sábado, 14 de abril de 2007

Roberto Carlos - 1971


Podem dizer o que quiser, mas o cara é o rei mesmo, e por várias razões:


1) O mais óbvio: é o maior vendedor de discos do Brasil (perdendo talvez pro Amado Batista). E doa a quem doer, é o que o Chico Buarque, Tom Zé, Itamar Assumpção (que aliás era fã do cara) sempre quiseram ser.

2) Intérprete extraordinário, que sabe (apesar de na maior parte das vezes usar uma forma expressiva padronizada que o consagrou) explorar as capacidades expressivas implícitas nas formas musicais - pra quem duvida, basta ouvir o cd de duetos, onde ele dá um pau interpretativo em quase todos os seus parceiros.

3)Um mal gosto igualmente extraordinário - não se tratando do mal gosto 'esclarecido' do Caetano - aliado a um profundo conservadorismo que lhe garante o sucesso. Em termos pessoais, note-se que se trata de um conservadorismo bem brasileiro, que o habilita a se tornar um símbolo, pois é de um catolicismo feroz aliado a superstições bem pagãs. E todos os grande símbolos nacionais - os oficiais - brasileiros, de Pelé à Independencia, tem uma vertente conservadora bem determinada.


Ele que poderia ter sido qualquer coisa - é ótimo no que faz, conquistou respeito do público e das gravadoras - fez a opção pela música fácil. Opção aliás, feita desde o início da carreira jovem guardista. Mas no período em que grava os seus melhores discos o rei estava meio perdido. A febre da jovem guarda havia acabado, a Tropicália e os Beatles haviam sepultado de vez a inocência. Para a nossa sorte, ele pensou - muito influenciado por Tim Maia, com que chegou a morar por um tempo - que o caminho do sucesso estava na música preta, ao qual ele ainda podia aliar o seu cristianismo, através do gospel, e antes de encontrar seu caminho definitivo, gravou algumas pérolas da MPB.



Esse disco de 71 marca o momento de transição, que começou em 67 com o fantástico 'Em ritmo de aventura'. Depois disso ele ia se concentrar naquela velha fórmula especial da globo que a gente conhece bem...

1- Detalhes - Clássico definitivo. Não só tem arranjos e melodia belíssimos, mas também é a canção que melhor representa o gênero romantico, pois é cantado do ponto de vista de um psicótico. A música que Vinicius daria tudo pra ter composto.
2 - Como dois e dois - Versão definitiva do clássico de Caê. A Gal bem que tentou, mas esse blues com esse coral fantástico é imbatível.
3 - A namorada - Brega. Sintomático do caminho por fim escolhido pelo rei.
4- Não sabe o que vai perder - R&B cafajeste. Um show de interpretação, os arranjos funcionam muito bem, a letra de primeira - antecipando os achados brilhantes de Cazuza. 'Jánão encontro mais palavras pra te convencer \ que por incrível que pareça eu gosto é de você \ Diz que eu nada faço por nós dois\ que venho uma semana e só um mês depois \ eu volto pra lhe ver, você não pode compreender \ Se eu agi assim, foi somente pra saber \ se existe por aí, alguém melhor do que você \ É... sinto muito mas eu sou assim \ sei que cedo ou tarde alguém vai lhe dizer \ Se vc me deixar, não sabe o que vai perder.
5 - Traumas - Nosso já bem conhecido Roberto. Noiado, cheio de strings horrorosos e um piano bem brega.
6 - Eu já tenho um caminho - O órgão e o coral quebrando tudo dão um tom meio Ray Charles do começo.
7 - Todos estão surdos - Uma das melhores composições do rei, e consequentemente, um dos melhores funks já compostos em língua portuguesa. Para se ter uma idéia do primor dessa canção, ela foi regravada por ninguém menos que Chico Science. E a versão do Roberto é melhor!
8 - Debaixo dos caracóis - A música que fez Caetano chorar, e não é pra menos. Arranjos simples, com destaque pra o violão letra também simples, mas sem a pieguice de mal gosto comum no rei.
9 - Se eu partir - Outra brega naipe Amado Batista
10 - I love you - Acho que é um ragtime. Música em estilo antigo pra tratar de um cara retrô. Bem bolada.
11- De todo amor - Mais uma dispensável.
12 - Amada amante - Outra brega, mas que se torna interessante porque abandona o string em detrimento de um órgão insistente, dando um tom de lamento religioso para um tema de duplo sentido. Expressa também - pelo tom exagerado da música - a opção definitiva do rei. Infelizmente, num disco com tantas canções excelentes, as que fizeram sucesso foram Amada Amante e Detalhes.

DOWNLOAD: http://www.4shared.com/dir/1876096/f9d33eea/Roberto_Carlos_varios_albuns.html
Pra quem se interessar, esse link contém todos os albuns do rei até 91... E aqui segue uma preciosidade... o album raro de 61, rejeitado pelo rei e raríssimo de encontrar... Junto com o Paebiru, do Zé Ramalho, vale até uns 4mil reais nas mãos de colecionadores...
DOWNLOAD:

4 comentários:

  1. Oi, o link está fora. Poderia postar novamente, por favor? Obrigada.

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  2. Apesar de eu não simpatizar muito com o conservadorismo, reconheço que a música do Roberto Carlos nessa fase transcende essa pecha. Parabéns pela ótima análise!
    skelter68.blogspot.com

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  3. me tire uma duvida, li em algum lugar que o proprio roberto gravou algumas baterias desse disco, isso procede?

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  4. Salve Marcelão.. sinceramente, não sei nada sobre essa informação, parceiro... se souber, dá um toque... Abraços!

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