tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post7917266170315956995..comments2023-10-30T11:02:10.893-07:00Comments on Melhor escapar fedendo do que morrer cheiroso: Da inutilidade da crítica na canção popular.Unknownnoreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-37602330857590772202011-02-08T14:32:58.649-08:002011-02-08T14:32:58.649-08:00Agora, pelo que entendi dos pressupostos do seu qu...Agora, pelo que entendi dos pressupostos do seu quinto parágrafo, eu concordo com tudo que voce falou. Primeiro que eu nem acho que de fato a crítica vai aprender com os critérios da periferia, porque isso pressupõe que a fratura social seja superada. E como eu disse, concordo com a leitura do Schwarz e cia limitada de que assim, de graça, não vem. De novo, eu não discordo dessa leitura, pelo contrário. A canção se constituiu a partir dessa fratura. Mas a sua estrutura mobiliza outro princípio, diverso do literário. A meu ver, o Sujeito não é seu ponto de partida, e isso muda tudo. E mesmo que a crítica incorpore esses critérios, o abismo social vai continuar existindo - diferente, sem dúvida, e a meu ver mais interessante, mas isso é porque eu prefiro a Ivete ao Chopin... rs<br /><br />Não achei que tivesse deixado essa ambiguidade, mas se deixei, desfaço já: a incoporação dos critérios marginais pela crítica não implica em uma democratização de fato. Essa fusão democracia social, política e cultural não era pra estar no texto, e espero que não esteja. Sou althuseriano de carteirinha: base é base, superestrutura é superestrutura. Agora, tem uma cobrança no texto pra rever os valores da crítica, isso tem sim. Mas sem ilusões, é pro bem dela mesma, e não do povão - assim como a crítica de teor marxista no Brasil, que pra academia fez um bem danado, já pra galera... E nem é mesmo uma cobrança, no fundo, é mais uma cutucada "antropológica": em termos de canção, minha mãe entende mais disso que os doutores e músicos profissionais, e não é em termos de sabedoria de vida, mas de conhecimento estrutural da coisa. A crítica (que faz parte, como a literatura, do sistema alta cultura) não escapa do descompasso. Já a canção, o re-elabora em termos bem diferentes.<br /><br />Abraçosacauã:pássarohttps://www.blogger.com/profile/08723836314337305159noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-5566226767354893472011-02-08T14:32:35.748-08:002011-02-08T14:32:35.748-08:00Começando pelo fim... discordo um pouco quando vc ...Começando pelo fim... discordo um pouco quando vc fala da necessidade de domínio harmônico pra fazer canção. A maioria dos sambistas, os compositores, não dominam ou dominam pouco, assim como outros estilos. Dominam sim, mas nada comparável a um jazzista, ou a um Bossa Novista. Mesmo Caetano faz música com 4 acordes. Depois, é claro, vem os caras fodões. Ainda sim, a MPB não é a regra. Concordo com o Tatit, pra fazer canção voce pode ser analfabeto de pai e mãe, musical e textual - o exemplo do Cartola é bom nesse sentido. Ainda acho que a fala explica mais, a relação de fala com a melodia - nisso está a diferença mais decisiva com a música. É claro que tem os caras que dominam e aí criam harmonizações, mas não são as leis harmonicas que imperam e determinam os avanços da forma, não é pelo desenvolvimento harmônico que se explica a canção. Se fosse assim, Noel não existiria, nem Jorge Ben, nem Ari Barroso, nem Caymmi. <br /><br />Já o ritmo eu concordo, mas eu coloquei no texto, a contrametricidade ritmica determinando a forma. O pertencimento a tradição também é uma questão importante e determinante, mas a própria ideia de "comunidade" aponta para um outro modelo, que passa por outros critérios contrários aos do sujeito reflexivo.