segunda-feira, 4 de agosto de 2008

JAMES BROWN - Get On the Good Foot (1972)

Agradecendo ao Blog produto digestivo, de onde chupinhamos essa matéria interessantíssima sobre o sex machine. É o que eu sempre disso... o funk nao pode ser bem comportado. O dia que o funk carioca encontrar um grupo que lhe de a qualidade musical dos discos do Tim Maia, teremos a vertente brasileira de musica negra que ira dominar o mundo.

http://produtodigestivo.blogspot.com/


Mais do que do que "Mr. Dynamite", mais do que o "Padrinho do Soul", mais do que o "Ministro do Super Heavy Funk", todos epítetos dados a si mesmo, James Brown era o funk em pessoa. Cabelo inacreditável em forma de capacete, dentadura alvíssima, roupas acetinadas e extravagantes e aquele suor constante que umidificava seu rosto, resultado do mais puro sexo que a música já experimentou em cima de um palco. E o sexo que mr. Brown praticava fora dele era tão selvagem quanto a sua música; as moças que apanharam dele que o digam. As pedras fundamentais do funk, soul, r&b e, por transubstanciação, do hip hop anos depois, "Sex Machine", "Hot Pants", "I Got You (I Feel Good)", "Cold Sweat", "I Got Ants in My Pants", além da porrada anti-racista "Say It Loud - I'm Black and I'm Proud" (em que crianças brancas e orientais cantam o refrão), rolam 40 anos depois com o mesmo viço. Bem, clássicos são exatamente isso. Ou, como ele imodestamente disse em 1990, "estou sempre 25 anos à frente do meu tempo".
A capa de cetim que usava nos shows era só um dos aspectos da africanidade de Brown. Ele era o chefe de uma tribo que "aprendeu tudo que ele ensinou -mas ele não ensinou tudo o que sabia", como escrevera em sua autobiografia. A complexidade negra teve poucos tradutores tão viscerais como James Brown. Apesar de dar voz (rouca, improvisada, genial) aos negros numa época em que os negros começavam a ganhar voz (e, é claro, ganhava eco entre os brancos), Brown era ambíguo politicamente e conservador em relação aos membros de sua banda, que eram só menos maltratados do que as mulheres que se deitavam com o Funk Soul Brother.
Em 1968, ele cantava alto que era negro e tinha orgulho disso. Anos mais tarde apoiava a reeleição do republicano Richard Nixon. Da banda que comandava com cetro de ferro, Brown chegava a cobrar multa por um sapato menos engraxado do que o aceitável --por ele, o homem que brilhava literalmente da cabeça aos pés. Pergunte a Maceo Parker e a Bootsy Collins.
E Brown dançava. Como ninguém. Talvez como o Diabo. Michael Jackson e seu "moonwalk" são tributários dos rodopios, parcerias com o pedestal do microfone e abertura de pernas, dignos de figurarem em "calças quentes".
Como se trata do pai do funk* , o Mr. Dynamite não teve uma vida limpinha, como, digamos, o pai de um gênero mais comportado como a bossa nova. James Brown era mau, e foi mau até o fim. Criado na infância num puteiro da Georgia, o menino teve problemas com a polícia desde então (por causa de drogas, roubos, armas etc.) e até 2004, quando foi fichado por violência doméstica --"It's a Man's Man's Man's World", já havia avisado.

Enfim, desde ontem o gênio do funk, o padrinho do soul, o "boss" do ritmo e do blues está, espero, não no céu, mas no “inferno” que ele ajudou a materializar aqui na Terra: quente, sexy, rico e certamente acompanhado de metais endiabrados (ops!). Porque o céu deve ser um tédio para Brown, e o groove mora perto dos malfeitores para sempre. Amém


* No inglês coloquial, funk significa forte odor, particularmente sexual, que pode ser associado ao suor de quem dança com entusiasmo
http://www.badongo.com/file/2876443

domingo, 3 de agosto de 2008

Palco Do Absurdo

Banda de Pop/Mpb/Rock que deixou saudades, apesar de nunca
ter permanecido muito tempo nas "paradas de sucesso",
alcançou exitos consideráveis, tendo inclusive
uma de suas canções (Conduzir)regravada em portugal
pela Sygma Band.
Mix (1990)


Ripado direto do LP (Mix) com excelente qualidade,
 e tem participação da cantora Teca Máris

01 - Recordações Demais
02 - Palco Do Absurdo Nº 02
03 - Melodias Ao Vento
04 - Muito Longe
Palco Do Absurdo II (1991)

