sábado, 12 de abril de 2008

Um pouco de John Rambo



Na expectativa pela estréia do Rambo 4 – até comprei a versão pirata, mas a gravação é do cinema, um lixo – fui rever o primeirão. Como andam dizendo por aí as más línguas, esse filme tem uma maior ‘densidade psicológica’ (é claro que não é pra ninguém ficar esperando um Bergman ou um Fellini, afinal, o cara é o Rambo, porra, e não tem tempo pra essas frescuras!) ou pelo menos o herói é mais ‘atormentado’ e menos senhor de si do que nos demais filmes da trilogia. Mas o que mais me chamou atenção dessa vez foi um discurso feito pelo protagonista ao final do filme: uma puta apologia à guerra do Vietnan, e aos heróis que lá morreram ou que conseguiram retornar para casa, para serem injustiçados e tratados como marginais, quando na verdade são eles os verdadeiros heróis americanos, que amavam seu país e lutaram bravamente por ele. Abandonaram tudo por ele.

E eu sentadinho assistindo a tudo isso e pensando: nossa, com que eu nunca reparei nessa MARAVILHA antes (tive um momento de êxtase parecido com quando eu ‘descobri’ o símbolo nazista sendo queimado no primeiro Indiana Jones, ou o mesmo símbolo no episódio do Chaves do futebol americano). Depois fiquei matutando no enredo do filme, tentando fazer a ponte com esse final.

John Rambo é um cara que voltou da guerra cansadão e só quer ficar de boa. Ele perdeu tudo, deu seu sangue, sua vida, ganhou medalhas... e pra que? O que ele recebe em troca quando chega nos EUA? O mundo inteiro e o que é pior, seu próprio país, estão contra ele (uma clara referência aos movimentos de contra cultura – feministas, hippies, negros - dos anos 60 e 70), dizendo que ele não passava de um assassino e que aquilo por que ele deu a vida não fazia sentido. Em suma um bando de hippies sujos dizendo que ele era um monstro e, o que é pior, sendo ouvidos e recebendo apoio de governantes e pessoas de bem – leia-se homens, brancos, europeus. Não era o tipo de recepção que ele esperava ou merecia. Na figuração do enredo, Rambo é preso por um bando de policiais caipiras e despreparados, sofrendo maus tratos e humilhações desnecessárias, representado o próprio tratamento que os heróis de guerra receberam ao voltar para o seu lar. O cara agüenta até onde pode, e depois resolve enfrentar todos aqueles caras sozinho, mostrando o quanto eles eram insignificantes e imbecis. Nesse sentido o filme é um protesto contra os vários movimentos que se declararam contrários à guerra do Vietna nos anos 60 e 70, ou seja, os movimentos de contra cultura no geral (pacifistas, estudantes, feministas, movimentos negros, frentes de libertação ao redor do mundo). Não nos esqueçamos que o filme é dos anos 80, período em que o sonho americano já tinha escorrido pelo ralo, e os ideais dos anos 60 já eram vistos como viagens alucinógenas de maconheiros vagabundos. Muito antes de As invasões Bárbaras, Hollywood já colocava os anos 60 em questão para aplaudir de pé o seu fim. Ou, segundo Polansky (o bebê de Rosemary), para saudar a chegada do anticristo.

Por conta disso o filme tem uma estruturação mais interessante que os anteriores – o que não o torna melhor necessariamente. Só pra se ter uma idéia da diferença, nesse filme Rambo mata apenas uma pessoa, e ainda sem querer (ele só queria derrubar um helicóptero, tadinho). Isso porque se trata de um americano lutando contra americanos, que também são gente, e não animais como o resto do mundo. Trata-se de uma critica a uma ‘falha’ no percurso capitalista e que pra todos os efeitos já foi reajustada pela história – por essa época a guerra fria já agonizava e o capital ganharia uma batalha que de fato jamais existiu. Já no filme seguinte os inimigos são uma fusão de vietcongues, chineses e russos, ou seja, tudo comunista devorador de criança! Aí vira tropa de elite e ta liberado pra atirar em tudo que pintar pela frente.

Mas não deixa de ser interessante observar como o Stallonne procurava trabalhar com enredos e personagens mais ricos no começo da carreira – independente de serem conservadores, afinal, trata-se de Hollywood - em comparação com seus amigos musculosos, tipo Schwaznegger e Van Damme, que é porrada em tudo que se mexe. Aliás, o primeiro Rocky, para sermos bem honestos, é muito bom, sendo bem merecido o Oscar de melhor roteiro que recebeu. É impossível deixar de se emocionar com romance entre Adrian e Rocky, é de chorar, muito bem feito. O cara é tipo um Forrest Gump mesmo, bobão e totalmente loser. Tanto que nem ganha à luta... E ao mesmo tempo o filme não perde o ritmo, não te deixa entediado como a maior parte dos romances. Bota os filmes do Walter Salles, que querem ser tão profundos, no chinelo. Mas aí já é outra história...

E que venha o Rambo 4, porque eu sou fã do cara!

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