Quem chamou a atenção para essas interpretações e seus sentidos foi o Breno. A ideia desse texto é integralmente dele. Só os equívocos de interpretação são meus.
Uma mesma canção pode adquirir sentidos os mais diversos dependendo de cada interpretação. As possibilidades de variação são infinitas, desde que respeitados os sentidos contidos no interior da forma. O equívoco mais comum de interpretação de um\a cantor\a é exatamente o mesmo que ocorre na interpretação de uma obra estética: a não compreensão daquilo que a obra diz conduz a uma apresentação equivocada de resultados. Não é raro um intérprete usar a obra como pretexto para apresentar a si próprio, assim como um crítico utiliza o objeto artístico como pretexto pra desfilar suas habilidades.
Vamos acompanhar a canção Correnteza, de Tom Jobim e Luiz Bonfá, em três interpretações bem distintas, e o sentido que cada um os intérpretes atribuiu a obra. Primeiro o original:
SENTIDO ÉPICO: Na versão de Tom Jobim a canção se compõe de blocos bem marcados, com uma clara ênfase no sentido musical da composição. Cada passagem e cada modulação apresenta uma mudança de sentido enfatizada: a introdução, a primeira parte, o intermezzo e o final. O andamento acelerado desloca a ênfase da canção para as passagens conjuntivas (em semiótica, temáticas), que na letra estão representadas pelo ciclo contínuo e perfeito da natureza - por isso não prejudica excessivamente a interpretação o fato de Jobim não ser um grande cantor, se o sentido principal estivesse contido na separação do sujeito com o objeto, haveria maior prejuízo. Como em Águas de Março a canção transmite a sensação de fluxo - só que aqui com teor mais positivo porque há um retorno do objeto que o sujeito busca - de um caminho constante e certo, com modulações e passagens, mas sempre contínuo. A transição do intermezzo (E choveu uma semana) é bem demarcada, como o momento em que o sujeito e a natureza formam mais claramente uma oposição. Tal ruptura serve para reforçar a força do momento seguinte, quando a correnteza do rio traz de volta o amor. A canção procura acompanhar as mudanças de sentido da história com um olhar mais distanciado, daí o sentido épico tão ao gosto de Jobim, na esteira de Dorival Caymmi. Das três, é a mais ousada e complexa em seus movimentos.
Pontos fortes: ousadia, complexidade, extrema habilidade na modulação de sentidos.
Pontos fracos: interpretação de Jobim, que pode fazer com que o comprometimento com a disjunção do sujeito não convença. Sentido épico também reforça a questão.
A interpretação seguinte infelizmente não tem vídeo, mas segue o link para o áudio:
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a nova MPB não é indicada para diabéticos.
ResponderExcluiruma curiosidade: vocês ignoraram a versão do Djavan de propósito? talvez os moleques se identifiquem mais com ela. tava tocando em O rei do Gado, mais ou menos no ano que eles nasceram! rs.
http://www.youtube.com/watch?v=9Xgxgtr3SJQ
Nada.. tinha esquecido completamente.. e é verdade, essa da dupla é claramente inspirada nessa do Djavan, o rei da MPB pop. A do Djavan é mais adocicada, ta mais pra Ticiana eu acho (descontado todo o talento do cara, é claro)
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