Muito bem ripado do LP, nem parece
Participação da cantora Teca Máris
nos vocais

01 - Conduzir
02 - Voltar
03 - Nothing
04 - Farrapos
05 - De Tanto Amar
06 - Encantemento
07 - Manhãs De Sol
08 - Certas Razões
09 - Ela
10 - Daquelas Coisas Todas (Instrumental)
Insólito (2003)
Já com os vocais da cantora Claudia Paixão

01 - Conduzir
02 - Encantamento
03 - De Tanto Amar
04 - Recordações Demais
05 - Doce
06 - Farrapos
07 - Melodias Ao Vento
08 - Insólito
09 - Manhãs De Sol
10 - Até Mais
11 - Temores
12 - Em Nome Do Amor
13 - Uma Canção Na Madrugada
14 - Off Road (Voodoo Towers) (Instrumental)

Ruben Blades & Willie Cóllon

Siembra (1978)


Este CD reune os dois artistas mais expressivos da américa latina, considerados
os reis da Salsa.

01 - Plástico
02 - Buscando Guayaba
03 - Pedro Navaja
04 - Maria Lionza
05 - Ojos
06 - Dime
07 - Siembra
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Andreas Vollenweider

Dancing With The Lion (1989)


Maior expressão do New Age, harpista consagrado que usa e
abusa do sintetizadores acoplados à sua harpa, ficando
em muitos momentos dificil perceber que é uma harpa que
estamos ouvindo. Dancing With The Lion é o seu trabalho
mais aclamado.

01 - Unto The Burning Circle
02 - Dancing With The Lion 03 - Hippolyte
04 - Dance Of The Masks 05 - Pearls & Tears
06 - Garden Of My Childhood
07 - Still Life
08 - And the Long Shadows
09 - See, My Love
10 - Silver Dew Golden Grass
11 - Ascent from the Circle
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Ricardo Castelo Branco

Do Principio Ao Fim (2008)


Segundo disco solo do guitarrista e produtor da
banda Mudança Bluska (O que nos faz pensar que a
banda talvez já tenha pendurado a chuteira).
É uma espécie de coletânea de diversos momentos
de sua carreira e conta com a participação especial
de diversos artístas que já passaram pela banda.

01 - Conduzir (Ricardo Castelo Branco/Marcial Lopes)
Part. Claudia Paixão
02 - Encantamento (Ricardo Castelo Branco/Teca Máris)
Part. Kéll
03 - Manhãs De Sol (Ricardo Castelo Branco)
Part. Teca Máris
04 - Temores (Ricardo C. Branco/Silvio V. Neves)
Part. Baby Zamorano & Luciano Araújo
05 - Sinais (Ricardo Castelo Branco)
06 - Debaixo Do Tapete (Ricardo Castelo Branco)
Part. Juliana Rogue
07 - Amor Rock´n´Roll (Ricardo Castelo Branco)
Part. Baby Zamorano
08 - De Tanto Amar (Ricardo Castelo Branco/Naldo Xavier)
Part. Claudia Paixão
09 - Se (Ricardo Castelo Branco)
Part. Baby Zamorano & Alzira Espíndola
10 - Todas As Formas (Ricardo Castelo Branco)
11 - Segredos (De Um Livre Espaço) (Ricardo C. Branco/JC)
Part. Juliana Rogue (Murder Industry Remix)
12 - Nothing (Ricardo Castelo Branco) Murder Industry
13 - Funkão Mundo Cão (Ricardo Castelo Branco)
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Cristoílma

A Esmo (2006)


Cantora e compositora da nova safra da MPB, lançou apenas 02 álbuns,
mas já tem um público fiel.

01 - A Esmo
02 - Meus Erros
03 - Na Correria
04 - O Pescador
05 - S.O.S.
06 - Gotas De Um Botão
07 - Semblante
08 - Pitu X Pati (Ao Vivo)
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Orlando Vieira

Submundo (1994)
Cantor e compositor, baiano de Jequié, foi durante muitos
anos compositor de diversas escolas de samba,
inclusive a Nenê da Vila Matilde.

