real que sustenta-se enquanto vazio no interior da estrutura simbólica. O funk diz respeito a todos nós, justamente por concentrar-se agressivamente na dinâmica periférica. Por isso, tenta-se a todo custo enquadrar narrativamente seu potencial disruptor enquanto desvio da normalidade, de modo a justificar a dinâmica da barbárie que o próprio funk enuncia. É evidente que o gênero não expressa somente relações “degeneradas” ou “autênticas” da periferia. A cultura do estupro celebrada em “Sabotaram meu copo” é o fundamento não explícito de toda a sociabilidade em sua dinâmica contemporânea. Daí o esforço dos setores que querem conservar a “normalidade” das coisas para enquadrar a barbárie funk como um elemento externo que perturba a normalidade, enquanto mal ocultam que o funk é a representação que pauta a própria normalidade.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Como o rap deixou bem evidente, a periferia é o lugar de verdade da nação a partir do desmantelamento dessa categoria, o lugar de ser de seu projeto fracassado. A passagem do rap para o funk enquanto produção “hegemônica” na periferia é assim profundamente reveladora de novos dinamismos sociais que tomam forma na sociedade. Pode-se dizer que o funk é o <em>sintoma</em> do fracasso do rap em realizar seu projeto emancipatório. O funk recusa a dimensão ética (Racional) que para o rap é condição de emancipação, e retorna agressivamente ao gozo e ao corpo, que haviam sido moralizados como em nome da promessa de libertação dos “irmãos” mediante uma tomada de consciência periférica, condição para sobreviver no inferno. Libertação que não aconteceu, ainda que tenha trazido avanços, é importante dizer. O funk mergulha na mesma barbárie exposta pelo rap – a nossa miséria social – mas sem comportar um projeto de emancipação periférica. Não por acaso, ele reina na dimensão do gozo que foi colocada em segundo plano pelo rap. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Essa passagem, regressiva nesse aspecto (mas que revela o avesso obsceno do rap, a necessidade de moralização do gozo que é um dos limites internos de seu projeto de emancipação, e que torna-se explícito por exemplo na condição inferiorizada que a mulher ocupa no gênero), está longe de ser um aspecto circunscrito ao funk. Pelo contrário, seu interesse profundo consiste na capacidade de materializar formalmente a nova dimensão da catástrofe social que nos atinge, e o estado de espírito a ela correspondente. “Sabotaram meu copo” diz respeito a todos nós, revela o modo como a cultura do estupro permeia o conjunto das relações entre gêneros no Brasil. Não se trata de um desvio de norma a ser condenado: seu interesse consiste em mostrar claramente (versão <em>hard</em> do cinismo) qual é a regra que nos pauta, e é nesses termos que deve ser recusada. Essa mesma dinâmica é registrada em muitas outras instâncias do entretenimento brasileiro. Os exemplos são muitos: a passagem do mecanismo de exploração da miséria via caridade em programas como o do Gugu e do Silvio Santos (eu exploro os miseráveis porque me compadeço e quero lhes dar uma oportunidade, casa, dinheiro) para a exploração pura e simples sem justificativa que não a própria exibição da humilhação em programas como Pânico na TV e o Big Brother (recomendo fortemente o trabalho fantástico de Silvia Vianna sobre o reality shows); a passagem do padrão jornalístico imparcial coxinha do Jornal Nacional para o modelo ultra conservador do jornalismo Datena; a passagem do modelo de humor de representações baseadas em caricaturas que segue o padrão Chico Anísio ou do Viva o Gordo para o modelo de mera humilhação dos marginalizados, seguido por Danilo Gentile, Rafael Bastos, entre outros; um modelo de crítica mais à esquerda, ou que pelo menos considera relevante processos históricos e sociais para compreensão da sociedade, para um padrão conservador ultra direitista de interpretação, representado por figuras como Lobão, Pondé, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, de grande sucesso editorial; a agressividade da ética neopentecostal, etc. Todas essas transformações culturais, vistas em conjunto – e seu momento chave é o sucesso estrondoso do Tropa de Elite, com a adesão em massa ao olhar conservador do Nascimento - são profundamente reveladoras de um novo estado de espírito local, cuja dinâmica é preciso identificar. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
(E cabe aqui a perguntinha teórica que não quer calar: como fica a crítica imanente, se todos esses objetos são recusados por ela, uma vez que seu interesse não está em se contrapor à barbárie, mas em sua ritualização?) </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Manter o sentimento de horror diante de “Sabotaram meu copo” (e não do funk como um todo) é uma postura de maior identificação simbólica com a periferia do que passar a mão na cabeça falando como é fofinha e bonitinha a cultura dos favelados. É o oposto da falsa identificação de Dickens com os mais pobres, que são sempre lindos, cheirosos, inteligentes e esperançosos - uma imagem as avessas de um lorde inglês, o verdadeiro objeto de admiração, que deve amar os marginalizados como prova da própria superioridade. Diga-se de passagem, a mesma falsa identificação presente em “Gente humilde”, da dupla Chico\ Vinicius. Deve-se, antes, pautar-se pela identificação imaginária de Chaplin com as crianças. Chaplin as bate, engana, briga, não por ser superior e mal, mas justamente porque se identifica com o olhar infantil. É mais um deles, está junto e misturado. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
É claro, esse sentimento de horror é também em tudo oposto ao que considera o funk um lixo desprezível a ser eliminado. Aqui entra em cena um personagem kafkiano, o pai de família que se encontra diante do mistério de Odradek, e o contempla com ódio, por ser incapaz de compreender como “aquilo” pode respirar, pode conter vida. Como algo tão nojento e abjeto pode ser chamado de vida (ou de cultura)? O que horroriza o pai de família kafkiano é a dimensão do desejo do Outro, que é inapreensível, e que ressurge enquanto experiência do horror absurdo, aquilo que é preciso eliminar no Outro para que possa garantir-se a integralidade imaculada do meu próprio ser. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
O que deve nos horrorizar, então? É a revelação do absurdo em nós, a compreensão de que o funk é o lugar mesmo de nossa própria barbárie, a revelação daquilo que nos constitui, atualmente, enquanto sociedade. O que deve desaparecer e ser eliminado não é o funk bode expiatório, e sim nós mesmos. O funk é nosso modo de formalização (poder de revelação do entretenimento rebaixado, não autônomo e a-crítico) da miséria do presente. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A verdade em que o funk se assenta, e que assusta a gente de bem, é sua consciência de que a realização plena do projeto brasileiro de inclusão por via do consumo só é possível para os excluídos na condição de contravenção – daí a valorização de conteúdos pulsionais obscenos e violentamente marginais como sequestro, assaltos, tráfico, pedofilia, sexualidade agressiva. Essa consciência agressiva é, simultaneamente, tanto o que faz com que os funkeiros sejam perseguidos e, no limite, mortos, pela Sociedade de bem, quanto a condição mesmo de seu aprisionamento ideológico, uma vez que a posição marginal é ainda o lugar reservado para o pobre nos projetos higienistas de “formação nacional”, a “brecha que o sistema queria” para legitimar-se. O funk é assim o lugar mais vivo dessa contradição estrutural da sociedade brasileira. Para os excluídos, a tomada de consciência funciona como elemento de aprisionamento e mitificação, enquanto que a “Sociedade” celebra\rejeita a barbárie funk enquanto elemento exterior fantasmático que garante a coesão social. </div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A marginalização do funk é um sinal claro da falência da sociedade, um sinal gritante de que o presente mecanismo social é falho. Contudo, a alternativa geralmente apresentada de “aceitação culturalista” dos valores expressos no gênero deve ser rejeitada como falsa. Aqui é preciso inverter a equação: é porque esses valores já são nossos desde o início que devem ser recusados, o que implica em uma “recusa” da própria Sociedade, e não dos funkeiros como o Outro a partir do qual legitima-se a “normalidade”. Um caminho em tudo oposto a proposta higienista de proibir os bailes. Que a barbárie do funk é do mesmo tipo da normalidade social obscena não resta a menor dúvida: num certo episódio do Pânico da TV, comemorou-se o aniversário de Sabrina Sato. De presente os participantes do programa atearam fogo na moça enquanto os rapazes cantavam Parabéns pra você. Em outra oportunidade, enterraram-na viva. É claro, o programa não é exceção: poderia tranquilamente se tratar da prova do líder do Big Brother. Até que esse mecanismo de identificação – negativo - tenha condições efetivas de se realizar (e aqui a articulação política dos funkeiros pela regulamentação dos bailes, em contraposição a política proibicionista absurda dos governos cariocas e paulistanos assume uma posição decisiva), tanto a aproximação quanto o distanciamento serão gestos que deixam intacto o núcleo perverso do gozo estruturado pela fantasia social.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-62260128675163518352013-11-04T11:56:00.001-08:002014-11-12T05:10:55.185-08:00All the single ladies: trilha sonora pra balada black (block?) pop quase atual.<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="250" id="gsPlaylist9205147941" name="gsPlaylist9205147941" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/widget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=92051479&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/widget.swf" width="250" height="250"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=92051479&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/playlist?q=Balada%20Black%20Pop%20Block%20Acauam%20Oliveira" title="Balada Black Pop Block by Acauam Oliveira on Grooveshark">Balada Black Pop Block by Acauam Oliveira on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Pela primeira vez na vida fui convidado pra montar uma trilha sonora para adolescentes. E acreditem, isso pode ser a coisa mais difícil do mundo se você já saiu da adolescência faz um tempo, e consequentemente não faz a menor ideia do que se passa no universo sonoro dos caras, uma vez que marcar essa diferença temporal é um dado fundamental pros adolescentes. É lógico que eu já ouvi falar de Rihana e Beyonce, por exemplo, mas até então não fazia a menor ideia se havia alguma diferença significativa na sonoridade de ambas, ou se tratava-se mais de uma simples diferença de marca, como Claudia Leite e Ivete Sangalo. Outros nomes eu simplesmente nunca tinha mesmo parado pra ouvir, como David Gueta, Bruno Mars, Maaron 5, e outros ainda eu já tinha ouvido bastante, mas sem saber se existia algum nome por trás do som, como é o caso do Dj Pitbull, que faz versões de canções já desgastadas na periferia e as coloca pra bombar no centro.</div>
<div align="justify">
Enfim, a grande dificuldade pra fazer uma trilha pra adolescentes não sendo um é que você não pode se pautar apenas nos grandes hits do momento, primeiro porque muito provavelmente você não os conhece, e depois porque é bem provável que você não se divirta muito com eles Não adianta, a gente se diverte mesmo é com as canções da nossa própria adolescência, os afetos musicais em sua relação com a formação da própria identidade se concentram aí. Por isso a indústria fonográfica é tão voltada para os jovens, em primeiro lugar, e para os homens, com sua imaturidade congênita. Daí o curioso dado de que a trilha criada por você para os adolescentes de agora sempre acabar se parecendo em alguma medida com a trilha sonora da sua própria adolescência, ao menos até onde isso é possível. É interessante jogar com esse mecanismo de distanciamento e aproximação, tanto de sua parte (que de repente descobre que o pop de hoje não se afastou tanto daquilo proposto pela Madonna e pelo Michael Jackson, só acrescentando-se um pouco mais de Hip Hop) quanto da parte de seu público alvo, que pode descobrir que aquela música da hora do Seu Jorge é uma gravação de um velhinho simpático chamado Chico Buarque, ou que aquele arranjo da hora do Bruno Mars é quase igual ao que se fazia nos distantes primórdios. O mais legal (e mais difícil) é que não dá pra focar só naquilo que você gosta e conhece (é preciso então dar uma mergulhada no universo dos grandes sucessos de 2013), mas também não ficar só no sucesso mais óbvio. <br /> <br />Escolhi fazer uma trilha black porque rock ficaria mais restrito (estava pensando nos meus alunos) e eu não manjo muito do pop eletrônico de hoje pra saber o que presta e o que é só mais do mesmo. Para essa versão final mudei algumas coisas. Exclui por exemplo as músicas mais de pixta, idênticas ao tal do poperô que tocava na <em>Overnight</em>, boate da minha adolescência no interior, e que eu nunca podia ir porque pegava mal com os amigos da igreja. No fim a proibição social até que foi uma coisa boa – preservo a imagem do proibido em mim, que provavelmente se apagaria completamente se eu tivesse ido e percebido o quão longe do extraordinário era aquele lugar. A <em>Overnight</em> que não fui ganhou contornos fantasmáticos, tal como a sala dos professores aparece para alunos do ensino fundamental, e que ajuda a preservar o encantamento necessário para a <em>mise en cene</em> do processo de aprendizagem.</div>
