Pequena história da Manutenção da Aristocracia – da era dos Macacos até a era das Universidades
Parte I: da era dos Macacos.
Eramos macacos. Eramos macacos numa mundo inóspito. O mundo era inóspito. A água era escassa. A comida eventual. E eramos macacos. Macacos entre outros animais lutando, inexplicavelmente, para nos mantermos vivos num planeta inóspito. Algumas vezes, virávamos comida de alguma fera faminta. Entre nós macacos, a comida e a bebida que surgia era garantida, desde que outros animais mais fortes ou um grupo maior de macacos (consequentemente mais forte pelo número na hora da pela violência – desta violência impetuosa que se dá quanto não se come) não nos tomasse a comida e/ou a água. Era um mundo inóspito. A força bruta dominava. Sempre nos tomavam a comida e a água. Um dia, um dos macacos do meu pequeno grupo de macacos famintos, sedentos por água e atormentados pelo sol, indignado, ao ver os ossos secos – os restos secos pelo sol escaldante –, do que o grupo de macacos maior havia comido, se revoltou. E quando um macaco do meu grupo pequeno de macacos se revoltou, ele pegou um dos grandes ossos que haviam na sua frente e com uma fúria explosiva o investiu contra os outros ossos que jaziam no chão. O macaco batia o osso de suas mão contra os ossos do chão e os quebrava dramaticamente. E assim o fez até moer e subjugar os ossos ao pó. A furia do macaco com um osso na mão e na sua frente o pó. Neste momento, uma faísca surgiu nos nossos cérebros (que até então serviam para controlar involuntariamente nossos instintos); e da faísca no cérebro nasceu a mente. E do osso na mão do macaco mais a mente, nasceu a ferramenta. E com a ferramenta sempre na mão, passamos a andar mais sobre as pernas. Depois, com a eficiência do uso da ferramenta (o osso) passamos a ter sempre comida na outra mão. A comida (agora) abundante sempre ocupava as nossas mãos. E com uma mão com a ferramenta e a outra mão com a comida era difícil cutucar ou mostrar algo para os outros macacos... E assim passamos a chamar a atenção uns dos outros através de ruidos que emitiamos com a boca. Do ruido, nasceu o som. E dos sons recriamos o mundo, não como ele era, mas sim como achamos que é. E colocamos esse mundo criado dentro da nossa mente. Tinhamos a mente e sabíamos o mundo. Além disso, tinhamos a ferramenta, e dela nasceu o domínio sobre todos os outros animais, e sobre todo o meio. Subjugamos o meio. Desde aquele dia, a força não era do grupo maior de macacos, ou das feras, mas sim dos macacos que dominavam o segredo da técnica - que é simplesmente essa capacidade arbitrária e imperativa de dar sentido as coisas não naturais, transformar algo em algo além, fazendo do simples o complexo, ou seja: carregar os objetos simples do mundo com valores simbólicos. E aprendemos a guardar esses valores. Passamos a utilizar boa parte do nosso tempo aprimorando essa técnica. Aprimorávamos e subjulgávamos mais e mais. Capazes de recriar o mundo sem apresentá-lo (com os sons da boca) passamos a associar cada som a um objeto. Era difícil guardar na mente muitos sons, então acabamos usando poucos sons e com a combinação deles descobrimos que podíamos falar. Falar sobre o mundo. E capazes da falar sobre o mundo e nomear tudo nele, logo fomos dando nome ao osso que carregávamos (agora o 'osso' bem trabalhado e cheio de significados). O osso, uma ferramenta para garatir como pensamos o mundo, ou para garantir algo do mundo que queremos e/ou precisamos chamamos de arma. Aquilo que nada mais era do que um simples osso com um formato legal, nós passomos a enxergar como uma ferramenta passível de aprimoramentos, e desde então, os macacos deixaram de ver as coisas como elas simplesmente são, e passaram a ver s coisas como eles acreditam e os convém fazer uso delas. Muitas das coisas usadas por nós, nós nem sabemos o que realmente são. E quando um de nós misteriosamente vê 'a verdade', ele é chamado de louco e retirado do convívio. Depois que nós macacos, agora homens (dentre os sons e símbolos do nosso revolucionário sistema comunicativo: a língua) descobrimos a técnica ao transformar algo simples em algo simbólico (com uma função, além de apenas ser como se é o que simplesmente é), nós passamos a nos chamar e a chamar nossos pares de humanos. Inexplicavelmente consideramos o grupo maior de macacos nossos pares. Pelo menos os macacos que entenderam o nosso sistema simbólico. Os macacos que nos acompanharam. s macacos que legitimaram 'nossa visão de mundo'. Enquanto havia comida para todos, claro. Pois quando não havia comida para todos, nós os donos dos meios (das armas e das ferramentas) começamos a criar regras para garantir a nossa comida. Eramos os criadores das ferramentas, seus donos e sendo assim, acreditamos que seja um absurdo os donos das técnicas passar fome. Não passamos fome. Fome de nada. E garantimos isso e a nossos pares a qualquer preço. E deixamos [?] no passado a relação com os macacos. E assim tem sido...
Bibliografia
Kubrick, S. 2001: Uma Odisséia no Espaço. 1968.
Cristo, Jesus (org) et al. Bíblia Sagrada. 0.
Eco, Umberto. Semiótica. Série Debates.
bom comeco
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