segunda-feira, 30 de julho de 2007

MAUS




"A segunda guerra mundial, um dos tantos marcos cruéis na história da humanidade, rende, até hoje, estudos, livros, ensaios e filmagens. Porém, um dos mais marcantes e verdadeiros relatos do que aconteceu em meio à tragédia que teve início na Alemanha foi apresentado ao mundo na forma de uma história em quadrinhos. Maus, de Art Spiegelman, publicado no Brasil pela Editora Brasiliense, em duas partes (formato livro), nos traz um impressionante relato da trajetória de um Judeu em meio à guerra".




"O judeu em questão é o pai do autor, que é apresentado na história já como uma pessoa de idade, narrando ao filho sua passagem pela guerra. Portanto, o livro é baseado em fatos reais, um relato detalhado, minucioso até, que nos apresenta tudo em detalhes, inclusive a personalidade das pessoas envolvidas, principalmente do protagonista, mesquinho, avarento e racista, embora inteligente, perspicaz, dotado de uma intuição fantástica e, principalmente, de muita, muita sorte".



Pessoalmente, o que marcou muito a leitura de Maus foram duas coisas:
1º Existe um momento que nos comovemos com a história, porém a tristeza não é oriunda do sofrimento do holocausto, mas sim de uma informação passada de mameira simples, que nos faz perceber a ligação com a obra, justamente no momento em que passamos do volume 1 para o volume 2.
2º Em muitos momentos, vemos o confronto de visão entre pai (aquele que [sobre]viveu no meio de uma guerra) e era de se esperar(?) um relato "real" - talvez não, devido ao filtro dos sentimentos - e a visão do filho, já nascido em outro momento, mas com a informação sobre a guerra já filtrada pelo discurso histórico.

"Em Maus, mais que os desenhos, o que salta aos olhos é o roteiro. Os personagens são muito bem caracterizados, têm vida própria, pulsante. É difícil permanecer indiferente à leitura desta obra. A crueldade dos fatos é gritante, machuca, incomoda. A qualidade com que o autor associa texto e imagens é tal, que é impossível não imaginar na própria pele a dor, a angústia, o medo e o terror impostos pelos nazistas.

A caracterização dos personagens é um capítulo à parte. Os judeus são retratados como ratos, os alemães como gatos, os americanos como cachorros e os poloneses como porcos. Isso não diminui a grandeza da obra. Pelo contrário! Aumenta ainda mais, pois, além da originalidade, torna a leitura ainda mais fluente. Outro mérito é o humor, muitas vezes ácido e corrosivo, mas sempre inteligente.

Os personagens secundários, alguns com passagens relâmpagos pela história, são marcantes. São diversos fatos ocorridos ao redor do protagonista, em toda sua caminhada no decorrer da guerra. Homens, mulheres, velhos, jovens e crianças, todos jogados a um destino incerto e quase sempre terrível, tentando, de todas as maneiras, possíveis e impossíveis, buscar a sobrevivência através da esperança, uma esperança vã, que não resiste à certeza dos fatos. E a única certeza, para as vitimas dessa guerra, era a morte.

Spiegelman foi procurado por diversas vezes com propostas para transformar a obra em filme, porém recusou-se. "Não entendo porque em nossa cultura ninguém parece acreditar que algo não é real, até que seja transformado em filme", declarou. Em sua opinião, Maus encontrou seu formato ideal nos quadrinhos".

fonte: www.universohq.com/quadrinhos/maus.cfm


link para download da obra completa: Clique aqui!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

O que é música pop? Tratado definitivo.

Nossos milhares de leitores diários tem cobrado insistentemente de seus colunistas o esclarecimento de alguns conceitos do qual eles discordam, ou simplesmente não entendem. Uma delas é o conceito de ‘música de preto’, tão constantemente aludido. Resolvi, não obstante, tratar de um outro, menos óbvio: o de música pop. Não sei o que pensam os demais editores de tão respeitável órgão de comunicação, mas tenho a honra de aqui compartilhar minha opinião pessoal a respeito do tema, agradecendo desde já a colaboração de alguns eminentes professores universitários que preferiram ficar incólumes, mas que com certeza já foram lidos pelos senhores, sendo no mínimo embaraçoso caso eu esteja equivocado – não para mim, evidentemente.