01 - Submundo (Orlando Vieira/Moacir dos Anjos)
02 - Luz Da Esperança (Djalma Vieira/Carinhos Rouxinol)
03 - Versão De Poeta (Orlando Vieira/Vozão)
04 - Da Boca Prá Fora (Djalma Vieira/Zulú/João do Mussú)
05 - Sentido Da Vida (Vozão/Marcos Lacerda)
06 - Rasgaram Meu Pandeiro (Orlando Vieira/Vozão/Djalma Viera)
07 - Jaci Gabriela (Miltinho B V/Vozão/Jaci Gabriela)
08 - Um Samba Prá Você (Djalma Vieira)
09 - Mulher Preferida (Orlando Vieira/Vozão)
10 - Pega Na Cabeça Madame (Orlando Vieira/Vozão/Amaral Santos)
11 - Silêncio Da Lua (Vozão/Marcos Lacerda)
12 - Cara De Donzela (Orlando Vieira/José Carlos/Vozão/Ivo Delarosa)
13 - As Tradições De Itaquá (Orlando Vieira)
14 - Homenagem A Nenê (Orlando Vieira)
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Cornélius & Banda Santa Fé

Até Que A Minha Carne Vire Osso (1976)


Álbum solo do primeiro vocalista do Made In Brazil,
na época empolgado com o Funk e a Dance Music, mas mostrando
um certo arrependimento pelos excessos cometidos
na época em que assinava Cornélius Lúcifer, montou uma banda
de apoio chamada Santa Fé, e em alguns momentos c
hega a parecer meio "gospel". Só para fãs e colecionadores.

01 - Até Que Minha Carne Vire Osso
02 - Você Me Acende
03 - O Meu Barato
04 - Soul Tramp
05 - Faço O Que Você Fizer
06 - Till September
07 - Acabou
08 - Você Jamais Irá Pro Céu
09 - Seres Humanos
10 - The Photograph
11 - Funk Nº 1
12 - Hei Você
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Mudança Bluska

Todas As Formas (1996)

Banda de rock underground que misturava os mais diversos ritmos,
namorando com o blues e a Mpb, alcançou relativo sucesso com o
CD "Todas as Formas ou Assédio Sexual" mais especificamente com
a música pós erótica-quase pornô "Assédio Sexual". O CD contou
ainda com diversas participações especiais, entre elas
Vange Milliet, Alzira Espíndola, Mauricio Pereira, etc.
Após diversas mudanças em sua formação lançou ainda mais dois
CDs: Todas As Cores e Todas As Canções.

01 - A Virgem (Mudança Bluska)
02 - Todas As Formas (Ricardo Castelo Branco)
part. Vange Milliet
03 - A Mulher Invisivel (Mudança Blusca/Edson Moura)
04 - Just Another Day (After The Samba And The Carnival)
(Ricardo Castelo Branco)
part. Toque Mágico
05 - Indignação (Guto Santos)
06 - Até Mais (Ricardo Castelo Branco)
07 - Se (Ricardo Castelo Branco)
Part. Alzira Espíndola
08 - Tô Indo Embora/Vem (Ricardo Castelo Branco)
part. Toque Mágico
09 - Hoje (Não Me Lembro) (JC/Guto Santos)
10 - Temores (Ricardo Castelo Branco/Silvio Vasconcellos Neves)
part. Luciano Araújo
11 - Amor Rock´n´Roll (Ricardo Castelo Branco)
12 - Assédio Sexual (Ricardo Castelo Branco)
13 - A Luz Que Mentiu (Ricardo Castelo Branco)
14 - O Mundo Dos Deuses (Guto Santos) part.
Maurício Pereira
15 - O Peixinho Do Mudança (Ricardo Castelo Branco)

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Mudança Bluska - Ao Vivo (Bootleg) (2005)

01 - Coração Bobo
02 - Segredos (De Um Livre Espaço)
03 - Debaixo Do Tapete
04 - Temores
05 - Think In Me
06 - O Bom Rapaz
07 - Mercedez Benz
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Placa Luminosa (1977)


Banda formada no inicio dos anos 70, com o cantor Jessé
nos Vocais,Teclados, Sax e Flauta, foi uma continuação
natural da banda Corrente de Força. Após a saida de Jessé,
já com novo vocalista, enveredaram para o caminho
mais fácil do rock/pop.

01 - Velho Demais
02 - Princípios
03 - Beira Do Cais
04 - Oração
05 - Dilza
06 - Placa Luminosa
07 - Claridade
08 - Tristeza, Tristeza
09 - Trezidela
10 - I Can't Sing In Portuguese
11 - Sino, Sinal Aberto
12 - Sol D'América
13 - Rock No Rolo

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Companhia Click (1990)


01 - Vou De Vez
02 - Espada De Xangô
03 - Questão De Prazer
04 - Manágua
05 - Tô Na Mão
06 - Bruxa
07 - Luxo De Beijar
08 - Ilha Das Bananas
09 - Peter Tosh
10 - Perto Da Selva

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Companhia Click (1989)

Companhia Click - Banda de rock baiano (aquele rock mais
swingado),lançou dois discos com Daniela Mercury nos
vocais, alcançando relativo sucesso. Com a saida de
Daniela, após o lançamento do segundo álbum,fez mais
duas tentativas no mercado fonográfico, com a nova
vocalista não sei o nome dela) não alcançando porém muita
repercurssão (Os dois discos sem a Daniela Mercury
nos vocais são rarissimos)

01 - Vida Ligeira
02 - Te Procurei
03 - Asa Sul
04 - Nossa Praia
05 - Zona Solidão
06 - Mágica
07 - Pega Que Oh...!
08 - Porto Belo
09 - Temporais


LONDON CALLING (1979) e o movimento punk.



