segunda-feira, 19 de maio de 2008

Um desabafo – pra que intelectual em um país que tem o Chapolin como herói nacional?


OS IRMÃOS MARX

Introdução
Depois de receber algumas críticas acadêmicas quanto ao conteúdo do meu blog – não com relação ao que era dito, mas à escolha dos os objetos aos quais os comentários se dirigiam – lembrei de algumas coisas que estavam guardadas em meu lado sombrio, mas que eu ainda não posso esquecer de todo, uma vez que continuo escrevendo e refletindo, ainda que de forma diversa e em outro sentido. Além de me jogar na cara o que eu sempre tento esquecer – pra poder continuar fazendo o que eu gosto: pra quem eu escrevo? Ou melhor, pra quem se escreve?

Desenvolvimento
Para ser levado a sério frente a classe intelectual do país (kkkkkkkkkkkk), é preciso argumentar que o narcisismo lírico felliniano consegue transpor mais radicalmente as barreiras da forma desmaterializada da mercadoria do que o desconstrutivismo empreendido por Godard. Se conseguir demonstrar a ligação dos procedimentos técnicos desde com a estética de Jerry Lewis, desmoralizando-o frente a todos (menos a ele mesmo), ainda melhor.
Precisa-se mostrar como o pastiche empreendido por Stravinsky (sem esquecer de mencionar que a partir de uma perspectiva adorniana) conseguiu suplantar o emparedamento auto referencial – em comunhão espiritual com Joyce e Proust – do dodecafonismo de Shoemberg no desvelamento do caráter mais material da impossibilidade narrativa em um mundo desprovido de subjetividades plenas.
Tem-se que reconhecer Kant em Hegel, e Hegel em Marx, com o risco de superficialidade hermenêutica e miopia ideológica (esse termo aqui anda meio fora de moda, assim como citar Lênin ou Luxemburgo (a Rosa, não o Wanderley), mas ainda serve pra se fingir de esquerda. E é absolutamente necessário se fingir de esquerda, mesmo pra expressar a mais conservadora das opiniões. (Nota: pobre bom, rico mau).
É imperioso estar ciente do substrato histórico e social que conforma e possibilita a ambivalência formal machadiana.
É preciso fazer entender as raízes do contrasenso que leva o aspecto revolucionário do conceito de montagem de Einsenstein a ser apropriado em contexto contemporâneo pelas técnicas de edição dos videoclipes da MTV, tornado-a assim inofensiva. Note-se a importância de se grafar videoclipe, ao invés de simplesmente clipe, para denotar certo distanciamento, como quem diz ‘entendo tudo, afinal é banal, mas detesto’.
Tenho que demonstrar coerentemente porque é ruim aquilo que eu gosto, como futebol e novela, e compreender direitinho como é que aquilo que me torna mais humano e concreto – futebol e novela – em verdade me desumaniza e aliena, sendo portanto, coisas do diabo.
Conclusão
É preciso manter uma distância segura, conformista, idiota e funcional (emocional), disfarçando e (re)produzindo nossa cotidiana escrotice canalha na linguagem.

Em suma: é necessário ser deliberadamente ridículo e canalha, pois é impossível se produzir 'conhecimento intelectual' em um país onde a linguagem se converte, sem mediação e por vontade própria, em política.

Próximos passos: publicar uma crítica apologética ao melhor funk já composto: Crééééééu

Um comentário:

  1. Voraz, o que posso lhe dizer a respeito disso tudo já está presente na obra poética, mais que contundente de Mano Brown: "você pode até sair da academia, mas a academia jamais sairá de você".

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