<ul> <ul></ul>
</ul>
<a href="https://www.blogger.com/null"></a><br />
1- Survivor – Destiny Child (Survivor)<br />
2 - Brown Girl (feat. Brick & Lace) – Jurassic 5 (Feedback)<br />
3 - Crazy in Love (feat. Jay-Z) - Beyoncé (Dangerously in Love)<br />
4 - The Real Slim Shady – Eminem (The Marshall Mathers LP)<br />
5 – Sucrilhos – Criolo (Nó na Orelha)<br />
6 - Negro drama – Racionais MC’s (Nada como um dia após outro dia)<br />
7 - Gangsta's Paradise – Coolio (Dangerous MInd Music)<br />
8 – Represent - Orishas (A lo cubano)<br />
9 - Mas Que Nada – Jorge Ben\Black Eyed Peas\ Sérgio Mendes (Greatest Hits)<br />
10 - Get Lucky (feat. Pharrell Williams) – Daft Punk (Random Access Memories)<i></i><br />
11 - Single Ladies (Put a Ring on It) – Beyoncé (I am Sasha Fierce)<i></i><br />
12 – Jump – Rihanna (Unapologetic)<i></i><br />
13 - Cotidiano (Part. Esp. Marcelinho Da Lua) – Seu Jorge\Chico Buarque (Perfil)<br />
14 – Treasure – Bruno Mars (Bruno Mars)<i></i><br />
15 - Mo Money Mo Problems (feat. Mase & Puff Daddy) - The Notorious B.I.G. (Live after death)<i></i><br />
16 - Rap da Felicidade – MC Cidinho e Doca (Rap Brasil)<br />
17 - Bucky Done Gun - M.I.A. (Arular)<i></i><br />
18 - Wanna Be Starting Something – Michael Jackson (Trilher)<br />
19 - Take Back the Night -Justin Timberlake (The 20\20 experience)<i></i><br />
20 - Blurred Lines - Robin Thicke (feat. T.I. & Pharrell) - <i></i><br />
21 - Ready Or Not - Mato\Fugges (Hip Hop Reggae series vol. 2)<br />
22 – Exodus – Bob Marley (Legend)<i></i><br />
23 - Root Down – Taggy Matcher\beastie Boys (Hip Hop Reggae series vol 1)<br />
<a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><br />
<a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><br />
24 - Viva! (Melô dos vileiro) – Emicida (Doozicabraba e a revolução silenciosa)<i></i><br />
25 - Independent Women – Destiny Child (Survivor)<br />
<a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><br />
<a href="https://www.blogger.com/null"><i></i></a><br />
26 - Ambitionz Az a Ridah – 2Pac (Collection)<br />
27 - Um Bom Lugar – Sabotage (Rap é compromisso)Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-32091227918162405802013-10-07T10:48:00.001-07:002014-11-12T05:15:20.731-08:00Ainda é cedo, de Nelson Gonçalves, e a atualidade do bolero.<div align="justify">
<img align="left" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5ZXvXGESPBajOuDJuVgZcPaLUckV2zKJBcgAoGvfS5H7xNC_kjFzyTmGHcg5hQmRisb4iCKb4N8MQZMWLTiuvrSgc5WKqDfqGosQ3DYii_sVseZ0lP0Nq-etVICmNXIDaN-MIgrO7gmGM/s1600/Nelson+2.jpg" height="226" style="display: inline; margin-left: 0px; margin-right: 0px;" width="228" /></div>
<div align="justify">
<em>Para José Virgínio, talvez o último romântico verdadeiro.</em></div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Em seu último álbum, Ainda é Cedo, lançado em 1997 pela BMG Ariola, Nelson Gonçalves aproxima-se da música jovem, o pop rock padrão anos 80\90 que foi a febre daquele período. Aproxima-se, contudo, sem abrir mão de sua identidade clássica, inclusive no fato de que essas canções já são peças de museu a seu modo, tocando principalmente em festas e programas de rádio estilo <em>revival</em>. Não é o pop rock que faz a cabeça dos jovens de hoje: é a geração que anda beirando os trinta que considera essas canções como música de jovem, no que vai um acerto do Nelson, pois é esse o público alvo que ele deve ter em mente, que já não é assim tão jovem, e que portanto pode aceitar mais facilmente seu padrão de canto operístico pré anos 60.</div>
<div align="justify">
Em todo caso, a mistura funciona bem, em alguns casos até melhor que o original, o que nos permite tirar uma série de conclusões - e fantasiar umas outras tantas. Por exemplo, que o defunto nunca esteve assim, tão morto quanto se diz, e que o mal cheiro dele vinha de outro lugar, lá das bandas do inconsciente freudiano. Unheimlich. O padrão bolero operístico que dominou a cena entre os anos 40 e meados dos anos 50 nunca chegou a ser devidamente enterrado, mas mudou de forma e continuou na ativa. O seu principal descaracterizador não foi João Gilberto – esse criou uma outra coisa realmente, um novo padrão – mas Roberto Carlos, que forjou um novo tipo de canção romântica, de padrão melódico mas entoativo e pulsional (ou temático, para sermos técnicos). Um romantismo mais pé no chão, digamos assim, pós João Gilberto. Foi essa basicamente a principal transformação que Roberto Carlos trouxe para a canção brasileira, via rock, o que significa também que uma das principais características do rock entre nós é ser uma atualização do bolero, ou seja, propor um modelo de canção romântica moderna. Por isso, quando o rei deixa de fazer ieieie, depois de passar um tempo perdido na black music (sua melhor fase), para se tornar o modelo hegemônico de música romantica, não se trata de uma ruptura completa (encareteamento carlista) mas, sobretudo, de uma continuidade. E é por isso que um dos aspectos principais do Brock nos anos 80 é também propor um padrão de música passional, atualizando o rei e tirando a primazia da MPB. Legião Urbana é, antes de tudo, um grupo de música romântica, por isso, inclusive, o seu sucesso. O mesmo pro Lulu Santos< Kid Abelha e outros.</div>
<div align="justify">
Ou seja, por mais que se escreva a história como uma série de rupturas, o que em geral acontece é melhor compreendido como um conjunto de migrações e negociações contínuas que deslocam os objetos para outros lugares. Bora lá observar esses deslocamentos então. E, de quebra, fazer uma listinha classificatória, que é a parte divertida da coisa.</div>
<div align="justify">
O POST ABAIXO É PARA SER LIDO AO SOM DA NARRAÇÃO DO MILTON LEITE. QUE BELEZA! </div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:f0425ed6-9b70-4009-92bb-1eaba846bee1" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 164px;">
<div id="0a3bedc4-efb1-474a-812c-5dacf4f6d689" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=fb-xnIhtSgA" target="_new"><img alt="" src="http://lh3.ggpht.com/-6Nd128osuIE/UlLzqVbjNsI/AAAAAAAAAdU/lPa-mviWgTE/videobbdc315d1986%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('0a3bedc4-efb1-474a-812c-5dacf4f6d689'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"164\" height=\"136\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/fb-xnIhtSgA&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/fb-xnIhtSgA&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"164\" height=\"136\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="justify">
1) COMO UMA ONDA NO MAR (NELSON GONÇALVES X LULU SANTOS X TIM MAIA)</div>
<div align="justify">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2529991779" name="gsSong2529991779" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299917&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299917&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Nelson%20Gon%C3%A7alves%20Como%20Uma%20Onda%20(Zen%20Surfismo)" title="Como Uma Onda (Zen Surfismo) by Nelson Gonçalves on Grooveshark">Como Uma Onda (Zen Surfismo) by Nelson Gonçalves on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong297402541" name="gsSong297402541" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=29740254&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=29740254&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Lulu%20Santos%20Como%20Uma%20Onda" title="Como Uma Onda by Lulu Santos on Grooveshark">Como Uma Onda by Lulu Santos on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong286281758" name="gsSong286281758" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=28628175&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=28628175&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Tim%20Maia%20Como%20uma%20onda" title="Como uma onda by Tim Maia on Grooveshark">Como uma onda by Tim Maia on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
A gravação do Nelson nos revela aquilo que a canção sempre almejou ser: um bolerão. Pontos pra ele. Nelson não altera significamente o padrão de interpretação, no que vai outro acerto, uma vez que “Como uma onda” foi criada por Lulu Santos como hit imediato. Mas ela acerta em um ponto que Lulu deixa escapar, na medida em que aceita integralmente seu padrão romântico. Enfim, na versão do Nelson a beleza é ressaltada. Contudo, a canção se torna um lamento, enquanto que no Lulu está em jogo a aceitação do caráter transitório da existência. A canção é mais solar do que pede a interpretação do Nelson, e aí é ponto pro Lulu. Mas não é por isso que ela deixa de conter essa passionalidade proposta pelo bolerão. No limite, trata-se da diferença entre um jovenzinho encarando as mudanças da vida, para quem cada mudança representa a abertura de novas alternativas, e um velho senhor, para quem cada mudança comporta um sinal negativo, o rumo inevitável para a morte. A versão do Tim Maia fica num meio termo que me incomoda, carregando em clichês no arranjo, como a bateria eletrônica e o string. Pois é, Tim Maia é pior do que Lulu Santos nesse caso. A principal vantagem da versão do Nelson é o arranjo, livre das convenções carregadas dos anos 80, substituídos por uma bem vinda ênfase no violão. Contudo, apesar da versão do Nelson ser mas bela, existe uma dimensão importante que se advinha na do Lulu. Daí o empate técnico. Segue o jogo. <br /> <br />NELSON 1 X LULU 1 X TIM MAIA 0</div>
<div align="justify">
2) FAZ PARTE DO MEU SHOW (NELSON GONÇALVES X CAZUZA)</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:c0113c24-b99a-4dab-8b36-2907f8615170" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 352px;">
<div id="267fb748-be25-444e-afaa-2eed55ad03bc" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=mGqsUpYINT4" target="_new"><img alt="" src="http://lh5.ggpht.com/-lL__ciB3OhM/UlLzrmcUH-I/AAAAAAAAAdc/F4xgA7LDmh4/videoffbb55916dac%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('267fb748-be25-444e-afaa-2eed55ad03bc'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"352\" height=\"294\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/mGqsUpYINT4&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/mGqsUpYINT4&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"352\" height=\"294\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong1739889796" name="gsSong1739889796" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=17398897&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=17398897&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Cazuza%20Faz%20parte%20do%20meu%20show" title="Faz parte do meu show by Cazuza on Grooveshark">Faz parte do meu show by Cazuza on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Aqui o Nelson apanha. Principalmente porque o Cazuza acerta muito na composição melódica dessa canção, e cria uma Bossa Nova debochada (meio Bossa Nova e Rock’n Roll). O padrão de interpretação é mais pra João Gilberto, portanto, o que exige certo despojamento que escapa ao Nelson, o que implica no padrão melódico ser mais propriamente enunciativo (falado) do que cantado, a não ser no refrão. A genialidade do Cazuza nessa canção está em ter acrescentado uma ironia perversa à letra, uma canalhice deslavada, compondo uma anti canção de amor com cara de música romântica. Nelson tenta transformar em canção romântica propriamente dita, e perde a mão. Ponto pro Cazuza. </div>
<div align="justify">
NELSON 0 X CAZUZA 3</div>
<div align="justify">
3) DE MAIS NINGUÉM (NELSON GONÇALVES X MARISA MONTE E ARNALDO ANTUNES)</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:b3c96031-43ee-42a1-958e-777c8d8d1ca5" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 343px;">
<div id="ad21e159-31db-4536-a88b-b2bdea140a38" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=oJS-o_AqQEo&list=PLB841FF7537CBE0B9" target="_new"><img alt="" src="http://lh4.ggpht.com/-GNOD9iT5UHc/UlLzsL3RdtI/AAAAAAAAAdk/J3H2f7S4CxY/videoc73514cf7c6b%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('ad21e159-31db-4536-a88b-b2bdea140a38'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"343\" height=\"288\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/oJS-o_AqQEo&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/oJS-o_AqQEo&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"343\" height=\"288\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3856934473" name="gsSong3856934473" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=38569344&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=38569344&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Marisa%20Monte%20De%20Mais%20Ningu%C3%A9m" title="De Mais Ninguém by Marisa Monte on Grooveshark">De Mais Ninguém by Marisa Monte on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Marisa Monte, junto com Arnaldo Antunes, se arriscam a fazer um choro canção. E não fazem feio, principalmente pelo arranjo com um regional que casa muito bem. Só que aqui, parceiro, é o Nelson Gonçalves jogando em casa com o apoio da torcida. O arranjo é basicamente o mesmo (escolha acertada de repertório, com uns toques mais abolerados, como o restante do disco), só que com as cores carregadas do samba canção. Ou seja, saem os miados da Marisa para entrar o peso das cordas. Aqui não tem a ironia do Cazuza, onde o Nelson se perde: é a Marisa fazendo aquilo que o Nelson é um dos grandes mestres (ou seja, o deslocamento temporal nesse caso sofre um achatamento, e o caráter fake de releitura despojada se perde). Ponto pro Nelson, que acerta ao carregar na passionalidade do arranjo, rompendo com o despojamento MPB da Marisa (mas, para sermos justos, esse despojamento faz bem para sua versão). A dor do Nelson é mais doída. </div>