Nas inúmeras listas para eleger o melhor álbum de rock de todos os tempos, algumas figurinhas tarimbadas sempre dão as caras. Brigando pelos primeiros lugares sempre encontramos o Pet Sounds de 1966, dos Beach Boys - na verdade, de Brian Wilson – algum dos Beatles, o White Album de 68 ou o Sargent Peper’s de 67, e essa pérola do The Clash, London Calling de 1979.
Concordando-se ou não com tais juízos, sempre parciais e algo radical de “o mellhor”, ou “o mais influente”, ao menos é possível entender as razões pelas quais esses álbuns figurem nessas listas em tão alta cotação. O que Brian Wilson fez para o universo do rock equivale ao que Curtis Mayfield e Marvin Gaye fizeram (aliás, não à toa, em épocas bastante próximas) para a música negra com Superfly (1972) e What´s going on (1971), respectivamente. Cada canção é tratada como uma unidade complexa no interior de outra maior, com arranjos belíssimos e pequenas orquestras, em diálogos ricos e precisos com a nova forma pop e corais cuidadosamente elaborados, além de letras e harmonias mais sofisticadas, atingindo um resultado final de grande elaboração e requinte até então inédito nesse tipo de composição. Enfim, esse disco revelava ao mundo toda a beleza e sofisticação de que o rock era capaz, conferindo ao estilo o atestado de maturidade que muitos buscavam na época, tanto na forma quanto nas letras.
Quanto aos Beatles, eles simplesmente perceberam que a base simplificada do rock poderia atuar para o enriquecimento das canções ao invés de empobrecê-la, como costumava acontecer então, bastando para isso que essa base servisse como ponto de partida para aglutinar elementos heterogêneos no interior de uma nova forma original. Estava dado o salto qualitativo mas importante da música pop de todos os tempos, influenciando desde o Krautrock até nossa MPB.
Já o disco do Clash pertence a outro momento. Para começar, é um disco rebelde, mas não revolucionário como os mencionados anteriormente. Isso porque é feito com espírito punk, que é rebelde, mas não revolucionário. Basicamente, porque a revolução abre caminhos, enquanto que o punk os fecha. O grupo surge em meados dos anos 70 no interior desse movimento, após assistir a um show dos Sex Pistols e pensar, como muitos outros, que ali estava a música que iria salvar o mundo de sua auto destruição pela apatia. O punk surge em um período em que a cena rock estava entulhada de rock progressivo e metal sem criatividade. Solos intermináveis, mirabolantes e tediosas progressões harmônicas: naqueles dias para se fazer rock era preciso ter feito faculdade de música. O resultado é que o lado musical da coisa se desenvolvia sem atentar para o outro aspecto da relação, a atitude, responsável por dar vida à parte técnica.
O final dos anos 60 colocou em cena um dos momentos mais criativos da história da música pop em geral, levando-a a desdobramentos musicais até então impensáveis. E para que isso acontecesse, a atitude de seus protagonistas foi tão ou mais importante que sua técnica, bastando uma rápida passagem de olhos sobre a biografia dos gênios da época para se comprovar o fato. Todos se entregaram a alguma experiência radical, seja Beatles, Doors, Hendrix, Led Zeppelin. Mesmo o momento histórico estava carregado de radicalismos de toda sorte, protagonizados pelos diversos movimentos sociais de então. Mas o mais importante é que essa radicalidade vivida em diversos níveis era tornada música, catalizada e convertida criativamente para o formato canção. A lição das vanguardas do início do século era apreendida pelo novo gênero, e a revolta de tornava sobretudo uma questão estética.
Após esse surto mais “sincero”, como é natural, essas descobertas se cristalizaram em fórmulas que foram adquirindo certa rigidez, criando determinados gêneros (quando o barato da psicodelia era justamente quebrar todas as barreiras de gênero). As possibilidades musicais recém descobertas eram muitas, e o rock de então se concentrou nelas, abandonando a atitude que se traduzia musicalmente em criatividade. Contra esse estado de coisas algo inerte, é criado o punk em meados dos anos 70, trazendo de volta a atitude para primeiro plano. O rock saia da academia e era trazido de volta às ruas, para sua agitação e revolta. Entretanto, diferentemente do momento anterior, aqui a atitude (essa disposição para) não se traduzia em criatividade musical. Ao contrário, a atitude punk consistia em certa medida no abandono da criatividade, na separação de atitude e música. Quanto menos música, mais atitude. Como bem simbolizado pelo símbolo maior do movimento, os Sex Pistols, ser punk é gritar e tocar o mais alto e o pior possível, marcando uma postura mix de revolta e descaso para com tudo, incluindo com a própria música, sem se dirigir contra alvos determinados. Historicamente digamos que foi a forma como os adolescentes pós-hippies sentiram o impacto dos protestos da geração anterior, todos barrados definitivamente ou incorporados pelo próprio capital, quando não tornado-se um problema (como no caso das drogas, que deixa de ser visto como agente libertador para se tornar um dos principais vilões do sistema). Agora não é mais possível acreditar nas flores, no amor, na política. Só na própria revolta. Como tudo pode piorar sempre, hoje em dia nem isso, e os emos choram.