<br /><br />Agora o outro ponto: a minha questão não é a democracia da crítica. Nem sei se eu usaria esse termo,democracia, eu diria algo como organicidade. Eu não acho que "o fato de a apreciação da canção não seguir os mesmos ditames da crítica de artes garante seu potencial democrático". O que garante seu potencial a meu ver - acho isso por enquanto - é um afastamento do modelo de autonomia estética na esfera da produção. É essa capacidade que torna possível critérios de apreciação mais "democráticos", nos seus termos. O modelo canção está baseado por aproximação com os critérios do público, não no afastamento - não que não tenha contra-exemplos, mas estão anos-luz de constituir a regra. <br /><br />Ninguém entende que Drummond é um gênio. Todo mundo entende que o Gonzagão é um gênio. O que explica esse fenômeno? Imposição mercadológica? Isso explica porque ele vendeu nos anos 50, deixou de vender nos 70 e voltou dos 90 em diante. Mas não explica o reconhecimento da sua força pelo grande público. O que explica isso, exatamente? Tem todo o marketing e coisa e tal, mas tem mais. E eu acho que é uma maior organicidade do sistema, que não passa diretamente pelo sistema de importações descrito por Schwarz. Eu nego o descompasso na canção - e não que eu negue o descompasso em si, que isso fique bem claro - a princípio porque a canção não se pauta pela subjetividade autônoma. Ela cria um outro princípio de organização estrutural. Não sem embate e conflitos, mas cria. Um exemplo disso é a contribuição negra direta na canção (cujo Sujeito é completamente diferente do Ocidental), na constituição da forma, e a contribuição negra na literatura, que existe também, só que negativamente, e nem esta perto de ser determinada pela crítica.acauã:pássarohttps://www.blogger.com/profile/08723836314337305159noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6817253731675827221.post-27520711049921779752011-02-08T09:26:47.610-08:002011-02-08T09:26:47.610-08:00Como sempre seu post tem inúmeras qualidades na ma...Como sempre seu post tem inúmeras qualidades na maneira de colocar o problema. Mas fiquei com uma coisa na cabeça. <br /><br />Será que só o fato de a apreciação da canção não seguir os mesmos ditames da crítica de artes garante seu potencial democrático?<br />O que esse tipo não especializado de crítica tem de democrático, a não ser o fato de estar alijado da crítica qualificada (mas nem tanto, desde o tropicalismo) e estar em relação imaginariamente bitransitiva com a publicidade? <br /><br />Enfim, no seu texto, parece que, no gosto pessoal por formas de música não prestigiosas, identificado a um domínio limitado de formas de canção, se esconde um critério de apreciação musical que até agora não teve chance de ser formulado só porque a crítica domina o campo correlato de prestígio, com seus preconceitos. <br /><br />Isso, por sua vez, cria uma inclinação ao ânimo democrático da descoberta, mas que, me parece, está mais em função de negar a ideia do descompasso entre subjetividade autônoma e vida social pautada pelo favor como algo válido para a esfera da canção do que a precisar o teor crítico que existe ali (e por que). <br /> <br />Que a crítica institucional tenha que baixar a bola e aprender com isso, eu não tenho dúvidas. Agora, o quanto isso pode contribuir para que a canção seja apreciada numa esfera pública, discutida em seus pressupostos díspares, gerando ideias e novo alimento para a produção de acordo com as aspirações das pessoas? Ou seja, em se legitimar o gosto popular, o ganho é de quem? Das pessoas (da democracia, da cultura como algo que pertence às pessoas) ou da instituição? Como disso nasce uma ideia de crítica diferente da institucional, pautada por aquele conhecido descompasso? <br /><br />Outro ponto, também relacionado ao ânimo democrático com a canção. Por mais que seja atraente a construção teórica do Tatit (que não conheço bem), não é verdade que só é preciso dominar a prosódia da língua para fazer canções. Até muito pouco tempo atrás, sem o sampler, etc., era preciso também dominar harmonia e rítmo num código estritamente estabelecido. Além disso, o apelo da canção sempre teve a ver, no Brasil, com a obrigação de pertencimento a "tradições" como a do samba. O cara fazia uma marcha "errada", ela não ia fazer sucesso na comunidade, não ia ser abraçada por um compositor local, não receberia instrumentação, etc.<br /><br />Cade a democracia aí? É a esfera culta excluindo de um lado e o campo minado da tradição local excluindo de outro...<br /><br />Enfim, tudo isso vale se eu entendi certo que seu texto se alimenta de uma ideia de crítica mais democrática, sei lá...<br /><br />Abraço, <br />ViniAnonymousnoreply@blogger.com