<div align="justify">
NELSON 1 X MARISA MONTE E ARNALDO 0</div>
<div align="justify">
4) MEU ERRO (NELSON X PARALAMAS)</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:6ff78727-e79a-425e-a702-a4cf5a849ee5" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 332px;">
<div id="f4ac010b-e293-4b0f-9a28-7c6f8edb54dc" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=A7FUVtjH64M&list=PLB841FF7537CBE0B9&index=4" target="_new"><img alt="" src="http://lh3.ggpht.com/-FyqGNjJgmDg/UlLzsk_63qI/AAAAAAAAAds/SIB6KtzP0ik/videoe4a3f9d32d6b%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('f4ac010b-e293-4b0f-9a28-7c6f8edb54dc'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"332\" height=\"279\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/A7FUVtjH64M&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/A7FUVtjH64M&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"332\" height=\"279\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3584958095" name="gsSong3584958095" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=35849580&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=35849580&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Os%20Paralamas%20do%20Sucesso%20Meu%20erro" title="Meu erro by Os Paralamas do Sucesso on Grooveshark">Meu erro by Os Paralamas do Sucesso on Grooveshark</a></span></object></object> <br /> </div>
<div align="justify">
O modelo escolhido por Nelson nesse caso deixa escapar uma dimensão importante da canção original – essa era a principal crítica feita a esse padrão operístico, que aqui revela seu fundo de verdade. Na versão do Paralamas adivinha-se certo desespero ansioso de um jovem que está tentando se convencer a todo custo, uma dimensão de ansiedade que a versão original deixa mais evidente, assim como o caráter de falsa resolução da primeira parte. Essa falsidade fica clara quando a batida ska perde centralidade após a invocação a Deus, quando o sujeito assume (mesmo que colocando no passado) que tudo o que ele queria era estar ao lado do outro. Enfim, tem um duplo movimento entre o desejo de afastamento e a dor do afastar-se (formalmente, uma diferença de tom entre a primeira parte e o refrão. Quase didaticamente, a guitarra é o Herbet Vianna, o teclado é a moça que quer voltar. No Nelson, que é mais macho, a moça desaparece) que a versão do Nelson acaba por chapar, enfatizando sobretudo a dor da separação (a passionalidade de sua interpretação, que sempre remete ao afastamento do objeto). Perde-se assim uma tensão importante da música, que a versão do Paralamas propõe e mantém, mesmo que com um acompanhamento musical que poderia ser muito melhor. <br /> <br />NELSON 0 X PARALAMAS 1</div>
5) AINDA É CEDO (NELSON X LEGIÃO URBANA)<br />
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2529996546" name="gsSong2529996546" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299965&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299965&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Nelson%20Gon%C3%A7alves%20Ainda%20%C3%89%20Cedo" title="Ainda É Cedo by Nelson Gonçalves on Grooveshark">Ainda É Cedo by Nelson Gonçalves on Grooveshark</a></span></object></object><br />
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3948920171" name="gsSong3948920171" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=39489201&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=39489201&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Legi%C3%A3o%20Urbana%20Ainda%20%C3%A9%20cedo" title="Ainda é cedo by Legião Urbana on Grooveshark">Ainda é cedo by Legião Urbana on Grooveshark</a></span></object></object><br />
<div align="justify">
O maior acerto do disco. Essa é uma que o Renato Russo gostaria de perder pro Nelson Gonçalves, sendo talvez o primeiro a reconhecer, com prazer, sua superioridade. A versão do Legião soa como aquilo que ela é: um pastiche de pós-punk, decalque do The Cure, com uma historinha de amor vomitada as presas que soa pouco convincente. Aqueles casos, comuns no Brock, em que o original parece uma cópia mal feita. A do Nelson, ao contrário, soa como aquilo que ela deveria ser: música de cabaré. A versão traz um frescor de originalidade, vinda de um veterano máximo da MPB, em estilo pré Bossa Nova. Aqui, de fato, estamos em uma relação de mútua escravidão, e o “Ainda é Cedo” do refrão soa como um grito perdido em um filme do Tarantino. A versão do Nelson ganha em clareza, o distanciamento do tempo da rememoração, do sujeito que pesa os acontecimentos, e que verdadeiramente aprendeu a lição da moça. A do Legião quer parecer madura (aliás, essa não é uma boa definição pra toda produção do Legião Urbana, que insiste em se apresentar como mais madura do que efetivamente é, sendo que sua qualidade principal não está em sua maturidade?) mas soa fake e afobada em diversos momentos, apegando-se excessivamente ao pós punk, como um clichê. Coisas de banda iniciante (ainda era cedo). Renato diz que uma menina ensinou quase tudo o que ele sabe, e ao fim da canção fica-se com a impressão de que ele não aprendeu quase nada (talvez seja isso mesmo, e a partir do segundo disco ele ia revelar que aprendeu muito mais com homens do que mulheres). Quem sabe mesmo é o Nelson, que inclusive divide o refrão (que contém a moral da história) com vozes femininas… O Ainda é cedo da Legião soa como marca do não saber, que permanece, enquanto que no Nelson, é um estágio já superado. É claro, cantores com longas carreiras também se apegam aos mais diversos clichês, mas não é o caso dessa versão, que soa como um tipo de canção de cabaré com toques etéreos, quase psicodélicos – cairia bem com Jefferson Airplane. É como se o Nelson resolvesse pegar a historinha do Renato Russo: dá aqui, moleque, deixa eu contar isso direito porque você ainda não aprendeu a lição. A música ganha em densidade, camadas, o jogo com o coral e a percussão fazem o arranjo crescer. Enfim, um baile.</div>
<div align="justify">
*O gol do Legião que o juiz marcou é porque sua versão não é inadequada. O fato do refrão ser aquilo que o sujeito dizia pra moça antes de aprender a lição demonstra consciência da dimensão fake da afirmação de que tal lição foi aprendida. Mas a versão do Nelson, que percebeu faz tempo que um pé na bunda não é o fim do mundo, mas a própria condição humana, mostra que seria muito melhor se a lição fosse aprendida. <br /> <br />NELSON 4 X LEGIÃO URBANA 1 </div>
6) VOCê É LINDA (NELSON GONÇALVES X CAETANO VELOSO)<br />
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2529997241" name="gsSong2529997241" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299972&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299972&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Nelson%20Gon%C3%A7alves%20Voc%C3%AA%20%C3%89%20Linda" title="Você É Linda by Nelson Gonçalves on Grooveshark">Você É Linda by Nelson Gonçalves on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2533869941" name="gsSong2533869941" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25338699&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25338699&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Caetano%20Veloso%20Voc%C3%AA%20%C3%A9%20linda" title="Você é linda by Caetano Veloso on Grooveshark">Você é linda by Caetano Veloso on Grooveshark</a></span></object></object><br />
<div align="justify">
Bom, aqui o advbersário é duro, tipo encarar o Anderson Silva, porque o Caetano é talvez o maior mestre nesse tipo de canção pop de amor na MPB. E o cara é simplesmente brilhante quando se trata de interpretação, de decantar aquilo que a canção, delicadamente, exige. E quando ela não exige nada, Caetano cria um tipo de interpretação que ora revela o que ali se ocultava, ora escancara contradições internas à forma, que de outro modo passariam desapercebidas (o caso célebre de Carolina). Em suma, é difícil fazer uma interpretação melhor que a do próprio Caetano (o mesmo vale pro Chico Buarque, diga-se de passagem, um puta intérprete). O que nao quer dizer que seja impossível, primeiro porque Caetano erra (sobretudo porque arrisca), segundo porque em canção é assim que funciona: nada é definitivo. Mas não é esse o caso. Nelson carrega nas cores do bolerão, e o tom Bossa Nova (mas é importante dizer que a canção guarda distância da Bossa Nova, sobretudo se repararmos bem no violão contínuo de Caetano, sem swingue nenhum, quadradão, acentuando os 4 tempos) de aceitação da beleza da moça como um dado natural, como letra, música e ritmo, se perde. A interpretação do Nelson é excessivamente passional e chama atenção para o intérprete, enquanto que Caetano esforça-se para dar uma imagem precisa (concretude) de seu objeto – moça, mar, abaeté, a própria canção. O “você” do título ocupa o primeiro plano, e toda canção é uma busca pela adjetivação precisa, solar, desse objeto. Mas Nelson é malandro e não descaracteriza a canção, por isso a vitória não é, assim, de lavada. <br /> <br />NELSON 0 X CAETANO 2</div>
<div align="justify">
7) BEM QUE SE QUIS (NELSON GONÇALVES X MARISA MONTE)</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:98543bb4-1df7-4c65-b27e-8989c7292e9a" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 332px;">
<div id="f98489fd-b2df-4901-8f67-dd0123d754a6" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=i9jPISd91-I&list=PLB841FF7537CBE0B9" target="_new"><img alt="" src="http://lh5.ggpht.com/-O126cR_H_a8/UlLztbqhwcI/AAAAAAAAAd0/C777iNmHxSk/videoa916e99c82fa%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('f98489fd-b2df-4901-8f67-dd0123d754a6'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"332\" height=\"276\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/i9jPISd91-I&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/i9jPISd91-I&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"332\" height=\"276\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3727127993" name="gsSong3727127993" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=37271279&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=37271279&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Marisa%20Monte%20Bem%20Que%20Se%20Quis%20(e%20po'%20che%20fa')" title="Bem Que Se Quis (e po' che fa') by Marisa Monte on Grooveshark">Bem Que Se Quis (e po' che fa') by Marisa Monte on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Novamente o embate do Nelson com a última musa da MPB – de certo modo, a negação da possibilidade de musas na MPB. Uma versão de Nelson Motta para uma canção francesa, que foi um grande sucesso nos longínquos anos 90. No primeiro embate Marisa foi jogar no campo do adversário, e até que se saiu bem, mas acabou perdendo. Já aqui se trata do jogo de volta, e é o Nelson que vai se arriscar nesse terreno pop quase pagode (não é a toa que o Exaltasamba gravou a música, que ficou pior que as duas – deixou tudo quadradão) que Marisa domina bem. O resultado é que sua interpretação não consegue se adequar à naturalidade exigida pela canção, sobretudo no seu refrão. A canção se estrutura de uma forma bem convencional de modo a ser toda ela uma preparação para o extase sexual do final, extase esse que exige uma naturalidade entoativa que se aproxime da pulsão corporal. Ou seja, no refrão a melodia tem que ceder espaço para entoação porque é o corpo que vai entrar em cena. Esse é o único charme da canção, aliás, bem pobre – todo o pagode mais convencional se baseia exatamente nesse movimento, assim como parte do repertório romântico mais sexualizado do Roberto Carlos e seus seguidores, como Wando. Mas, ao não conseguir realizar esse mínimo deslocamento, a versão do Nelson fica desconjuntada. Me dói admitir, mas pontos pra Marisa por conseguir simular o orgasmo no final. O Nelsão dá uma brochada. <br /> <br />NELSON GONÇALVES 0 X MARISA MONTE 1</div>
<div align="justify">
8)CASO SÉRIO (NELSON GONÇALVES X RITA LEE)</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:a9ca986e-9100-45bb-a5de-690e884f05de" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 330px;">