Em suma, o punk foi inventado para fazer os adolescentes urbanos gastarem sua energia sexual reprimida. Para isso, acelerou a música pop ao máximo (uma ouvida nos primeiros discos dos Ramones deixa bastante claro essa origem) e lançou palavras de ordem vazias e de muito efeito, como “Fuck the system”, separando assim a postura pessoal (atitudes e posicionamentos do sujeito perante a vida) de sua relação com a arte, engessando a ambas como simples produtos. O punk foi um movimento essencialmente de mercado (criado por um empresário que queria vender suas roupas) que ofertava rebeldia para um público adolescente, sendo musicalmente muito pobre, tão somente uma aceleração de musica pop dos primórdios do rock (as grandes bandas punk, que existem, devem sua qualidade exatamente aquilo que os faz escapar dos limites estreitos do gênero). Foi um grito, ou antes um peido, que teve uma existência tão curta quanto à de seus ícone, Sex Pistols. Nos dias de hoje foi substituída pela música eletrônica, que realiza melhor a função de dissipar energia acumulada, enquanto que seu aspecto de crítica social foi transferida de modo mais coerente para a periferia, com o hip hop.
O Clash percebeu o caráter auto-destrutivo de um movimento que só quer demolir as estruturas sem propor nada em seu lugar, sacando ao mesmo tempo que a anarquia é também uma construção (como nos ensina Alan Moore em V de Vingança, o quadrinho. O filme não é anarquista, mas se muito, democrático), e decidem constituir seu próprio universo a partir de seu terceiro cd, London Calling, voltando àquela antiga e produtiva concepção de que tal construção é estética antes de qualquer coisa.
Como o White Album dos Beatles, e nossa tropicália na mesma época, London Calling trata-se de um mapeamento, um balanço direcionado da história da música popular e uma delimitação de território. Ao invés da fórmula crua do punk, metais, pianos, corais e uma infinidade de estilos diferentes. Joe Strummer (vocais, guitarra rítmica), Mick Jones (vocais, guitarra), Paul Simonon (baixo e vocais), Keith Levene (guitarra guia) e Terry Chimes cresceram na periferia inglesa e tinha muito contato com a comunidade negra de lá. Por isso, sabiam muito bem que berrar Fuck the System! para os negros do gueto era quase o oposto de lançar o mesmo jargão para um político ou um figurão qualquer. Ao invés do anarquismo abstrato e sem direcionamento da geração rebeldes sem causa (Juventude Transviada – 1955 - de Nicholas Ray), o Clash se interessava por movimentos de libertação da América Latina e conclamavam os jovens brancos a apoiarem a luta armada dos negros do gueto (como na música “White Riot”). Por isso o disco é carregado de reggaes, rockabillies, ritmos latinos, disco, ska, além do bom e velho rock n’ roll. Mas o alerta dado pelo punk tem efeito na sonoridade da banda – o momento histórico não é mais o das flores lisérgicas e dos experimentos a la Beatles. Mudar a percepção do mundo já não basta para transforma-lo, apenas oferecendo novas formas de mercadoria. A leitura do Clash é mais sóbria, politizada. Há mistura e pirações, mas sempre mediada pela crueza punk a lembrar o verdadeiro lugar que todas aquelas formas ocupam no mundo, e que não são universais.
Trata-se ainda do mesmo princípio político dos movimentos de contracultura dos 60: ampliar os horizontes e abrir espaço para todos. Só que agora não se trata de celebrar uma união, mas de conclamar à luta para conquistar essa unidade à força. Mesmo o amor. Nesse sentido, a excelente capa do álbum é muito significativa. O mesmo layout de um disco clássico do Elvis, mas ao invés da imagem desse ícone do rock surge Simmons quebrando sua guitarra. Se o punk é essencialmente uma atitude, ela não precisa e não deve se restringir aos moldes de um gênero. Tem de ser uma forma de olhar para o mundo e recriá-lo. Não por acaso, o grupo apoiou diversos movimentos políticos. Com London Calling, o punk atingiu seu maior momento, justamente ao parar de gritar Fuck the System! ao léu e tentar compreender os movimentos de tal sistema.
A título de curiosidade, London Calling era um disco duplo lançado pelo preço de um álbum simples por exigência da banda, fato que obviamente não agradou em nada a gravadora. Para remediar o equívoco e sanar as desavenças com seus empregadores, o Clash foi lá e lançou Standinista! (Sandinismo, em inglês, o movimento comunista da Nicarágua), um disco triplo ainda mais heterogêneo que o anterior, e mais barato que um álbum duplo. Isso é atitude punk.
Por fim um poema de minha autoria que atualiza o punk para os dias de hoje.

