“Tá com pulga na cueca” ou “Quem tá parado é viado” - Música Brasileira para Dançar.
Tim Maia – Tim Maia (1970) e Racional (1975). Gênio. O maior músico Black que o Brasil já teve, tinha o talento raríssimo de converter a estrutura musical de outro país – no caso, basicamente, funk, soul, R&B, para outro contexto, brasileiro. O único que conseguiu fazer isso até hoje, pelo menos de forma mais consistente. Dois discos monstruosos, o primeiro, mais R&B, e que já continha fusões e mesclas com regionalismo, além de uma sonoridade que não se encontra em nada no gênero que foi feito por aqui. E a guinada que ele deu em sua vida e em seu estilo com o Racional, mudando para o funk que de melhor havia na Montown.
Marcos Valle – Garra (1971) e Previsão do Tempo (1973) – Marcos Valle começou como um bom moço que fazia uma bossinha interessante, com linhas melódicas diferenciadas. Mas apesar de seus discos serem realizados com muita maestria, ficava aquela sensação de mais do mesmo (pra ele mesmo inclusive)... algo do tipo.. ah não, uma nova geração de bossa novistas... já deu! Então por essa época, os maravilhosos anos 70, o cara descobriu a música negra norte americana e pirou, começando a fazer discos mais cheios de swing e balanço, mas sem perder a complexidade harmônica e melódica da Bossa. O Garra é mais elaborado, cheio de arranjos complexos para cordas, corais maravilhosos, com muitos sons numa pegada Simonal, e até um dos melhores soul brasileiros (Black is beautiful) em versão excelente. O segundo é menos grandiloqüente digamos, o sintetizador faz as vezes das cordas, mas mantém a mesma qualidade musical aliado a vontade de mexer com as cadeiras. E sem contar que tem um dos melhores grooves da nossa música – É mentira – aquele que o Planet Hemp sampleou em contexto. Dois discos incríveis, uma coisa meio White Black Music... RS.
Noriel Vilela – Eis o ‘Ôme’ (1968) – samba rock macumbeiro com vozeirão de Exu tranca rua. Esse é o dezesseis toneladas minha gente. Um puta discaço cheio de influência negra, tanto no som, um samba rock bem cru, com o órgão comendo solto em primeiro plano, como nas letras, todas de umbanda. Vale muito a pena.
João Donato – A Bad Donato (1970). Um disco de funk instrumental feito por um cara meio bossa nova que decide rever suas antigas composições a base de ácido e música de criollo. E o resultado é um groove de altíssima qualidade, pesado e sujo como deve ser, no naipe dos grandes discos do Herbie Hankoc. Realmente incrível.
Lulu Santos – Assim Caminha a Humanidade (1994). O terreno do Black pop, estilo Jamiroquai, ou o do mestremaior Michael Jackson, não é nem nunca foi a nossa praia. Mas um cara com o talento do Lulu pra fazer refrões pegajosos e música pop bem feita resolveu lá pelos idos dos anos 90 mudar sua pegada pop rock pra uma coisa mais Black, eletrônico e afins. O resultado é um dos sons mais dançantes da época, e muito bem produzido, de alto nível. E esse
disco particularmente faz a balada sozinho. Não é a toa que o Tim Maia gravou esse mané.
Simonal – Alegria, Alegria (Vol I e II) Bom, o cara botou o maracanã pra inteiro pra fazer coreografia. Agora que o tempo passou, e esse papo de dedo duro já não faz tanto sentido (porque a ditadura pra nossa geração já não faz sentido também), a gente pode se aproximar mais desarmado do som do cara. Um estilo único – pilantragem - que desapareceu, e que faz com que a gente sinta vontade de rir dos filhos dele. Os arranjos e o piano do Camargo Mariano quebram tudo, e a interpretação é fantástica. As músicas têm um swing irresitível, e as mais lentas (muitas bregas) são interpretadas com bastante competência. Sem dúvida um dos artistas negros mais importantes do país.
Jorge Ben – Africa Brasil (1976), Jorge Bem (1969) e Samba esquema Novo (1963) – Gênio. Não tendo o talento alquímico do Tim Maia – de converter linguagens distintas, como a transfiguração de um poema para outra língua (mesmo porque quando a Black americana chega por aqui Jorge Bem já tinha sua própria linguagem), Jorge resolve o problema criando ele mesmo sua versão de música Black, e que é a música preta brasileira por excelência. Criou assim um estilo novo, revolucionário, dos mais frutíferos e criativos que já apareceram por aqui. Coloco aqui o primeiro, fenomenal, em que ele ainda se aproxima de João Gilberto, mas já com um estilo muito pessoal de interpretação e de tocar, em seguida o disco de 69, um de seus melhores trabalhos junto com o tábua de esmeraldas, e em seguida o seu encontro revolucionário com a guitarra, no Africa Brasil, e que não mais o abandona.
Toni Tornado – BR3 (1971), Toni Tornado (1972) - o negão que decidiu bancar o papel de artista negro engajado – foi até preso por fazer a saudação dos panteras negras - logo viu que era muito mais negócio ser ator de segundo escalão na rede globo. Mas antes disso, ele gravou dois discos muito bons, cheios de swing e bem pegada. O primeiro tem estilos mais variados, e tem a tal da BR3 que fez sucesso. Eu particularmente estou ouvindo mais o segundo, porque tem a Mané Beleza, pra mim o melhor som do Toni Tornado, e outras funkeiras pesadas. Mas o primeiro é muito bom, e tem muita gente que prefere. Apesar das gírias forçadas e um certo ar de coisa copiada, constante na Black versão brazuca, o negão se sai melhor do que a média.
Farofa Carioca – Moro no Brasil. Esse bem humorado grupo carioca, liderado pelo agora mala seu Jorge decidiu reinventar a tropicália em pleno anos 90, só que por sobre uma base Black. O resultado é de grande criatividade e bom humor. Um goove com cara nova e muita competência.
Di Melo – Di Melo. Um dos discos Black mais bem feitos e bem produzidos na nossa história. Só musicão, em interpretações primorosas, com arranjos e orquestração incríveis, músicos fantásticos, letras com melodia bem elaboradas. Pena que o cara só fez isso, porque é um trabalho realmente fenomenal. Tem funk, samba rock, sambinha, MPB de protesto, tango, regionalismos, tudo com a nossa cara. Excelente.
Guilherme Lamounier – Guilherme Lamounier (1973). Pois é, esse mano e nome afrancesado e que sumiu do mapa tem esse disco que lembra a pegada mais preta do rei no final dos anos 60, com alguma coisa de Toni Tornado e cia. O estilo de interpretação – fundamental na música Black – do cara é muito bom, sem parecer forçado, respeitando seus limites, e afinadinho. Os arranjos são ótimos, assim como o repertório. O resultado é muito bom, satisfação garantida.
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