<div id="b824bb32-f531-4822-aad0-6a2666c46a96" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=iAISsyR5uek&list=PLB841FF7537CBE0B9" target="_new"><img alt="" src="http://lh4.ggpht.com/-5Fj7N_JLs7E/UlLzt_kumoI/AAAAAAAAAd8/AvmFTa3Q4Sw/video80fc3decd611%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('b824bb32-f531-4822-aad0-6a2666c46a96'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"330\" height=\"277\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/iAISsyR5uek&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/iAISsyR5uek&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"330\" height=\"277\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong1691843362" name="gsSong1691843362" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=16918433&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=16918433&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Rita%20Lee%20Caso%20s%C3%A9rio" title="Caso sério by Rita Lee on Grooveshark">Caso sério by Rita Lee on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong1025831667" name="gsSong1025831667" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=10258316&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=10258316&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Ed%20Motta%20Caso%20S%C3%A9rio" title="Caso Sério by Ed Motta on Grooveshark">Caso Sério by Ed Motta on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Rita Lee era ótima para fazer boleros que soassem modeninhos. Um dos melhores é “Mania de Você”, uma canção excelente, naquele modelo de romantismo sacana que o Tim Maia adorava. “Caso Sério” é um outro exemplo da série, só que aqui marcado por certo certo distanciamento irônico, como se o flerte com o bolerão cafona não pudesse ser assumido integralmente, a não ser mediante ironia. Daí o porque do “Românticos de Cuba” ser pronunciado em portunhol, e de aparecer um “misto quente” que desloca o romantismo da cena com uma imagem de declarado “mal gosto”. Ora, Nelson Gonçalves não tem problemas em fazer a canção soar como um bolero deslavado, retirando qualquer traço de ironia da interpretação (por isso o misto quente fica tão estranho na sua versão), assim como ele já havia feito com Cazuza. Só que aqui o movimento funciona perfeitamente, pois a ironia que Rita aplica não é estrutural, mas antes um certo receio ou vergonha de fazer um bolero deslavado (o que não vai ser problema em “Mania de Você”, que assume integralmente sua sensualidade de Cabaré). Ao fazer a canção assumir integralmente sua vocação, a versão de Nelson supera a original, conseguindo soar ainda mais sensual – e não é muito fácil superar a Rita Lee nesse campo. <br /> <br />*Só pra servir de contraponto, e pelo prazer do sadismo, acresento uma versão muito inferior - ainda pior porque quer aparecer como releitura cult. Aqui, a canção desaparece totalmente para ceder lugar a um violão sofrível e a torneios vocálicos absolutamente gratuítos. Nem beleza nem ironia, apenas uma egolatria desnecessária. Agradecemos ao senhor Ed Motta pela pérola. </div>
NELSON GONÇALVES 1 X RITA LEE 0 <br />ED MOTTA rebaixado para a série C do campeonato.<br />
9)NADA POR MIM (NELSON GONÇALVES X MARINA LIMA E PAULA TOLLER)<br />
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2529999438" name="gsSong2529999438" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299994&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25299994&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Nelson%20Gon%C3%A7alves%20Nada%20Por%20Mim" title="Nada Por Mim by Nelson Gonçalves on Grooveshark">Nada Por Mim by Nelson Gonçalves on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3170058787" name="gsSong3170058787" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=31700587&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=31700587&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Marina%20Nada%20Por%20Mim" title="Nada Por Mim by Marina on Grooveshark">Nada Por Mim by Marina on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong394738714" name="gsSong394738714" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=39473871&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=39473871&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Emilio%20Santiago%20Pot-pourri%20nada%20por%20mim%20%20fullg%C3%A1s" title="Pot-pourri nada por mim fullgás by Emilio Santiago on Grooveshark">Pot-pourri nada por mim fullgás by Emilio Santiago on Grooveshark</a></span></object></object><br />
<div align="justify">
Uma canção pop romântica do Hebert Vianna, típica dos anos 80. Aqui ganha quem parecer mais sincero sendo um capacho. A canção por si não possui grandes atrativos, por isso em todos os casos o arranjo e a interpretação são bastante convencionais. A interpretação de Marina Lima e da Paula Toller seguem os clichês definidas por cada uma, e a de Nelson também segue seus próprios cliches. A versão ao vivo de Paula Toller com voz e violão segue o mesmo padrão adocidado das cantoras MPB contemporâneas. A submissão é adocicada e se apresenta sem resistência em todos os casos. A canção não é mesmo grande coisa, e mesmo um grupo péssimo como Sorriso Maroto consegue fazer uma versão que não compromete, porque não tem nada ali para ser comprometido. Talvez a melhor versão seja a do Emílio Santiago, que pelo menos é mais sincero ao revelar despudoradamente todo prazer sexual presente naquela situação de submissão masoquista, em sua versão soul-pagodeira. Enfim, o jogo é bem ruim, sem gols e sem emoção.</div>
NELSON GONÇALVES 0 X MARINA LIMA 0<br />
10)SIMPLES CARINHO (NELSON GONÇALVES X ÂNGELA RORO X SIMONE)<br />
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3905788776" name="gsSong3905788776" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=39057887&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=39057887&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Joao%20Donato%20Trio%20Simples%20carinho" title="Simples carinho by Joao Donato Trio on Grooveshark">Simples carinho by Joao Donato Trio on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:09e6e3f5-1cf3-4ac3-b60c-ed1aeb3d6346" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 330px;">
<div id="8f630b1a-dd2d-4cc1-99e0-4f14a8706575" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=yzLx9AN3cOk" target="_new"><img alt="" src="http://lh4.ggpht.com/-Jdt6d-z-RDo/UlLzuc9wk4I/AAAAAAAAAeI/byYhVCAL3RY/video985a01ba363c%25255B8%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('8f630b1a-dd2d-4cc1-99e0-4f14a8706575'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"330\" height=\"274\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/yzLx9AN3cOk&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/yzLx9AN3cOk&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"330\" height=\"274\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3630169614" name="gsSong3630169614" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=36301696&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=36301696&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=%C3%82ngela%20Ro%20Ro%2001.%20Simples%20carinho" title="01. Simples carinho by Ângela Ro Ro on Grooveshark">01. Simples carinho by Ângela Ro Ro on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3855475060" name="gsSong3855475060" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=38554750&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=38554750&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Simone%20Simples%20Carinho" title="Simples Carinho by Simone on Grooveshark">Simples Carinho by Simone on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Essa destoa um pouco das outras composições do album pois é uma música cuja base não é o pop rock anos 80. É uma canção de João Donato, com letra de Abel Silva – professor universitário que se tornou letrista por sua aproximação com Raimundo Fagner - e que coloca uma questão interessante. Acredito que exista uma ligeira incompatibilidade entre a letra e a música nessa canção, pois me parece que a letra é mais passional do que o exigido pela melodia. Pra quem não conheçe, sugiro que comece ouvindo a versão instrumental do João Donato, e procure imaginar sobre o que poderia ser a letra. A meu ver, a música tem certa leveza que as cores carregadas da letra (“Amar é sofrer”) fazem perder. E as interpretações acabam por focar mais no sentido da letra do que no da parte musical, até chegar no excesso passional (equivocado) da interpretação da Simone. Elas não são ruins, mas perdem algo da dinâmica proposta pelo João Donato. Aqui, portanto, o problema é anterior as gravações, ainda que a Simone peque por um excesso de passionalidade. <br /> <br />NELSON GONÇALVES 1 X ANGêLA RORÔ 1 X SIMONE 0</div>
<div align="justify">
11) ESTÁCIO, HOLLY ESTÁCIO (NELSON X LUIZ MELODIA X MARIA BETHÂNIA X MARTINÁ’LIA)</div>
<div align="justify">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2705231197" name="gsSong2705231197" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=27052311&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=27052311&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Luiz%20Melodia%20Est%C3%A1cio%2C%20Holly%20Est%C3%A1cio" title="Estácio, Holly Estácio by Luiz Melodia on Grooveshark">Estácio, Holly Estácio by Luiz Melodia on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2530000945" name="gsSong2530000945" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25300009&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=25300009&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Nelson%20Gon%C3%A7alves%20Est%C3%A1cio%2C%20Holly%20Est%C3%A1cio" title="Estácio, Holly Estácio by Nelson Gonçalves on Grooveshark">Estácio, Holly Estácio by Nelson Gonçalves on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3110918872" name="gsSong3110918872" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=31109188&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=31109188&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Maria%20Beth%C3%A2nia%20Est%C3%A1cio%20Holly%20Est%C3%A1cio" title="Estácio Holly Estácio by Maria Bethânia on Grooveshark">Estácio Holly Estácio by Maria Bethânia on Grooveshark</a></span></object></object><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong2665836438" name="gsSong2665836438" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=26658364&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=26658364&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Mart'n%C3%A1lia%20Est%C3%A1cio%2C%20Holly%20Est%C3%A1cio%20-%20Luiz%20Melodia" title="Estácio, Holly Estácio - Luiz Melodia by Mart'nália on Grooveshark">Estácio, Holly Estácio - Luiz Melodia by Mart'nália on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
<br />Um dos grandes intérpretes da MPB, em uma canção que está em um dos maiores discos da música brasileira de todos os tempos (Pérola Negra, 1973). Aí o negócio fica difícil. Contudo, essa música não deixa de ser um belíssimo samba canção, ainda que fale de morte e tenha sua dose necessária de esquisitices. E é claro, são essas mínimas sutilezas esquisitas que ajudam a compor seu brilhantismo, assim como é claro que vão ser a primeira coisa a desaparecer na interepretação mais canônica do Nelsão. Sua versão vai propor uma suavização das arestas proposta pelo maldito Luis Melodia - o que demonstra o equívoco das interpretações que dizem que esse modelo é sempre exagerado e passional, incapaz de sutilezas. A versão de Nelson Gonçalves prima pela beleza, enquanto que a de Melodia flutua entre beleza e violência (morte, maldição, ódio). A original é mais adequada aos sentidos propostos, mas a de Nelson é uma belíssima interpretação. Como bônus fica a versão da Maria Bethânia em um disco produzido pelo Caetano (Drama), que faz questão de reforçar as “esquisitices” da versão original, e o dueto de Luiz Melodia com Martiná’lia, que é a versão mais equilibrada, belíssima. Ponto pro compositor, que criou essa jóia.</div>
<div align="justify">
NELSON 1 X LUIZ MELODIA 3 X MARIA BETHÂNIA 2 X MARTINÁ’LIA 3</div>
<div align="justify">
12) ME CHAMA (NELSON GONÇALVES X LOBÃO)</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="center">
</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:572a8b55-40df-4706-acff-648552fee6dd" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 301px;">
<div id="2d74f43a-c316-425c-89e7-1d916da6dde5" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=tSVBWgsIELo" target="_new"><img alt="" src="http://lh6.ggpht.com/-LTEST70JSnE/UlLz0UZ60UI/AAAAAAAAAeQ/-8Qt50cyTkk/video41bb08d51530%25255B7%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('2d74f43a-c316-425c-89e7-1d916da6dde5'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"301\" height=\"252\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/tSVBWgsIELo&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/tSVBWgsIELo&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"301\" height=\"252\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
<br />
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3494288151" name="gsSong3494288151" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=34942881&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=34942881&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Lob%C3%A3o%20Me%20Chama" title="Me Chama by Lobão on Grooveshark">Me Chama by Lobão on Grooveshark</a></span></object></object> <object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="40" id="gsSong3647437981" name="gsSong3647437981" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=36474379&style=metal&p=0" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/songWidget.swf" width="250" height="40"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&songID=36474379&style=metal&p=0" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/song?q=Jo%C3%A3o%20Gilberto%20Me%20chama" title="Me chama by João Gilberto on Grooveshark">Me chama by João Gilberto on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