Politicamente Correto
Foda-se!
Com moderação.

Da série Diretores cults que odiamos, diretores comerciais que amamos




I – Wood Allen e Steven Spielberg
Tenho dito: não gosto daquela coisinha neurótica irritante que nos obriga a assistirmos a um filme como se acompanhássemos a uma sessão de psicanálise. Pois é, não gosto de Woody Allen.
A bem da verdade, e pelo fato mesmo de não gostar, eu assisti a pouquíssimos filmes do cara, acho que uns quatro, daí que o juízo acima possa ser radical demais e mudado a qualquer momento. Mas o fato é que eu tenho a sensação (chame de intuição feminina) de que não vou gostar de nenhum filme do cidadão. Isso porque eu reconheço nele o talento de bom diretor, e de roteirista bem acima da média geral. Minha birra é com ele enquanto sujeito mesmo. Eu não gosto do Woody Allen, e ele nos obriga a engolir sua figurinha em todos os seus filmes de forma muito próxima, por conta de um caso patológico de narcisismo - o mais radical da história do cinema. Aproveito pra adiantar que o exame minucioso de suas neuroses, assim como o reconhecimento cínico da inutilidade dessa consciência, leitmotiv de muitas piadas, é uma de suas qualidades. Pois é, meu problema com o cara está exatamente em suas qualidades.
Decidi escrever esse texto após assistir o clássico Noivo neurótico e Noiva nervosa. Desde já digo que achei um ótimo filme. A estrutura não-linear realmente se aproxima muito do que o cinema de vanguarda europeu andava fazendo, e as soluções narrativas encontrados são primorosas, merecendo todo o destaque e premiações que recebeu. Méritos também por ter conseguido fazer dessa obra, bastante livre e avançada, um sucesso comercial. Eu sempre admiro os artistas que conseguem inserir algo de inovador no circuito fechado da cultura pop - por isso considero os Beatles a grande banda do século XX. Aqui uma primeira discordância com a crítica, se bem que leve: mesmo nesse filme, tido como um dos mais engraçados do diretor, as piadas não são de morrer de rir, e muito por conta de certo direcionamento a que já irei comentar. Mas em todo caso, elas são muito inteligentes e realmente afiadas, funcionando a seu modo. Não acho ruim o fato de ser uma comédia engraçada, mas que faça mais pensar do que rir. Comento isso por ser um argumento comum entre os que detestam o cara. Que comédia é essa que não faz rir? Mas nesse caso eu acho que é meio injusto, porque Allen é antes de qualquer coisa – como todo bom egocêntrico - fiel a si mesmo, e o fato de seus filmes tenderem a comédia se deve a uma fidelidade a sua visão de mundo particular, cínica e amarga, que tende ao cômico. Suas histórias contêm também toques de trágicos, melancólicos, de romance, mas tudo isso é filtrado por seu olhar e sua perspectiva ácida. É como se o fato de serem engraçados fosse uma conseqüência a contrapelo de sua perspectiva, e não a razão de ser do filme. O título de comédia nesse caso, é meramente um rótulo.
Sendo um grande cineasta, ótimo roteirista, inovador e corajoso, qual é afinal o meu problema com o cara? Pois é justamente esse narcisismo, a exposição de um tipo de homem que eu não gosto. Allen mistura em um só tipo muitas coisas que eu detesto. A arrogância nada dissimulada de um americano, ou melhor dizendo, de um Nova Yorquino que se acha o centro do universo. Mesmo no interior de um arsenal de críticas, e que mostra muito bem as fraquezas daquele universo – o neurótico não é apenas Allen, mas toda a sociedade que ele está descrevendo – o clima geral (e que não se nega) é o daquela patética camiseta Eu (coração) NY. E ele sabe disso melhor que ninguém, e o quanto isso é patético. O machismo que faz com que considere as mulheres seres inferiores destinadas a satisfação sexual, mas com inteligência suficiente para considerar que elas vieram com defeito de fabricação, advindo daí grande parte de seus problemas – eu realmente torci muito pra que a Annie Hall se livrasse da influência perversa daquele cara. Um egocentrismo absolutamente irritante, que torna o mundo um universo povoado de idiotas (ele mesmo um deles) desinteressantes - mas que ao mesmo tempo pode ser fascinante – a girar em torno de seu umbigo. Em suma, a arrogância nada dissimulada de um pseudo-intelectual no reino podre do show bussines. Mesmo quando o diretor faz uma crítica mordaz (e isso o tempo todo) daquela postura arrogante e superficial dos membros de uma elite que adora Bergman e Antonioni, se reúnem em saraus para ler poesia e ouvir jazz (no Brasil, para ler poesia e ouvir Chico Buarque), como na cena excelente em que chama o próprio Marshal Macluhan para contestar um desses malas de fila de cinema cult que citou o próprio em um chaveco de embrulhar o estômago. Mas o fato de colocar um filósofo no meio de uma comédia para fazer uma piada indica o quanto o diretor (e novamente, ele sabe disso melhor que ninguém) compartilha desse universo pseudo intelectual e reproduz seus valores. Porque afinal de contas, todo intelectual que se preze tem que ironizar o seu próprio meio.
