O paradoxo de se estudar na universidade pública hoje é que ela é ruim, mas você não pode falar pros outros, primeiro porquê em geral os outros lugares estão piores, a tal ponto de achar que você está na Suíça e segundo porquê isso atinge o próprio processo de financiamento de onde estamos. Mas quando você acha que dá pra avançar num debate mais qualificado sobre o que se quer de fato e para onde vai essa velha senhora, a USP.
Aparece um maluco rodopiante cujo projeto é por todo mundo no bolso do paletó e colocar etiqueta de preço pra fazer média com algum velho esclerosado que não percebeu que o neoliberalismo não deu certo no mundo como modelo de gestão e você se descobre envolvido numa luta infinita para manter o que resta de bom, útil e público, pois, na verdade, esse lugar e o que ele faz é de todos aqueles do qual foi extraído trabalho pra esse lugar existir.
E público = político, mas aí você se vê brigando com uma cadeia de pessoas numa hierarquia um do outro que, mesmo aparentemente parada e que vai ficar deixando a coisa como está, pra não melhorar e nem piorar, descobre que toda essa organização caminha para se autodestruir, saltando noutra coisa indefinível no momento, mas que se apresenta como alienação política (das decisões dos próprios destinos) e teórica dos rumos dessa instituição que vai se tornando um trambolho gigante destruindo o que estiver no caminho.
Isso produz uma tensão que faz convergirem às vezes mesmo os de interesse puramente científico e acadêmico que prefeririam o sossego para trabalhar que lhes é propício para a tarefa, mas, mal percebem estes que vão sendo enredados por malha...s de procedimentos burocráticos que os impedem de fazer qq coisa. Mas como tb odeiam militantes e gente que se move muito rápido, preferem apostar na inércia, o que nem sempre ocorre.
A USP prefere se ver como uma instituição medieval, apesar de ter 75 anos, o que atestam alguns hábitos. Mas isso é pouco tempo para uma instituição que pode se esvair no ar, miraculosamente, numa canetada que atinja o ponto certo , do mesmo modo que surgiu.Por outro lado os militantes tem perdido espaço, especialmente quando se tratam de questões que envolvem salário e assistência estudantil, pois valores pressupostos como sociais, não são mais evidentes, assim como a identificação com quem sofre, é agredido ou sofre punições arbitrárias.
Para se manter tal qual uma avestruz, com a cabeça no buraco, respostas agressivas aparecem, dando um apoio passivo a esta nova fase aparente sem entender que o que fazem dá margem a atuações de representantes que fazem um papel de Arakiri coletivo, no centro do orifício decisório.Acaba assim a especificidade das áreas, assim como seus tempos de trabalho, reflexão e interação, assim como a perda de contato entre gerações. E aquilo que pressupunha: certa liberalidade, certa troca, certo fazer conjunto em grupos de estudo e outros. Tempo em que o saber e o fazer tinham um sentido conjunto.
Hoje olhando os jovens, tristes e cansados, parece que todos desistiram de tudo e ninguém mais acredita uns nos outros, dando margem aos lobos à solta, agora, ainda mais, em que igualmente não dispomos também das velhas corujas e raposas vigilantes ao nosso favor, sábias que eram em identificar o macete das estruturas e os advinhas das coligações do poder em ato.
Talvez porquê ninguém queira saber mais e, de fato, o que deveriam fazer, caso as coisas ficassem como estão é muito importante e é o resultado do trabalho de uma vida. Mas elas não ficam, não quando as rodas giram no sentido anti-horário. e não se entende onde se está, para onde se vai e o que está se fazendo.
O tempo passa e as estruturas se fecham, são ciclos longos os das instituições, mas eles, quando se completam, parecem inflexíveis. E sem estas fendas e ranhuras onde as pessoas se encontravam e esticavam o rosto para buscar oxigênio de fora ou pra fazer passarem coisas de uma lado para outro do muro que cerca este estranho jardim, o quê fazer ?
Ainda mais quando, se qualquer um se mover, será alvo da execração geral. O que ocorre ?
Porquê há algo como uma fobia contra a ação contrária aos avanços do apodrecimento proposital desta estrutura ou ainda que força ganhou esse medo de agir que tomou a opinião dos estudantes em geral num grande grau de desligamento entre as coisas que, em sua essência política, social e financeira, estão ligadas, como a pauta de reivindicação política do financiamento que é público e do que se faz com ele, do conteúdo e dos pressupostos políticos da pesquisa aplicada, ou seja, como o estudante e o professor aqui, assim como muitos funcionários se distanciaram daquilo que eles fazem e da reflexão sobre o que fazem para agir ?
E mais ainda, porquê as ações se tornaram espetacularmente radicais sem atingir o âmago das questões da decisão política e acadêmica da universidade e criando uma aversão nos demais estudantes e professores ? Porquê toda e qualquer pauta menor, desde salarial ligada a promessas não cumpridas, logo, contra o engodo, a injustiça nas questões cotidianas e outros são levadas a uma radicalidade a ponto de dividir parte da comunidade acadêmica, mesmo que esta se intitule esquerda e ligada aos trabalhadores ?
Sabemos do isolamento das esquerdas na USP, mas porquê elas se isolaram ? Porquê não formam e informam mais ? Ou elas é que foram isoladas por um novo perfil estudantil e professoral ?
É um sinal dos tempos, da mudança do interesse político que se volta à direita, ao contrário do comportamento do resto da população que tende à se identificar vagamente com uma esquerda institucional e aparentemente diminuindo o espaço e aprovação popular da direita institucional ? (A universidade então seria em seu perfil intelectual o negativo da sociedade ?)
São os grupos políticos que se tornaram sectários e se fecharam buscando apostar sempre na atuação brusca enquanto outros grupos preferem investir em questões eleitorais externas à universidade ? Se é isso, de fato, ao longo dos anos mudaram seu comportamento ou não ?
O quê aconteceu ?
Após as últimas decisões do C.O. É importante refletir sobre isso, pois tempos novos virão e quando todas as estruturas se moverão, será impossível ficar parado e buscar uma posição será uma opção em movimento, mesmo que não se perceba.
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