Lobão é um reacionário conservador com opiniões cada vez mais medíocres (aliás, quem da geração do rock anos 80 se salva? Esse é o preço pago por uma rebeldia juvenil de classe média desvinculada de uma base social concreta. O abismo desa geração para anterior (MPB) e a posterior (RAP) em termos de alienação é impressionante. Eis o resultado da rebeldia enquanto produto de grife apenas). Dito isso, é preciso reconhecer que ele é o grande intérprete de suas canções (e ele tem algumas excelentes) e que suas interpretações vão ficando cada vez melhores com o passar dos anos. Aqui Nelson perde a mão – como havia acontecido antes com Cazuza – porque a canção ganha muito com um tipo de interpretação mais rock n’ roll. Na voz do Lobão, os versos ganham a intensidade do desespero, que os tornam muito mais contundentes: é óbvio que se a moça não telefonar, o cara vai ter uma overdose de cocaína, que a propósito já deve ter começado. Para o Nelson, é uma dor como qualquer outra, tanto que ele padroniza a distinção que tem entre a segunda parte e o refrão (e que nas versões primárias dos anos 80, do Lobão e da Marina, é reforçada descomedidamente). Nessa interpretação Nelson erra a mão e elimina o desespero que faz a graça da coisa, submetendo-se aos clichês de interpretação. <br />Dito isso, meus senhores, é claro que tem a versão do João Gilberto pra essa música… O baiano transforma o desespero da interpretação do Lobão em dado formal, transformando-o em uma relação entre melodia, fala, arranjo e harmonia. O desespero se torna um traço da composição, que faz com que a própria canção se dissolva. É chato de ouvir, não dá pra cantar junto, o desespero angustiado de roqueiro veterano se converte em depressão profunda. É só ler os comentários decepcionados dos fãs do Lobão no youtube pra saber que a visão que João tem da situação cantada é bem desagradável. Enfim, não vou colocar o João Gilberto no jogo, porque ele instaura um outro patamar na canção, difícil de ter termos de comparação… Não se trata de uma fuga, ou de aliviar a barra dos dois de forma condescendente. Mas é como se estivessemos num concurso de literatura contemporânea e de repente alguém dissesse que o Machado de Assis escrevia melhor. Possivelmente é verdade, mas não deixa de ser um disparate. <br /> <br />NELSON GONÇALVES 0 X LOBÃO 3 </div>
<div align="justify">
…e a BOSSA NOVA É FODA</div>
<div align="right">
<em>10\2013</em></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-8344564285323543412013-08-26T10:06:00.001-07:002014-11-12T05:17:52.206-08:00A insustentável leveza dos pequenos gestos<div align="justify">
TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NA PÁGINA DA TORCIDA <a href="https://www.facebook.com/BambiTricolor?fref=ts" target="_blank">BAMBI TRICOLOR</a>, SOBRE A FOTO PUBLICADO NO INSTAGRAM PELO JOGADOR EMERSON SHEIK, DO CORINTHIANS, EM QUE ELE APARECE DANDO UM SELINHO EM UM AMIGO. </div>
<div align="justify">
<img src="http://imguol.com/blogs/3/files/2013/08/emersonsheik.jpg" height="246" width="408" /> <br />Quando a sueca Emma Green Tregaro mostrou suas unhas pintadas com as cores do arco-íris, recebeu da supercampeã russa Isinbayeva uma reprovação forte: "É desrespeitoso com o nosso país. É desrespeitoso com nossos cidadãos porque somos russos". Isinbayeva se referia, então, à legislação que cerceia direitos dos homossexuais na Rússia, como adotar crianças ou "fazer propaganda homossexual". A imprecisão desse conceito serve bem à homofobia, como ficou claro na tentativa de explicação que Isinbayeva deu, após a repercussão de suas palavras: "Quero expressar de maneira firme que me oponho a qualquer discriminação contra a comunidade gay a respeito de sua sexualidade (...). Se nos permitirmos promover e fazer esse tipo de coisas, tememos muito por nossa nação porque nos consideramos normais, com um padrão. Nós apenas vivemos com homens ao lado de mulheres, e mulheres ao lado de homens. Tudo deve estar bem. Isso vem da história. Nós nunca tivemos problemas assim na Rússia. E não queremos ter problemas assim no futuro."</div>
<div align="justify">
<br />A homossexualidade seria, portanto, um desvio de conduta, um problema, uma anormalidade que ameaça o futuro e o estilo de vida russo que, segundo Isinbayeva, se calca na existência de casais heterossexuais exclusivamente. Numa lógica de tal forma opressora e contrária à diversidade, não admira que um gesto tão simpático à causa LGBT quanto simples - unhas pintadas com as cores do arco-íris - adquira esse superpoder de contrariar e desrespeitar uma nação, suas leis, seus cidadãos, seu projeto de sociedade, seu futuro. Esse temor pelo diferente, essa necessidade de que ele permaneça escondido, inaudito, invisível, isolado é, ora pois, a raiz primeira da homofobia. E a homofobia, como projeto político, depende de amarras tão apertadas, de um discurso tão restrito que basta um gesto positivo em relação aos LGBT, por menor que ele seja, para que se exponha seus limites e fissuras, sua artificialidade (a despeito de toda pretensão "naturalista" que o homofóbico evoca). Esses gestos apontam, quando não criam, os espaços de resistência que não permitem, afinal, que o discurso homofóbico seja o único possível, ainda que muitas vezes ele seja proferido pela maioria.</div>
<div align="justify">
<br />Não é muito diferente do beijo do Sheik no amigo. Há quem relativize o gesto sob o argumento de que Sheik não é gay, não saiu do armário, chamou os são-paulinos de "bambis" há pouco tempo, etc. Que seja. Vamos primeiro estabelecer uma coisa: o Brasil não possui leis que proibem "propaganda homossexual" mas sustenta discursos muito alinhados com esta lógica. Basta lembrarmos da presidente Dilma no episódio da cartilha anti-homofobia retirada do programa escolar, da nossa atual Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dos casos de agressões e assassinatos provocados por homofobia. Num país em que pai e filho são interpretados como casal gay por demonstrarem afeto publicamente e, por isso, são espancados, um selinho entre dois homens ganha dimensões de resistência. Não importa se Sheik é hetero, gay ou bi pois a ordem primeira é dissolver a ideia de que há eles, os gays, e nós, os normais, o padrão (essa é a conversa da Isinbayeva, aquela que não discrimina gays, lembram?). Dissolver a ideia que essas demonstrações de afeto entre homens é da alçada deles, os gays. Que beijar um homem implica em declarar-se gay, sair do armário, assumir uma opção. Pode ser isso, mas não precisa ser só isso. A possibilidade de que homens, independente de sua orientação sexual, executem gestos de afeto publicamente é algo que nós devemos celebrar e cultivar. Especialmente se esse gesto vem de um atleta, imerso num dos meios mais homofóbicos da atualidade (como temos discutido), consciente da repercussão que causará (como a legenda da foto demonstra). A definição da orientação sexual do jogador não importa em absoluto, importa o beijo.</div>
<div align="justify">
<br />A reação (de boa parte) da torcida corinthiana lembra um pouco a Rússia de Isinbayeva. "Aqui é Corinthians" é o grito de ordem, a necessidade de delimitar o espaço da interdição e lembrar que, ali, naquela torcida, "não há esse tipo de problema". Que isso é "coisa de bambi". E não nos enganemos, se fosse um jogador de qualquer outro clube, receberia as mesmas chacotas de rivais e a mesma rejeição dos seus. Uma comunidade homofóbica, seja uma nação ou uma torcida de futebol, depende dessa "defesa" de sua honra, dessa manutenção de sua "pureza", uma vez que homossexualidade é defeito de caráter, vergonha, nojeira. Defender-se da acusão de ser gay e, ao mesmo tempo, lançá-la sobre o outro e torná-lo fraco, ridículo, humilhado é a lógica dos discursos dos rivais, e talvez isso explique porque "o bambi" é sempre o outro.</div>
<div align="justify">
<br />Na nossa cultura, é difícil provar o teor nocivo de uma piada preconceitosa. Nossa maneira de lidar com o riso, com o esculacho, nossa postura acrítica aos discursos "politicamente incorretos" tornam complicada a tarefa. Não raro as mesmas pessoas que reproduzem piadas homofóbicas são aquelas que, diante de agressões físicas contra LGBTs, percebem ali o limite: bater não, tirar sarro sim. Então é preciso entender que, diante de racionalidades e falas em disputa por legitimidade política, é esperado que algumas contradições se apresentem - dentro de certos grupos, de sociedades, de pessoas. Talvez seja o caso de Emerson sheik, que usa a expressão "bambi" pra provocar os são-paulinos e depois posta uma foto dando selinho num amigo e dizendo não se importar com as piadas preconceituosas (que ele sabia que viriam). Isso não diminui seu gesto, apenas torna mais tortuoso o quadro geral dos acontecimentos. Não nos deixa esquecer que assim como "o gay" é sempre o outro, "o homofóbico" também o é; que ninguém está livre de expressar esse tipo de raciocínio negativo quanto à sexualidade, por melhores que sejam minhas intenções.</div>
<div align="justify">
<br />Reconhecer em si o preconceito, admitir e trazê-lo à tona, tentar desmontar seus mecanismos... nada disso é fácil. É preciso, no mínimo, um ambiente que apresente argumentos, interpretações, possibilidades diferentes das tradicionais, das "normais". E, nesse sentido, o beijo do Sheik, sendo tão único no contexto do nosso futebol, vale muito mais do que suas provocações homofóbicas, que se juntam aos milhões de piadas homofóbicas repetidas e cristalizadas por aí. Todo gesto positivo é bem-vindo.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-58467503795536544652013-08-26T10:05:00.003-07:002014-11-12T05:19:15.616-08:00Domingo na Marcha – uma reflexão do coletivo passa palavra sobre o Fora do Eixo ou, de boas intenções o inferno está cheio…<div align="justify">
<img src="http://passapalavra.info/wp-content/uploads/2011/06/marcha-71.jpg" height="330" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="227" /> </div>
<div align="justify">
Para quem está a fim de ficar por dentro do debate sobre o Fora do Eixo, e tiver tempo e paciência para ler cinco artigos densos, vale a pena acompanhar essa série em cinco partes (<a href="http://passapalavra.info/2011/06/41431" target="_blank">parte 1</a>, <a href="http://passapalavra.info/2011/06/41710" target="_blank">parte 2</a>, <a href="http://passapalavra.info/2011/06/41866" target="_blank">parte 3</a>, <a href="http://passapalavra.info/2011/07/42227" target="_blank">parte 4</a> e <a href="http://passapalavra.info/2011/07/42544" target="_blank">parte 5</a>) do coletivo passa palavra, de 2011. Os textos são uma resposta bastante séria, com um nível intelectual altíssimo e radicalidade de pensamento de esquerda muito bem vindos, a um <a href="http://www.trezentos.blog.br/?p=6056" target="_blank">ARTIGO</a> bastante fraco da Ivana Bentes em defesa do Fora do Eixo. Um artigo que pode-se dizer que representa o pior daquele pós estruturalismo que, revestido de defesa do novo, na verdade é uma roupagem descolada e cool para a boa e velha manutenção de privilégios.</div>
<div align="justify">
<br />De quebra, o texto tem uma análise curta do Tropicalismo que é a melhor que eu já vi sendo feita pela esquerda, rompendo com os esquematismos fáceis. Algo assim: o projeto liberal ou libertário do Tropicalismo na época era uma verdadeira alternativa a esquerda, considerando que direita e esquerda coincidiam em diversos aspectos, com seu teor nacionalista, autoritário e ideólogo da modernização. Como tal, foi rejeitado por ambos e não se realizou politicamente, embora fraturasse irremediavelmente a cultura nacional. Passado quarenta anos, a esquerda não mudou (ou pior, aquela esquerda de lá é o Estado de hoje), e o capitalismo passa a se realizar a partir do gerenciamento de agendas libertárias - o imperativo do gozo. Ou seja, o grande nó ideológico do nosso tempo: que o capitalismo realiza-se ali mesmo onde seria o espaço de sua contestação, sendo que a esquerda se converteu em espaço de cooptação e a crítica progressista é o modo mesmo como o capital se realiza. Ou seja, é por ser um novo modelo libertário contestador que põe em cheque práticas regressivas que o Tropicalismo se realiza a direita (posto que a esquerda entra em cena como organismo de cooptação burocrática). É por ser crítico e avançado, e não por ser alienado ou conservador, que realiza mas perfeitamente o desenvolvimento do capitalismo, que adora uma boa inovação crítica. Um belo exemplo de como a verdade é o lugar próprio da ideologia. [As consequências dessa visão são perturbadoras, pois se é a radicalidade que realiza o capitalismo, como fica a questão do valor, uma vez que o mais crítico pode ser o mais reacionário e vice versa?]</div>
<div align="justify">