Não que eu ache que o artista tenha que buscar transcender seu próprio meio. Ao contrário, eu acho que isso é impossível de ser feito, e caso Allen decidisse fazer dramas proletários (para ser bem clichê) aí não teria a menor relevância. Ele é excelente em mostrar os dilemas de seu meio. Mas também não é pelo simples fato de eu detestar o universo em que ele se concentra que eu não gosto de seus filmes. Eu adoro de paixão o Machado de Assis, que foi absolutamente fiel ao meio aristocrático brasileiro do Segundo Império, em minha opinião uma das classes mais nojentas que já apareceram na história. E tanto foi fiel a seu ponto de vista que os escravos – tidos como algo menos interessantes que baratas – quase sequer aparecem. Entretanto (e essa comparação apesar de injusta com o Allen e algo forçada, serve bem para mostrar meu desacordo) um abismo se coloca entre os dois quando comparamos o olhar que conta a história. O narrador machadiano é o principal a ser denunciado em seus romances maduros, de modo que a validade de seu ponto de vista cai por terra. Ao passo de que Allen reconstrói suas histórias a partir de sua perspectiva... honestamente apresentada para ser criticada e julgada realmente, é verdade, mas ainda assim integralmente sustentada. Allen diz, essa merda toda fede, mas é isso aí que é, aceite ou vá caçar outra coisa e para de me encher. Machado diz, isso ta fedendo demais e não tem mais jeito, por favor Prudêncio, dê a descarga.
Em suma, o diretor mostra uma imensa coragem em se expor (coragem proveniente de uma imensa satisfação narcísica) transformando cinema em consultório, mas no fundo apenas para afirmar que está certo, que os outros são inferiores mesmo, que as mulheres existem para ser subordinadas, que ser intelectual é estar um passo além. Eu não gosto de gente assim, e portanto, não gosto de Woody Allen. Outro mérito seu, evidentemente, é conseguir passar essa impressão – fruto da ilusão cinematográfica, por mais fiel que seja – de que é ele por inteiro que está ali. Nem Fellini, nem Truffaut conseguiram ir tão longe nesse propósito. Vem daí a relação de amor e ódio que se tem com o cara. Não da pra ficar indiferente diante de uma personalidade que se afirma com tanta ênfase. Ou se ama ou se odeia.
A impressão final que me fica é que Allen cria obras para serem exibidas entre seus amigos de universidade, agora senhores distintos. Uma espécie de auto ironia cínica e ao mesmo tempo complacente. Somos mal caráter, usamos Bergman para comer as calouras, e amamos isso. Acho que ele é o diretor que faz o retrato mais honesto dos membros da intelectualidade norte americana, sob a ótica dos seus atores, com seus dilemas e contradições. E por conta desta que talvez seja sua maior qualidade, o que se apresenta me incomoda e desagrada. Afinal, não é comigo que ele está falando. Daí deriva aquele humor sem risos a que aludimos no início. As piadas têm graça, porém para um grupo determinado a quem elas se destinam. Pode-se argumentar que todo filme que foge do esquema de Hollywood sofre do mesmo problema, só sendo compreendidos ou apreciados por alguns iniciados. Mas o problema é diferente justamente porque Allen faz filmes comerciais, só que direcionados para uma determinada classe mais ‘refinada’ (leia-se, aqueles que sabem que Foucault era gay, ou que conhecem a circunstância da morte de Walter Benjami). Uma coisa é você colocar o Marshal Macluhan pra fazer uma crítica direta a um pseudo intelectual. Outra é você fazer o mesmo Macluhan dançar Tha tha tha só de sunga – Groucho Marx com certeza deve ter pensado nisso. Só mais uma comparação também injusta, observe que Fellini (o do Oito e Meio e A Doce Vida) também aborda o meio intelectual em que vive, suas angustias e seu vazio, mas para transformar aquele universo reduzido em uma dor que se torna a tragédia do mundo contemporâneo. Salto não realizado por Allen, que não escapa a seu gigantesco ego.