Acredito que só dá pra falar que algo é Pop por comparação. Chico Buarque é mais pop do que Tom Zé, que por sua vez é mais pop do que Xenaxis. E isso não tem a ver – diretamente, porque de forma indireta tem tudo a ver - com o sucesso alcançado por esses artistas, e muito menos com o valor artístico de cada um. Pop pra mim é uma espécie de instrumento de medida, que verifica o grau de proximidade de determinado artista (ou obra) em relação à um padrão, variável de acordo com cada caso. Dessa forma, o pop deixa de ser um conceito fixo, adquirindo funcionalidade a partir das relações concretas que se pretende estabelecer. Algo pode ser pop em relação a uma coisa e experimental em relação a outra, ou ser pop em um momento e deixar de ser em outro.

O legal dessa ideia é que eu posso estabelecer comparações sem noção, por exemplo, falar que Mozart é musicalmente mais pop que Jorge Ben. Outra vantagem é que a realidade (ao menos em princípio) não se subordina à um conceito pré determinado, ao menos tempo em que se evita o impasse de não conseguir criar conceitos a partir de uma realidade dinâmica. Pode até parecer meio estranho, mas de fato a gente vê isso a toda hora. Por exemplo, a noção de raça, que só faz sentido dentro de cada contexto específico, mudando de sentido a todo momento. É impossível tirar uma definição de raça que elimine a ambiguidade concreta, mas se você quiser saber quem é preto é só colocar dois manos na frente de um policial e perguntar em quem ele gostaria de atirar primeiro. O conceito é variável e extremamente móvel, mas existe e passa bem, obrigado.

Tendo isso em vista, dá pra dividir a música em pop e experimental, mesmo que seja só um lance subjetivo. Pensando em relação à música Ocidental pós indústria fonográfica, (acabo de criar uma sigla nova M.O.P.I.F) experimentais são as que se afastam do padrão de mercado (de novo sem juízo de valor), ou do padrão cultural predominante – por exemplo, a noção de tonalidade, ou uma certa concepção rítmica e harmônica. A música de concerto ‘contemporânea’ (Ligetti) pega essas concepções e tenta negá-las uma a uma, mais ou menos como Godard tenta fazer com o cinema hollywoodiano. Já um canto ritual da tribo Bororo se afasta do padrão Ocidental por seguir uma lógica anterior (ou paralela, mas com outra base) à modernidade (que é capitalista, branca e muito macho).

A música pop, por sua vez, é a que se aproxima do que se afasta a experimental. Dentro dela, milhares de subdivisões e elementos complicadores. Geralmente eu costuma pensar a música pop de qualidade dividindo-a em duas vertentes. Uma que pela mescla com elementos heterogêneos, ou por trabalhar de forma diferenciada com algum aspecto musical, seja lá qual for, se aproxima do experimentalismo, sem deixar de conter elementos pop (as pirações da Tropicália, ou do Krautrock alemão, Tom Zé, Itamar Assumpção, Nação Zumbi ou, em outra linha, os filmes do Kubrik). E outra, o pop-pop mesmo, que trabalha com os padrões mercadológicos sem forçá-los, mas realizado por artistas muito competentes, que conseguem trabalhar com aquela linguagem de modo a levá-la a um grau de excelência elevado.

É claro que dentro dessas categorias tem muita porcaria, mais aí eu chamo de música ruim mesmo, apesar de que mesmo entre os ruins há diferenças qualitativas. Mil vezes um Axé ruim que um Jazz pau mole.

Pra complicar, nem toda música de mercado é pop, ou pode ser pop pensada sob um aspecto, e não sob outros . E em outros momentos ainda, a divisão entre pop e não pop não serve absolutamente para nada.

Tudo isso pra falar que esse disco do Jamiroquai se enquadra na categoria pop-pop de ótima qualidade (além do que a base é música de crioulo, e aí já viu).




http://rs19.rapidshare.com/files/2583311/Jamiroquai_-_Travelling_Without_Moving__1996_.zip