<br />Depois desse começo fantástico, os artigos são uma verdadeira aula de como se fazer crítica radical contundente, sem apelar para esquematismos ligeiros e sem fugir das contradições. A questão vai ser como o capitalismo passa a funcionar na pós-modernidade a partir de um modelo de cooptação de suas críticas, que se transformam em novos modelos de comportamento e padrões culturais. Como a contracultura se converte em seu contrário, na medida mesma em que traz avanços para a luta em relação a métodos engessados e aparelhamentos da esquerda. É nessa chave que é lido o FdE, a partir de uma análise cuidadosa da transformação do modo de articulação da indústria cultural (entra aqui até uma análise do mercado do tecnobrega), que funciona a partir do princípio de flexibilização e gerencialmente de mercados descentralizados, modelos agora menos lucrativos. Uma forma de concentrar saber e poder e, sob a desculpa de produzir novos modos de “viver” e “fazer”, criar nichos de mercado, dominar técnicas de acesso a recursos públicos que pretende se legitimar socialmente usando as Marchas da Liberdade como meio. Além disso, o artigo mostra como essa novidade do FdE se articula com o projeto de precarização da cultura no governo Lula, sob o ministério de Gilberto Gil.</div>
<div align="justify">
<br />Essa série de artigos é fantástica porque oferecem uma resposta consistente para aqueles que acusam a esquerda de preservar velhos dogmas. Aqui fica mais do que claro e evidente que não se trata de negar a radicalidade do novo, e sim reconhecer o problema fundamental da sociedade pós fordismo, pois que é nessa radicalidade que o capitalismo melhor se realiza. Hoje, mais do que nunca, é como se o inferno fosse povoado apenas de boas intenções, a tal ponto que, desprovido de função, o paraíso deixasse de existir. Ou seja, não se trata de negar que esses novos modelos não operam transformações importantes que podem ser lugares desicivos de contestação. Mas compreender que o capitalismo atual não funciona a partir da negação do princípio do prazer, mas antes ressignificando o gozo a partir de seus parâmetros, transformando os 0,30 centavos em espasmos de gigante adormecido.</div>
Para acessar a página do PASSA PALAVRA, clique <a href="http://passapalavra.info/" target="_blank">AQUI</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-20511370796040059742013-08-26T10:05:00.001-07:002014-11-12T05:19:49.334-08:00Algumas notas sobre a canção (Tropicália, MPB, Roberto Carlos, Funk)<div align="justify">
<img src="http://flabbergasted2.files.wordpress.com/2007/10/sergio_ricardo_violando.jpg" height="242" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="403" /> </div>
<div align="justify">
Para marcar na agenda: é preciso deslocar a leitura hegemônica da história da canção brasileira, que busca qualificar seu momento "heroico" a partir da oposição entre MPB e Tropicália, cabendo ao público qualificado escolher com qual dos dois lados se identifica, o da “crítica reformista” tropicalista ou o do “engajamento elitista” da mpb. A história é entendida a partir de pares de oposição: a Bossa Nova cria a forma que é ampliada em todos os níveis pela MPB e, na sequência, rompida pela crítica tropicalista, que desvela seus limites. Pode-se compreender a ruptura tropicalista como avanço ou retrocesso. Em todo caso, nesse momento houve uma fissura, e o festival da canção aparece como polo de interesses políticos irreconciliáveis.</div>
<div align="justify">
<br />Contudo devemos instaurar um terceiro elemento nesse par de oposição, aquele elemento ausente da narrativa hegemônica, cuja <img align="right" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLrELZKn85Wku2_lcHa3hPmQZr340Q33G7Hxvt_o1YcioDc5s-TxGF9bXiSocrNmhVncTUvz9Xix1uVm9BALXITIX8dClM4yWKfYqyOvwmCooNVAHK2X46cRAd33QcAtqNYUoSINWCxHE/s400/MH+4.jpg" height="253" style="display: inline; margin-left: 0px; margin-right: 0px;" width="214" /> presença invisível (sua rasura) determina o sentido desta, estruturando-a. Trata-se, evidentemente, do fator Roberto Carlos. Esse é o "verdadeiro" elemento de oposição da polêmica, em torno do qual os outros dois fatores entram em disputa por hegemonia (de uma perspectiva mais macro, o grande elemento ausente não é a disputa política - alto modernismo MPB ou pós modernidade tropicalista - mas a disputa pelo mercado, que não era apenas uma reivindicação Tropicalista). A história, contada a partir dessa irrupção carlista, apresenta outro esquema. A ampliação do fator Bossa Nova promovida pela MPB - que a coloca como o gênero mais vendável da época - é interrompida pelo surgimento de Roberto Carlos como elemento alienígena (produzido pelo mercado), abrindo o campo para uma disputa por hegemonia. A Tropicália, assim, não é oposta ao padrão MPB, mas é a forma mesma que a MPB precisou necessariamente assumir para continuar sendo o gênero hegemônico no sistema, expulsando o paradigma proposto por Roberto Carlos do campo. Dois pólos de um mesmo modelo que se transformam para permanecer no topo.</div>
<div align="justify">
<br />A relação entre MPB e Tropicália é, sobretudo, de continuidade. Uma disputa entre pares, por assim dizer. Tanto que, após esse momento heroico de confronto (que evidentemente tem uma dimensão política, atravessada, contudo, pelo mercado, como aliás enfatizava o tempo todo o próprio tropicalismo), fazer música com guitarra elétrica passa a ser um privilégio da MPB que, desse modo, torna-se a música pop (desdobramento do padrão rock) por excelência do Brasil, até os anos 80, quando o paradigma da formação nacional começa a ruir. Roberto Carlos é expulso do campo e, imediatamente 'envelhece', passando a trabalhar com materiais marginalizados como serestas, boleros, gêneros de matriz latino-americana, etc... Ou seja, sua passagem para esse campo romântico\brega não se deve apenas a um desejo mercenário do rei para aumentar suas vendas, e sim ao fato de ter perdido a disputa pelo gênero pop para a MPB (durante um tempo, entre 68 e 71, Roberto até tentou integrar-se ao campo aberto pela Tropicália - é quando produz seus melhores discos - mas aí seria para sempre um sócio menor, e não o rei). Diga-se de passagem, ele revolucionou os padrões da música romântica brasileira, introduzindo alguns aspectos propostos pela... Bossa Nova (mais Tom Jobim do que João Gilberto). </div>
<div align="justify">
Tanto a MPB quanto a Tropicália podem ser compreendidas como participantes ativos de um mesmo processo geral de fundamentação da música pop Brasileira a partir do paradigma da Bossa Nova. Sua oposição não é absoluta, tratando-se antes das tensões decorrentes dos mecanismos de adaptação na disputa por hegemonia, um esquema de adaptação ao mercado fonográfico (em seu interior, contra e a favor), para não ficar pra trás. A disputa foi, efetivamente, vencida, mas a fratura retorna, por assim dizer, pela porta dos fundos: o enigma da majestade do rei - e de tudo aquilo que, com ele, foi marginalizado e, incorporado pelo mercado enquanto tal - é uma das questões mais espinhosas da canção brasileira.</div>
<div align="justify">
<img src="http://img.saraivaconteudo.com.br/Clipart/images/TROPICALIA_Foto usada no filme Tropicália_ Caetano Veloso_ Foto de Paulo Salomão_ Editora Abril.jpg" height="329" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="197" /> </div>
<div align="center">
*****</div>
<div align="justify">
Voltando a distinção polêmica, nos termos colocados pela Ópera dos Vivos, da Cia do Latão. Construção, do Chico Buarque, para alguns o momento de seu amadurecimento, é seu disco mais Tropicalista (não é a toa que o arranjo da canção Construção é de Duprat, e segue o mesmo esquema dialógico dos arranjos tropicalistas). Significa que ele consegue romper com o conservadorismo tropicalista com as armas do inimigo, ou que ele se vendeu, mas depois entra nos eixos? Tom Zé, aquele do comercial da coca cola, é tropicalista. Quer dizer que o Tom Zé é mais conservador do que parece, ou que a Tropicália é mais a esquerda do que se assume? Os mutantes também são tropicalistas. Em que sentido o som que eles fazem pode ser classificado como uma regressão ao mais mercadológico e comercial da canção? Clube da esquina e Novos Baianos só existem via tropicalismo, ou não? E se desautomatizassemos esses pares de oposição, não seriam mais produtivas as leituras? Ou estaríamos sendo por demais tropicalistas (uma reedição no campo da canção do que no plano intelectual aparece como negativismo marxista versus positivismo pós moderno, enquanto Zizek, Jameson, Stuart Hall, Ramond Willians, Spivak, Judith Butler tão dando risada na nossa cara...)</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="center">
*****</div>
<div align="justify">
<img height="168" src="https://lh3.googleusercontent.com/-CAPc95-wdQw/UegKqXO1YmI/AAAAAAAAYhM/Mjp6cfBXJoo/w702-h260-no/02491+-+LUTO+MC+DALESTE+-+CAPAS+PARA+FACEBOOK.jpg" width="409" /> <br />Se o funk carioca é um gênero que, ao que me parece, consegue dizer mais sobre aquilo que o país se tornou do que o excelente último disco do Chico Buarque, ou a ainda melhor trilogia Cê do Caetano ou o excepcional disco de estreia do Metá Metá. E se, além disso, o gênero causa mais incômodo aos setores conservadores da sociedade (MC Daleste foi morto por sua música, assim como John Lenon e Fela Kuti, e aos que afirmam que ele foi morto pelo posicionamento 'político' e não pelo potencial estético, a rigor, regressivo, pode-se argumentar que uma das complexidades do funk - e do rap, com as correspondentes diferenças de grau - é justamente a promiscuidade entre as dimensões ética, estética e política), gerando um quiproquó valorativo em que esquerda e direita concordam que a Bossa Nova é foda (e é mesmo) e esquerda e direita concordam que o funk é esteticamente 'pobre', ou mal estruturado (em certo sentido é quase uma ilustração didática do caráter regressivo da canção de massa adorniana, em termos de organização dos materiais. E é mesmo). E se ambos os juízos estão, em seus limites, corretos - não se trata de falar que o funk carioca é avançado esteticamente, negando suas limitações - pode ser que o que tenha mudado fundamentalmente seja a própria possibilidade de atribuir valor a partir da relação entre qualidade estética e posicionamento crítico (o fundamento da crítica imanente?). O que não é o mesmo que dizer que de nada serve mais atribuir valor (o mercado sempre atribui valor) mas, antes, que a própria noção do que seja valoração pode ter mudado radicalmente (é claro que isso não é novidade, mas é claro também que a tradição crítica brasileira está devendo em termos de crítica séria da cultura de massas - a mais rasteira - para além dos diagnósticos já conhecidos). Ao menos, essa relação entre forma avançada e crítica radical já não está dada de antemão, sobretudo quando o capital nivela tudo, reproduzindo-se tanto pela crítica mais radical quanto pelas formas mais conservadoras. Nem sempre a qualidade estética é progressista ou menos insignificante por ser foda (mas isso nós sabemos, não é, embora ainda se trate problemas formais em termos de insuficiência de radicalidade) e (aqui é mais complicado de aceitar) nem sempre o que é progressista é o que se precisa no momento para fazer a sociedade avançar em termos progressistas (ainda que as definições precisas sejam, mais do que nunca, necessárias. Afinal, o gigante acordou).</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-44661040130521560832013-08-26T10:03:00.001-07:002014-11-12T05:23:31.833-08:00A gata do LaerteQnd é que a genialidade migrou pros quadrinhos, a ponto do cartoon ser hoje um dos tipos de arte mais avançadas do país? Um série de tiras de cortar o coração do Laerte, tratando um tema difícil com uma sensibilidade incrível. Gênio!<br />
<br />Publicado originalmente em <a href="http://www.oesquema.com.br/trabalhosujo/2013/08/11/a-gata-do-laerte.htm" target="_blank">TRABALHO SUJO</a>. <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinBaUxPnlN4Lrz0LTJICazhoj_SeZYveGid6vTOMxfhe36zouSXIhfyy746mCmTYb1L8OHSTElfyjbfw3mg35Pe5QqCTzs6f5zEjCRZSD6oE5haw04XQtfyHyStMoEeOXTUd4C7h1CeEY/s1600/laerte-gata.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinBaUxPnlN4Lrz0LTJICazhoj_SeZYveGid6vTOMxfhe36zouSXIhfyy746mCmTYb1L8OHSTElfyjbfw3mg35Pe5QqCTzs6f5zEjCRZSD6oE5haw04XQtfyHyStMoEeOXTUd4C7h1CeEY/s1600/laerte-gata.jpg" /></a></div>
<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-22159999468593402302013-08-26T10:02:00.003-07:002014-11-12T05:24:00.703-08:00O Senhor dos ané(a)is<div align="justify">
<br /></div>
<div align="center">
<img src="http://cdn2.maxim.com/maxim/files/2009/05/08/most-conspicuously-gay-duos/frodo-samwise_l.jpg" height="321" width="242" /></div>
<div align="justify">
Esqueça Grande Sertão: veredas. A grande saga homoerótica da literatura do século XX é O senhor dos an(a)éis. Nunca queimar o anel foi tão celebrado e tratado como um feito tão heroico (Brokeback Mountain passou muito longe disso), capaz de salvar toda humanidade, apesar de seu alto custo em termos pessoais. Um dos trunfos do filme é alegorizar o superego castrador do Hobbit em uma figura repulsiva marcada pela dualidade: a função de Smeagol é evitar a todo custo que Frodo queime seu anel com Sam. Para isso, procura o tempo todo causar discórdia entre o casal. Seu grande trunfo, inclusive, não poderia ser mais explícito: o gesto mais radical de Smeagol pra evitar que o senhor Frodo enfim queime o anel é atirá-lo diretamente para uma ARANHA enorme, cabeluda. Mas o amor vence, e o guerreiro Sam salva a mocinha mais uma vez.</div>