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O diretor blockbuster, maintrean, e outros termos gringos que indicam supremacia em vendas que eu adoro é... Steven Spielberg. Amo! E não o Spielberg careta, choroso, candidato a cult, e clichê que resolveu se levar a sério com filmes bonitinhos e dispensáveis (pela repetição) como A lista de Schindler, aliás, um bom filme. Nada disso. Eu amo o Spielberg das crianças e dos jovens (de todas as idades, como diz a propaganda), aquele que renovou totalmente a forma do cinema dito comercial (e qual não é? Não é somente porque um produto não vende que ele não é comercial) de narrar uma fábula. O cara é um dos maiores contadores de história do cinema. Ele fez aquele bicho horripilante que é o E.T ficar mais famoso que o Mickey - que por sinal, não é menos horripilante - e nos fez tremer de medo com tubarões e dinossauros. Ah... e ele tem o trenó do Cidadão Kane. Aliás, coerentemente, pois em certa medida ele é o próprio Charles Foster. Ele e o Michael Jackson (quando será que um grande diretor vai descobrir que pode reler toda a história do mundo contemporâneo a partir da figura do Michael? O cara é um símbolo pronto, é só pegar, agitar e usar). Mas de qualquer forma, o que o Spielberg quis mostrar com a Lista de Schindler já havia sido dito (e muito bem) em E.T e Contatos Imediatos, de forma muito mais divertida.
Engraçado né... acabei de meter o pau no Wood Allen por questões ideológicas, e exaltei agora o símbolo maior da industria cinematográfica norte americana. Pois é.. mas um é cult e o outro não, grande diferença, como preferir Roberto a Chico; tem coisas que icomodam mais que outras. Como sempre afirma nosso querido Falcão a seu guru Galvão Bueno, é preciso cobrar de um time que tem qualidade, e é inútil exigir muito quando o time é fraco. Não sou nenhum purista ou reacionário de esquerda pra achar que os preconceitos em geral não podem ser divertidos. O machismo é desejável em um filme – excelente - como Duro de Matar: imagine se o Maclaine fosse um homem sensível a questão das mulheres e coisa e tal. Mereceria tomar um tiro. Mesma coisa com o preconceito em Rambo ou o conservadorismo em filmes de terror: são muito bem vindos. Mas esses caras não querem debater nada, só querem atirar e explodir e estripar. Agora quando esses mesmo valores estão presentes em filmes mais complexos, em um cinema que se pretende contrario ao mainstream, esses direcionamentos ideológicos se tornam problema estético.

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E não percam no próximo capítulo: porque odeio o chatíssimo Tarkóvski e adoro José Mojica Marins. Nacionalismo indulgente ou fetiche por unhas?

Filmes com a Turma do Chaves

A turma do "nada pra fazer" dessa vez se superou e criou algumas novas obras primas do maravilhoso universo youtube. Para quem, assim como eu, é fã incondicional do Chaves, e até chorou quando o SBT voltou a transmitir o Chapolin, esse trailers de possíveis filmes montados a partir dos episódios da série estão simplesmente maravilhosos. Muito bem feitos, com carinho e cuidado de quem é fã realmente. Parabéns pros meninos, e pra mim o oscar tem que ir pro filme protagonizado por um dos maiores talentos cômicos da América Latina, aqui nos revelando todo seu talento dramático.

Madruguinha, uma lição de vida





A invasão





Terror na Vila