<div align="justify">
<br />Quando enfim, consumado o ato, e tudo volta à normalidade, Sam arruma um casamento qualquer pra obedecer as convenções homofóbicas da época (é interessante que do quarteto de Hobbits, só ele precise se casar). Frodo imediatamente cai em depressão profunda, até que decide morrer. É o fim da Sociedade do Anel.</div>
<img src="http://25.media.tumblr.com/tumblr_lcuxukMPEm1qbpjxio1_500.gif" height="149" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="368" /><br />
<em>O texto-piada acima rendeu uma discussão breve no facebook. Uma das críticas, feita pelo amigo de um amigo, é a de que era uma análise vulgar. Segue então a resposta que escrevi. </em><br />
<div align="justify">
Primeiro que eu concordo com seu amigo, se por vulgar ele estiver entendendo uma análise rasa, empobrecida. De fato, eu acho que esse misto de 'análise' com piada não se sustenta enquanto proposta analítica do filme, por ser muito redutora. É muito pobre e, nesse sentido, vulgar. E menos ainda com relação ao Grande Sertão, muito superior, mas aí o rebaixamento foi pura provocação (mas... penso também que uma análise séria de gênero do Grande Sertão, que considere o feminino ou a pulsão homoerótica evidente ali como um elemento disruptor de padrões discursivos hegemônicos, pode apresentar conclusões interessantes).</div>
<div align="justify">
Agora se por vulgar ele estiver recolocando em pauta essa divisão que vc apontou, entre vulgar e não vulgar, aí eu concordo integralmente com vc: para pensar a cultura de massa, é preciso descondicionar o discurso saindo de qualquer variação do dualismo alto x baixo com o qual o discurso hegemônico procura enquadrar o popular (bom x mal gosto; vulgar x elevado; atrasado x progressista). Engraçado que eu tava lendo justamente sobre isso hoje, o como a reencenação desse dualismo é o modo de contenção do poder disruptor do popular, capturado em categorias de gosto, valor, cânone.</div>
<div align="justify">
Enfim, se vulgar se refere ao alcance analítico da leitura, eu concordo com seu amigo. Agora se está se referindo a um critério metodológico, aí eu concordo com você.</div>
<div align="justify">
Agora, duas outras coisas. Por mais que seja mais piada que análise, eu acho que capta algo do movimento geral do filme, que é interessante. De fato, é como se o filme tivesse uma dupla ambientação: a parte masculina, ativa, das guerras, e a saga homoerótica dos hobbits. No livro do Tolkien, isso tem a ver com certa valorização da burguesia inglesa, os heróis da nova era. Já no filme, penso ter a ver com uma fragilização do macho presente na ideologia dominante em hollywood, presente em incontáveis níveis, e que marca a passagem a partir dos anos 90 para a forma cínica contemporânea. </div>
<div align="justify">
O outro ponto que é interessante é um lance bem pós estruturalista, porque tem a ver com tradução. Eu não faço ideia se termos como 'queimar o anel' e 'aranha cabeluda', que são "conceitos" chaves da minha 'interpretação', em inglês tem a mesma conotação sexual! Se não, é como se fossem pontos da sacanagem que só poderiam estar visíveis para quem não compartilha da linguagem de quem produziu a história. Ou seja, só faz sentido no ponto cego da linguagem, mas não deixa de ser 'verdadeira' porque o filme, de fato, tem algo de gay. Derrida adoraria isso... </div>
Abraços mano! Compartilha com o seu brother.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-82582252745416657072013-08-26T10:02:00.001-07:002014-11-12T05:27:30.137-08:00PASTOR QUE FAZIA CURA GAY É PRESO POR ABUSO SEXUAL DE DOIS HOMENS.<div align="justify">
Tem uma piada dos trapalhões que é a seguinte: Didi é um dentista, e na frente do consultório tem uma placa grande, onde pode se ler algo do tipo: TRATAMENTO: COM DOR 1000 cruzeiros. SEM DOR 5 cruzeiros. Então o Dedé chega todo animado e pede pra fazer um tratamento sem dor, logicamente. Daí que o Didi chega com uma broca do tamanho de um trem e com um boticão de tirar dente de elefante e parte pra cima do Dedé a seco, sem nenhuma anestesia. Dedé começa a berrar, desesperado. Então o Didi solta, fenomenal: _ Não grita que com dor é mais caro!</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Pois algo dessa inversão que se torna ainda mais perversa (e violenta) por ser profundamente cômica está presente também nesse outro caso de cura gay. Da até pra imaginar uma resposta cínica do pastor: _“Mas como é que eu vou saber o quanto de gay o paciente já desenvolveu se não fizer os testes necessários”? A inversão cínica, que tem a estrutura de uma piada, é a base em que se realiza a perversidade, ainda mais cruel por ser uma grande piada de mal gosto, como percebe o Comediante do Watchmen, ou o Coringa de Piada Mortal. Não se trata de dizer, de modo conservador, que o pastor ataca gays porque é um homossexual enrustido - como se o problema da discriminação fosse resolvido quando os sujeitos enfim reconhecessem a integralidade do gênero ao qual pertencem - mas atentar para o quanto que qualquer construção de gênero possui um fratura interior determinante que precisa ocultar-se representando essa insuficiência como imagem de um Outro que em sua fantasmagoria confirma a integridade do EU. Ou seja, é justamente porque as identidades são fundamentalmente fantasias, ou ausências estruturantes, que elas são 'positivadas' por meio de estruturas sociais, ideológicas, políticas, institucionais, etc. A discriminação participa e dá forma a esse processo para benefícios de pastores que confirmam a superioridade social de sua posição hétero no momento mesmo em que abusam sexualmente de outros homens, mulheres ou crianças.</div>
<div align="justify">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm-1odqJWe3fcpa_I5owyx_wICUo7gPdRsKsl0dI8cSOM1TRcY4q86pOVQFIBsb4T1rF2cqx2VRuZdpvC_qjC8hQPaHxmXkhFB-qFwdJ4XdWRmn3dtt4-S0eG-7Gg0cPwSKYA4toxFLrU/s1600/RyanMuehlhauser3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="139" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm-1odqJWe3fcpa_I5owyx_wICUo7gPdRsKsl0dI8cSOM1TRcY4q86pOVQFIBsb4T1rF2cqx2VRuZdpvC_qjC8hQPaHxmXkhFB-qFwdJ4XdWRmn3dtt4-S0eG-7Gg0cPwSKYA4toxFLrU/s320/RyanMuehlhauser3.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<strong>PASTOR QUE FAZIA CURA GAY É PRESO POR ABUSO SEXUAL DE DOIS HOMENS.</strong></div>
<span style="font-size: small;"></span> <br />
<div align="justify">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<em><br /></em>
<em>MINESSOTA, EUA — Um pastor de Minessota foi preso na última quinta-feira acusado de abusar sexualmente de dois homens durante sessões de “aconselhamento para se libertar de tendências homossexuais” em uma organização cristã anti-gay. De acordo com o jornal local “Kare 11”, o reverendo Ryan J. Muehlhauser - casado e pai de dois filhos - responde a oito acusações criminais por abuso sexual de rapazes que passavam pela “terapia” indicada pelo pastor. Ele pode pegar até dez anos de prisão por cada um dos crimes.</em><br />
<em>Os abusos teriam ocorrido em datas diferentes: de outubro de 2010 a outubro de 2012, e entre março e novembro deste ano. Uma das vítimas disse a polícia que continuou as sessões mesmo depois do abuso porque acreditava se tratar de um aconselhamento espiritual. Além de ser consultor na organização cristã anti-gay Outpost, Muehlhauser atuou como pastor na Igreja Cristã Lakeside, em Minnesota, por 22 anos.</em><br />
<em>Em seu site, a organização negou que o pastor fizesse parte da equipe de “cura”. Após o incidente, a Outpost passou a se definir como uma organização que “ajuda as pessoas feridas emocionalmente e sexualmente a encontrarem a cura e restauração por meio da relação com Jesus Cristo.”</em><br />
<em>“A Outpost está profundamente triste com as alegações sobre Ryan Muehlhauser. Somos fundamentalmente contra o abuso sexual e existimos, em parte, para ministrar aos que sofreram essa violência. Ryan não é e nunca foi um membro de nossa equipe, e nem era um pastor que recomendávamos. Os dois jovens que sofreram esta atrocidade continuam conosco e queremos ajudá-los da maneira que formos capazes. Nossa tristeza e as nossas orações vão para todos os que foram sexualmente violados.”</em><br />
<br />
Leia mais sobre esse assunto no <a href="http://oglobo.globo.com/mundo/pastor-que-fazia-cura-gay-preso-por-abuso-sexual-de-dois-homens-6708281#ixzz2cSzgToIQ" target="_blank">Globo </a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-43334956674632673332013-08-26T10:00:00.001-07:002014-11-12T05:32:46.618-08:00Vovô Chico dando aula de preliminares pros funkeiros<div align="justify">
Naquele que é o mais explicitamente sexualizado gênero musical contemporâneo no Brasil, o funk carioca, o sexo é tratado como em um filme pornô, ou em uma aula de aeróbica, mal conseguindo ocultar sua profunda fragilidade e a ausência assombrosa daquilo que afirma possuir - seu didático reino de pirocas, xotas e cus pretende a todo custo evitar o confronto com o real da inexistência monstruosa da relação sexual (pra seguirmos Lacan). A pornografia é uma tragédia para a psique masculina, ainda que a sexualização agressiva da matéria social seja talvez o que de mais relevante o funk tem a nos dizer sobre a sociedade contemporânea. A linguagem do funk é a forma por excelência da sociedade atual.</div>
<div align="justify">
<br />Diante disso, o que o vovô Chico pode nos ensinar? Se você pretende que uma mulher te ame com o corpo (que é muito mais profundo e eterno que o amor da alma) é preciso perder-se nas preliminares, até que se torne o lugar do gozo. Essa é talvez a mais bela canção sobre as preliminares da MPB (e não são poucas). Aqui o velho Francisco consegui bater o Wando e se equiparar a Roberto Carlos, o que não é pouca coisa. Perto dessa sabedoria cunilingual, o didatismo agressivo e condicionador dos funkeiros fica parecendo o sexo desesperado de um bando de moleques com ejaculação precoce. O que é uma pena, pois o potencial estético do gênero é tão grande quanto o do rap, só lhe faltando talvez um pouco mais de tencionamento ideológico.</div>
<div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:05f7419d-0ef4-4040-8060-3427985af4b8" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; width: 385px;">
<div id="b8b664bc-e8bb-4b4e-b814-9ecfa47cd86e" style="display: inline; margin: 0px; padding: 0px;">
<div>
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=DkQYReljuZI" target="_new"><img alt="" src="http://lh6.ggpht.com/-tXzdnOmiY-g/UhuJrHY2FOI/AAAAAAAAAbI/-lKxI6vlHoM/video7926ad873d92%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('b8b664bc-e8bb-4b4e-b814-9ecfa47cd86e'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"385\" height=\"322\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/DkQYReljuZI&hl=en\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/DkQYReljuZI&hl=en\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"385\" height=\"322\"><\/embed><\/object><\/div>";" style="border-style: none;" /></a></div>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-53890567880891352122013-06-30T19:18:00.001-07:002014-11-12T05:33:09.270-08:00Tarantino’s Collection<div align="justify">
Depois de uma trilha sonora pra arrebentar com os corações dilacerados, segue essa outra feita pra sair explodindo coisas por aí, brigar com os nazis nas manifetações, mandar o Galvão Bueno se foder, encher o rabo de cerveja, rir na cara de quem grita sem vandalismo, tretar sem motivo, curtir música pop como se o mundo fosse acabar, dar um baile na seleção padrão FIFA no final da Copa e ao mesmo tempo mandar a Copa pro inferno, trepar sem responsabilidade, ler pornopopeia, pegar aquele imbecil que é gato pra caralho, e depois trocar ele por um belo pedaço de pizza. <br /> <br />Uma seleção musical pedrada compilada das trilhas sonoras dos filmes do Tarantino, e acrescidas de alguns toques pessoais dessa mão de veludo que vos escreve, tentando aí uma parceria com o maluco – vai que cola! Uma trilha dançante repleta de (in)sucessos pop lado B de diversos partes do mundo. O único critério é botar pra rebolar, bater, escarrar. Pegar com tesão, virar do avesso. Deitar o cabelo.</div>
<div align="justify">
Recomendado para ouvir bem perto do seu chefe. De preferência, munido de um taco de beisebol. </div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="250" id="gsPlaylist8808115049" name="gsPlaylist8808115049" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/widget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=88081150&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/widget.swf" width="250" height="250"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=88081150&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/playlist?q=Tarantino's%20Colection%20Acauam%20Oliveira" title="Tarantino's Colection by Acauam Oliveira on Grooveshark">Tarantino's Colection by Acauam Oliveira on Grooveshark</a></span></object></object></div>
<div align="justify">
1. My baby shot me down (Nancy Sinatra)</div>
<div align="justify">
2. After Dark (Tito & Tarantula)</div>
<div align="justify">
3. Surfin Bird (The Trashman)</div>
<div align="justify">
4. Comanche (The Revels)</div>
<div align="justify">
5. Out of limits (The Marketts)</div>
<div align="justify">
6. James Bond Theme (The Skatalites)</div>
<div align="justify">
7. The good, the bad, the ugly (Hugo Montenegro)</div>
8. Ainda é cedo (Nelson Gonçalves)<br />
9. Cancion de Mariachi (Los Lobos & Antonio Bandeiras)<br />
10. No me corra cantinero (Vitico Castillo)<br />
11. Ironside [Exerpt] (Quincy Jones)<br />
12. Fever (Elvis Presley)<br />
13. Son of a preacher man (Dusty Springifield)<br />
14. You never can tell (Chuck Berry)<br />
15. Stuck in the middle with you (Stealers Whell)<br />
16. Coconut (Harry Nilsson)<br />
17. The green hornet (Al Hirt)<br />
18. Bori (Boban Marcovich Orkestar)<br />
19. Belleville Rendez-Vous [Version Française] (Ben Charest)<br />
20. Chiken in the corn (Brushy One String)<br />
21. Ezequiel 25:17 (Jesus)<br />
22. Girl, you’ll be a woman son (Urge Overkill)<br />
23. Glory Box (Portshead)<br />
24. Bullwinkle part II (The Centurians)<br />
25. Chick Habit (April March)<br />
26. Cloud Nine (The Temptations)<br />
27. War (What’s is a good for?) (Edwin Starr)<br />
28. I bet you look good on the dancefloor (Baby Charles)<br />
29. Urami Bushi (Meiko Kaji)Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-17743500340805507232013-04-17T20:45:00.001-07:002014-11-12T05:33:38.105-08:0022 Canções lindas de morrer<div align="justify">
Uma postagem pra afastar quizila, chutar olho gordo, tirar zica. Cantar o amor fracassado. Berrar até que os gritos se tornem preces. </div>
<div align="justify">
Expelir. Botar pra fora. Gozar.</div>
<div align="justify">
Uma playlist para quem abriu mão de tentar compreender o amor, para deixar ele, enfim, tornar-se (em) canto. Divino ou demoníaco, pouco importa. Um homem com uma dor, é muito mais elegante.</div>
<div align="justify">
Dedico então a esse grande vazio que é o amor. Porque ele dói.</div>
<div align="center">
<object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="250" id="gsPlaylist854835110" name="gsPlaylist854835110" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/widget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=85483511&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://grooveshark.com/widget.swf" width="250" height="250"><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=grooveshark.com&playlistID=85483511&p=0&bbg=000000&bth=000000&pfg=000000&lfg=000000&bt=FFFFFF&pbg=FFFFFF&pfgh=FFFFFF&si=FFFFFF&lbg=FFFFFF&lfgh=FFFFFF&sb=FFFFFF&bfg=666666&pbgh=666666&lbgh=666666&sbh=666666" /><span><a href="http://grooveshark.com/search/playlist?q=Lindas%20de%20morrer.%20Acauam%20Oliveira" title="Lindas de morrer. by Acauam Oliveira on Grooveshark">Lindas de morrer. by Acauam Oliveira on Grooveshark</a></span></object></object> <br />
<a href="http://grooveshark.com/playlist/Lindas+De+Morrer/85483511" title="http://grooveshark.com/playlist/Lindas+De+Morrer/85483511">http://grooveshark.com/playlist/Lindas+De+Morrer/85483511</a></div>
<div align="justify">
<strong>1)</strong> <strong>DETALHES (Roberto Carlos \ Erasmo Carlos).</strong> Começar com uma canção do Roberto Carlos uma playlist de canções lindas é clichê? Claro, ainda mais com Detalhes. Detalhes está para as canções de amor assim como Drummond está para poesia, a bandeira nacional para o Brasil, Pelé para o futebol. Bem mais do que clichê, Detalhes representa o que entendemos por “lindo de morrer”. Seu símbolo mais bem acabado. Gostou? </div>
<div align="justify">
<strong>2) ONDE A DOR NÃO TEM RAZÃO (Paulinho da Viola \ Elton Medeiros).</strong> Sabe aquele nível de sabedoria (guru \ pai de santo \ mestre de Kung Fu \ Gandhi) que você luta a vida inteira para alcançar, sabendo de antemão do seu fracasso? Pois é: Paulinho da Viola e Elton Medeiros, senhoras e senhores.</div>
<div align="justify">
<strong>3) ÚLTIMO DESEJO (Noel Rosa) Intérprete: Aracy de Almeida</strong>. Uma das mais belas composições do poeta da Vila, em uma das poucas gravações que conserva o pulso original do samba. Com isso, mantem-se a ironia final da letra na própria forma. Grande Aracy, que entendeu tudo. Malandro que é malandro apanha sem perder o rebolado, e dá sempre um jeito de ficar por cima da carne seca.</div>
<div align="justify">
<strong>4) ORAÇÃO AO TEMPO (Caetano Veloso)</strong>. Ok, todo mundo sabe que o místico da turma é o Gil, mas como o Caetano não gosta de deixar por menos, resolver caprichar nessa prece abstrata\concreta para o próprio tempo. Aqui o artista encontra-se com sua matéria prima, o tempo, ao lidar com sua essência, o ritmo.</div>
<div align="justify">
<strong>5) COISA MAIS LINDA (Vinicius de Morais \ Carlos Lyra) Intérprete: João Gilberto</strong>. Algumas canções são como jóias. Tudo aqui é perfeito, na exata medida, conduzido pelo mais perfeccionista dos nossos intérpretes e tendo a sua inteira disposição, o maestro soberano Tom Jobim, que procura dar forma ao projeto utópico de João - suspendendo todas as misérias do mundo. Melodia, letra, harmonia, a moça, tudo aqui é um só, mais bonito que o próprio amor.</div>
<div align="justify">
<strong>6) SAN VICENTE (Milton Nascimento \ Fernando Brant)</strong>. As vezes, fico com a impressão que os anjos existem, e que são melodias.</div>
<div align="justify">
<strong>7) FALA (João Ricardo \ Luli) Intérprete: Ney Matogrosso.</strong> Se Milton é um anjo, Ney Matogrosso é… Diadorin. Essa canção quer ser silêncio, que ceder a voz para o Outro, num gesto de amor altruísta. Mas seguindo a ironia da época (talvez o que havia de mais saudável), o gesto é marcado pelo fracasso: a voz do Ney (encontro perfeito do masculino no feminino) é a marca do silêncio do outro, ficando mais pronunciado a cada interpelação. sendo preenchido por pianos, sintetizadores, cordas. Fala nenhuma.</div>
<div align="justify">
<strong>8) MANIA DE VOCê (Rita Lee \ Roberto de Carvalho)</strong>. Pelos da nuca eriçados. Sussurro feminino ao pé do ouvido. Irresistivelmente sexy, Marvin Gaye com certeza aprovaria e provaria dessa delícia. Wando também. Titia Rita absolutamente deliciosa, mostrando pra molecada qual é o verdadeiro sentido da palavra tesão. </div>
<div align="justify">
<strong>9) O MEU AMOR (Chico Buarque).</strong> Como é que Chico faz para acertar tanto a mão ao compor personagens femininos? O segredo é simples: nunca abandonando a perspectiva masculina. Nunca. No caso dessa canção, tudo o que gostaríamos de fazer uma mulher sentir (e provavelmente faríamos, se não sentíssemos tanto medo). “Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma\ Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo \ Porque os corpos se entendem, mas as almas não”.</div>
<div align="justify">
As almas são incomunicáveis.</div>
<div align="justify">
<strong>10) ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM (Itamar Assumpção).</strong> O amor contemporâneo, em São Paulo. Existe amor em SP? Sim, mas como promessa de vingança, como o fim de tudo, ou o início. Faz algum sentido? Sei-lá. Beije-me!</div>
<div align="justify">
<strong>11) APENAS MAIS UMA DE AMOR (Lulu Santos).</strong> Lulu é o maior criador de hits dos anos 80 – nos 90 o cetro passou para as mãos de Nando Reis. Maior que Paralamas, Titãs, Renato Russo e Cazuza (não sei do Roupa Nova). Nessa época tudo o que ele tocava virava ouro, no sentido comercial da coisa. Aqui, ele vai além da fórmula de sucesso mergulhando nela de cabeça – afinal, o amor platônico adolescente tem mesmo a forma do clichê romântico pop. Uma das mais belas baladas românticas dos anos 80, tão linda quanto aquelas do Peninha – que poderia estar na lista.</div>
<div align="justify">
<strong>12) PAIXÃO E FÉ (Tavinho Moura \ Fernando Brant).</strong> <strong>Intérprete: Milton Nascimento.</strong> Um dos mais sublimes (esse é o termo exato) arranjos da MPB, feito para sentirmos todo o peso da espiritualidade mineira em seu esplendor. Definitivamente, Milton é um anjo. Um anjo barroco, triste e mineiro.</div>
<div align="justify">
<strong>13) O BEM DO MAR (Dorival Caymmi).</strong> Porque não há nada mais moderno que o encontro com as profundezas. O bem da terra suporta a dor, a esperança frágil do regresso. Dor, loucura, ausência. O pescador ama mesmo é o mar, e o mar é a morte. Na mitologia de Dorival Caymmi, as canções viram outra coisa, para além delas mesmas. O sagrado. </div>
<div align="justify">
<strong>14) PRIMAVERA (Cassiano) Intérprete: Tim Maia.</strong> Saímos do campo do sublime para reencontrarmos o desejo em sua dimensão mais pura. Nada acontece nessa canção, nada para além do desejo.Tudo aqui, desde já, é. Puro querer. Conjunção plena de todos os elementos, do sujeito com seu amor que é a rosa, o céu, as vozes do coral, a própria primavera. </div>
<div align="justify">
<strong>15) NÃO APRENDI DIZER ADEUS (Joel Marques). Intérprete: Leandro e Leonardo.</strong> Porque nada é capaz de representar o fim do amor. O fim de um grande amor é a própria interrupção da possibilidade de compreender. Compreensão com o corpo, porque amor se vive. Só o silêncio pode então falar por mim, porque o silêncio é já um outro. Eu só posso\tenho que aceitar, condenado que estou ao mistério. Deixar de amar é um ato de fé.</div>
<div align="justify">
<strong>16) TIVE SIM (Cartola)</strong>. Escolher um samba lindo do Cartola é como escolher uma música do Sonic Youth que tenha distorção. O velhinho é, antes de tudo, um sábio, o próprio preto velho. Fiquemos então com a resposta que nunca gostaríamos de ouvir – fica a dica então para não perguntar. Uma baita lição de moral. O amor: essa eterna ausência do grande Amor. Independentemente de quem seja o objeto temporário de nossos afetos, este será sempre o lugar da falta.</div>
<div align="justify">
<strong>17) NOVENA (Geraldo Azevedo).</strong> De volta a uma dimensão mais etérea, com tom de crítica, como é comum ao pessoal do Udigrudi. O clima que Geraldo Azevedo consegue tirar da relação entre violão e melodia, criando uma camada sonora densa e cheia de reverberações, impressiona. Com o Bicho de sete cabeças ele repete o feito, conciliando virtuosismo com climatizações densas. Violeiro bom é isso aí.</div>
<div align="justify">
<strong>18) CANTEIROS (Fagner \ Cecília Meireles).</strong> Da mesma leva de compositores que Geraldo Azevedo, Fagner consegue extrair o sentido mais cortante dos versos de Cecília Meireles (diga-se de passagem, toda poética do Fagner consiste em buscar o mais ‘cortante’ nas canções). Nem aquilo a que me entrego já me dá contentamento, pois o eu cindiu-se sem sua contraparte, objeto de seu amor. Sendo assim, o fim do amor é como viver uma vida que é alheia, ainda que a única possível. Nenhum desejo pode ser satisfeito. pois quem deseja já não sou eu. A dor é tanta que ao final da canção a melodia se interrompe e torna-se em discurso ruinado continuamente até virar mero balbucio. Desde o início Fagner mostra competência para falar do amor e de seu conteúdo privilegiado, a falta. </div>
<div align="justify">
<strong>19) EVIDÊNCIAS (José Augusto \ Paulo César Valle).</strong> De volta ao sertanejo e ao jogo do desejo. O amante que não se resolve – o medo é um grande tema tanto do Sertanejo quanto do Pagode – remoendo-se em dúvida eterna que caminha por pares de oposição. O jogo de ocultamento do desejo do outro, a alteridade inapreensível, é a própria matéria da canção, que termina com uma súplica que mal consegue esconder o pavor: me diga qualquer coisa, pelo amor de deus, que ofereça uma mínima garantia de clareza, por mais mentirosa que seja. A fragilidade do amante impressiona, sobretudo porque o clima de indecisão permanece inclusive no momento clássico de resolução da tensão: a canção apresenta dois refrões. Toda canção gira em torno da opacidade do outro, do pavor gerado por essa opacidade do desejo.</div>
<div align="justify">
<strong>20) A FLOR E O ESPINHO (Nelson Cavaquinho \ Guilherme de Britto).</strong> <strong>Intérprete: Eliseth Cardoso</strong>. O sambista mais duro que já existiu, maravilhosamente interpretado pela musa Eliseth Cardoso. Talvez os mais emblemáticos versos sobre o fim do amor: “Tire seu sorriso do caminho \ que eu quero passar com a minha dor.” Quase um rap. Só Nelson Cavaquinho e Lupcínio Rodrigues atingiram esse grau de contundência, trazendo para o samba o lado mais sombrio que muitas vezes não queremos ver. Morte, Vingança, Ódio, conteúdos privilegiados do amor. </div>
<div align="justify">
<strong>21) NO RANCHO FUNDO (ARY BARROSO \ LAMARTINE BABO). Intérprete: Chitãozinho e Xororó.</strong> Pra terminar, um pouco de saudade, essa forma de possuir a própria ausência. Composta por dois monstros da música brasileira, e adaptada brilhantemente à sensibilidade moderna por Chitãozinho e Xororó. </div>
<div align="justify">
O amor é a gente mesmo, demais. </div>
<div align="justify">
O instante. Demais. </div>
<div align="justify">
Infinito</div>
<div align="justify">
<strong>22) PINTURA SEM ARTE (Candeia).</strong> Sabe qual a melhor parte do fim de um grande amor - essa forma de deixar de ser? É quando ele vira um samba, em tom maior. Salve mestre Candeia.</div>
Unknownnoreply@blogger.com1